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ELE DESFAZ A OLIMPÍADA
Indiano comanda 365 pessoas no desmanche da Olimpíada; ao chão irão a arena da praia de Bondi e parte de ginásios e estádios de Sydney
Thomas, o demolidor
RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY
Enquanto as delegações olímpicas contabilizam seus ouros, pratas e bronzes, o indiano Anand
Thomas está mais preocupado
com um metal bem menos precioso: 500 toneladas de aço.
Essa é a estrutura da arena do
vôlei de praia em Bondi, e Thomas comanda desde a última
quarta-feira sua demolição.
""Já que a torcida brasileira não
derrubou depois das finais, eu
vou fazer isso por ela", brinca.
A construção da arena demandou 112 dias e 625 operários. Sua
desconstrução será mais econômica: 35 dias e 365 trabalhadores.
""Desmontar é fácil porque você
pode quebrar as coisas. Para erguê-la, foi preciso mais cuidado",
diz o mestre-de-obras.
Todos os ginásios e estádios em
Sydney vão sofrer remodelações.
Depois da arena de Bondi, a mais
drástica é a do Dome, onde aconteceram as partidas de basquete e
handebol. Suas tribunas estão
sendo totalmente retiradas para
que aquilo se transforme em um
pavilhão de eventos.
As mudanças só não serão mais
rápidas porque muitos locais vão
ser usados durante a Paraolimpíada, que acontece na cidade entre os próximos dias 18 e 29.
A partir de novembro, porém,
os prédios serão gerenciados por
empresas concessionárias que
ajudaram na sua construção. A
administração do Parque Olímpico passa totalmente às mãos do
Estado de Nova Gales do Sul, cuja
capital é Sydney, em 2020.
Só o estádio Olímpico custou R$
760 milhões e demorou 32 meses
para ser construído.
As estruturas da arena de Bondi
e do Dome não ficarão nem na
Austrália. Elas serão embarcadas
em um navio e levadas de volta
para a Suíça, já que a empresa fornecedora é vizinha à sede do Comitê Olímpico Internacional.
""A Olimpíada é como um circo:
aparece, diverte as pessoas e depois vai para outra cidade", define
Thomas.
A edificação da arena do vôlei
de praia foi especialmente traumática. Os frequentadores de
Bondi tentaram barrar os tratores
se enterrando na areia e brigaram
com a polícia. A principal queixa
era o impacto das obras na praia
estreita e inclinada.
""Não era um problema nosso.
Fomos contratados para construir e fizemos o trabalho", diz.
Para aplanar a área, foram removidos 6.000 metros cúbicos de
areia. Foram cravadas 316 vigas
de aço no local, que depois foi rodeado por 3,7 quilômetros de cerca. Tudo isso está desaparecendo
e Bondi está voltando a seus frequentadores habituais: surfistas
de barbicha, hippies de butiques e
adolescentes asiáticos.
""Outra razão da pressa em demolir é que o verão está chegando
e temos de dar lugar aos banhistas", afirma Thomas -a construção foi durante o inverno, quando
ninguém tem coragem de enfrentar o frio Mar da Tasmânia.
As autoridades esperam que o
turismo no país aumente com a
divulgação trazida pelos Jogos.
Neste ano, a expectativa é o
crescimento de 10%, chegando a
2,7 milhões de visitantes -a
maioria formada por neozelandeses, japoneses e coreanos.
A Austrália, porém, quer atrair
os turistas norte-americanos e europeus, se vendendo como um lugar com muito mais a oferecer
que cangurus e coalas.
Os australianos acreditam que
causaram uma boa impressão nos
estrangeiros. O jornal ""The Australian" chegou a publicar uma
página inteira só com os comentários de dirigentes e jornalistas
sobre a cidade.
""O COI tem de tornar Sydney a
sede permanente da Olimpíada.
Não há cidade no mundo que se
adapte melhor aos Jogos", disse o
comentarista do canal norte-americano CNN Rick Reilly.
Sydney-2000 acabou ganhando
o rótulo de ""Smiling Games" (em
português, os Jogos Sorridentes),
pela simpatia local -mais um
crédito para sua vocação turística.
A mesma atração que sofreram
os visitantes olímpicos atingiu
Thomas, 38, para deixar a Índia e
migrar para Sydney. Ele chegou
em 1995, com mulher e filho.
Thomas só volta de férias para
sua cidade natal, Bangelore, no
sul da Índia. É para lá que ele vai
no Natal, após terminar seu serviço olímpico, que começou em janeiro último.
O indiano já se considera um
australiano. Adotou a religião
protestante e torceu pelo país-sede na competição. ""O momento
mais emocionante foi quando a
bandeira da Austrália foi hasteada
com o hino", afirma.
Seus subordinados são todos
australianos. O trabalho deles começou retirando os adereços (flores, pôsteres, placas e bandeiras),
passou pela fiação e encanamento
e agora está em desencaixar as peças da estrutura.
""Eu só vi a Olimpíada pela TV.
O ingresso estava muito caro. O
máximo que fiz foi ir ao pub perto
de casa, porque eles fizeram uma
promoção de dar cerveja grátis
quando a Austrália ganhava uma
medalha de ouro", diz o operário
George Salisbury.
Salisbury e Thomas não terão
tempo de comemorar nos próximos dias. Serão jornadas de dez
horas diárias de trabalho.
""Fica a sensação de que deu tudo certo", afirma Thomas.
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