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São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2003

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FUTEBOL

Futebol Xuxa

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Do jeito que as coisas caminham não seria de se descartar a possibilidade de o Brasil vir a promover de uma vez as categorias de base como principal atrativo do futebol local. Houve um tempo em que os então "juvenis" faziam as preliminares dos profissionais. É para isso que caminhamos: sermos o aperitivo dos europeus. Ficamos com as preliminares, e eles, com o prato principal.
Reportagem da Folha no domingo constata um impressionante aumento da presença de meninos com menos de 20 anos nos times principais. É o futebol Xuxa! O futebol dos baixinhos. O sociólogo Gilberto Vasconcellos, num de seus livros-relâmpagos, já havia, anos atrás, lançado a tese de que o "Show da Xuxa" e congêneres vieram para substituir a escola e antecipar a maturidade e a erotização de baixinhos e baixinhas. A menstruação precoce, poderia ser, na polêmica visão do sociólogo, um efeito a ser produzido por esse fenômeno televisivo.
No futebol Xuxa é o êxodo de jogadores para outros países que promove a maturidade precoce. Meninos que ainda deveriam estar amadurecendo nas divisões de base são abruptamente promovidos a estrelas do show principal. No Brasil, mais de cem baixinhos -com menos de 20 anos- já atuaram no Nacional. No Espanhol, menos de uma dezena deles aparece inscrita.
Revelar jovens talentos não chega a ser uma tarefa tão difícil num país que produz milhares de candidatos a craques. Selecioná-los e aperfeiçoá-los é talvez uma das poucas coisas que nossos clubes fazem com eficiência, já que não têm dinheiro para comprar e estão ávidos para vender.
A propósito, já existe um mercado razoável nas categorias inferiores, com contratos, vendas e tudo o mais. É o futebol Xuxa se aperfeiçoando e candidatando-se a prato principal...
 
Enquanto isso, começa a temporada européia, cujo maior destaque é, indiscutivelmente, o Real Madrid. Trata-se de uma seleção mundial, um timaço, desses que de tão bom correm até o risco de decepcionar. Reuniões de estrelas desse porte têm um lado perigoso: uma fase ruim, desavenças entre astros ou brigas por posição podem levar a maus resultados. E maus resultados em equipe desse porte são praticamente inaceitáveis. Tomara que nada ocorra e que o Real possa brindar os amantes do bom futebol com grandes lances e partidas.
 
A convocação de Parreira foi, de um modo geral, boa, apesar da ausência do zagueiro Alex e da presença de alguns jogadores que na atual fase do futebol brasileiro já deveriam estar sendo descartados. Creio que a novidade implantada pela Fifa, fazendo com que a seleção campeã do mundo seja obrigada a disputar as eliminatória, acabará sendo benéfica para o Brasil. Ao longo da disputa vai-se temperando o time, formando o grupo, testando soluções, o que facilita bastante a definição da equipe para a Copa.

Bola ao cesto
Basquete é assunto do Melchiades, aqui ao lado. Mas vou dar um palpite. Tem-se muitas vezes a impressão de que, nesse esporte, o perdedor poderia ter vencido, já que os resultados são frequentemente apertados. Digo isso, porque a seleção brasileira masculina no Pré-Olímpico de Porto Rico perdeu de pouco partidas fundamentais, ficando a idéia de que deu "azar", "bobeira" ou "amarelou". O que faz a diferença entre equipes de alto nível é exatamente isso: dar menos "azar" e menos "bobeira". Ser mais regular e, em resumo, saber vencer. E isso a seleção brasileira não soube. Decretar, no entanto, que o time apenas "amarelou" já é um pouco cruel. O resultado não foi apenas dos jogadores, que são jovens e têm futuro.

E-mail mag@folhasp.com.br


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