|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
Futebol Xuxa
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Do jeito que as coisas caminham não seria de se descartar a possibilidade de o Brasil vir
a promover de uma vez as categorias de base como principal atrativo do futebol local. Houve um
tempo em que os então "juvenis"
faziam as preliminares dos profissionais. É para isso que caminhamos: sermos o aperitivo dos europeus. Ficamos com as preliminares, e eles, com o prato principal.
Reportagem da Folha no domingo constata um impressionante aumento da presença de
meninos com menos de 20 anos
nos times principais. É o futebol
Xuxa! O futebol dos baixinhos. O
sociólogo Gilberto Vasconcellos,
num de seus livros-relâmpagos, já
havia, anos atrás, lançado a tese
de que o "Show da Xuxa" e congêneres vieram para substituir a escola e antecipar a maturidade e a
erotização de baixinhos e baixinhas. A menstruação precoce, poderia ser, na polêmica visão do
sociólogo, um efeito a ser produzido por esse fenômeno televisivo.
No futebol Xuxa é o êxodo de jogadores para outros países que
promove a maturidade precoce.
Meninos que ainda deveriam estar amadurecendo nas divisões
de base são abruptamente promovidos a estrelas do show principal. No Brasil, mais de cem baixinhos -com menos de 20
anos- já atuaram no Nacional.
No Espanhol, menos de uma dezena deles aparece inscrita.
Revelar jovens talentos não chega a ser uma tarefa tão difícil
num país que produz milhares de
candidatos a craques. Selecioná-los e aperfeiçoá-los é talvez uma
das poucas coisas que nossos clubes fazem com eficiência, já que
não têm dinheiro para comprar e
estão ávidos para vender.
A propósito, já existe um mercado razoável nas categorias inferiores, com contratos, vendas e tudo o mais. É o futebol Xuxa se
aperfeiçoando e candidatando-se
a prato principal...
Enquanto isso, começa a temporada européia, cujo maior destaque é, indiscutivelmente, o Real
Madrid. Trata-se de uma seleção
mundial, um timaço, desses que
de tão bom correm até o risco de
decepcionar. Reuniões de estrelas
desse porte têm um lado perigoso:
uma fase ruim, desavenças entre
astros ou brigas por posição podem levar a maus resultados. E
maus resultados em equipe desse
porte são praticamente inaceitáveis. Tomara que nada ocorra e
que o Real possa brindar os
amantes do bom futebol com
grandes lances e partidas.
A convocação de Parreira foi, de
um modo geral, boa, apesar da
ausência do zagueiro Alex e da
presença de alguns jogadores que
na atual fase do futebol brasileiro
já deveriam estar sendo descartados. Creio que a novidade implantada pela Fifa, fazendo com
que a seleção campeã do mundo
seja obrigada a disputar as eliminatória, acabará sendo benéfica
para o Brasil. Ao longo da disputa
vai-se temperando o time, formando o grupo, testando soluções, o que facilita bastante a definição da equipe para a Copa.
Bola ao cesto
Basquete é assunto do Melchiades, aqui ao lado. Mas vou dar
um palpite. Tem-se muitas vezes a impressão de que, nesse
esporte, o perdedor poderia ter
vencido, já que os resultados
são frequentemente apertados.
Digo isso, porque a seleção brasileira masculina no Pré-Olímpico de Porto Rico perdeu de
pouco partidas fundamentais,
ficando a idéia de que deu
"azar", "bobeira" ou "amarelou". O que faz a diferença entre
equipes de alto nível é exatamente isso: dar menos "azar" e
menos "bobeira". Ser mais regular e, em resumo, saber vencer. E isso a seleção brasileira
não soube. Decretar, no entanto, que o time apenas "amarelou" já é um pouco cruel. O resultado não foi apenas dos jogadores, que são jovens e têm
futuro.
E-mail mag@folhasp.com.br
Texto Anterior: Basquete - Melchiades Filho: Recruta zero Índice
|