São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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FUTEBOL

O homem da CPI na Câmara

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Aldo Rebelo virou figura nacional quando presidiu, com firmeza, a CPI da CBF/Nike, razão pela qual é possível que sua vitória na Câmara Federal não tenha sido do agrado da cartolagem. Seu livro, em parceria com o deputado tucano Sílvio Torres, esmerado relator da mesma CPI, está até hoje proibido por liminar da Justiça carioca, medida pedida pelo presidente da CBF.
É verdade que da CPI para cá muita coisa mudou.
Até mesmo as relações da CBF com o governo federal, que, de formais que eram, passaram a ser estreitas, vide Haiti x Brasil.
Mas voltemos a Rebelo.
A notoriedade que alcançou como alguém dedicado a limpar o futebol brasileiro resultou em 50% de crescimento na votação que recebeu em 2002.
Sei que o Cony, o Janio e o Rossi rirão de mim, como cansaram de rir durante a Copa de 1998, porque eu acreditava que o país melhorava. É que, ateu que sou, acho que devo acreditar em alguma coisa, nas pessoas, ao menos, como primeira atitude. Depois, se mentirem, se delinqüirem, é claro, a confiança acaba.
Quero acreditar firmemente que o nebuloso mundo do futebol terá em Rebelo um obstáculo aos seus projetos. Já bastam as ótimas relações da CBF com Renan Calheiros, presidente do Senado, ou com o ex-presidente da República, José Sarney.
Poucos brasileiros conhecem tanto os bastidores de nosso futebol como Rebelo. Diga-se desde já que ele é, ideologicamente, contra, por exemplo, o futebol-empresa. Um equívoco, mas uma posição sincera e desinteressada.
Diga-se, ainda, que há um complicador em suas relações com o futebol: seu companheiro de PC do B, Agnelo (cordeiro, em italiano, como bem sacou Marcos Augusto Gonçalves, que já faz falta neste espaço) Queiroz.
Não bastassem as últimas trapalhadas do Ministério do Esporte, envolvido com liberações irregulares de verbas, eis que Queiroz não poderia ser mais subserviente aos cartolas, de todos os esportes.
Ainda assim, confio em Rebelo, em quem votei em 2002.
E espero que um projeto como a Timemania, "o mensalão do futebol", não seja aprovado sem as devidas contrapartidas de mudança de modelo de gestão e de responsabilização dos dirigentes.
Como espero que ele atue para impedir que o Estatuto do Desporto, quando vier, não signifique o retrocesso que está sendo engendrado pela vanguarda do atraso, para estuprar o Estatuto do Torcedor e a Lei de Moralização.
Se precisasse de mais algum argumento, eis aí, de novo, nosso futebol sacudido por escândalos que, é claro, estão muito além de um ou outro árbitro malandro.
Há quem diga que a polaridade direita/esquerda acabou, assim como a entre o bem e o mal.
Por menos que possa admitir publicamente (a política real, essas coisas...), Rebelo sabe que não é bem assim. E que, se há um setor da vida nacional que clama pela ruptura, com apoio geral e irrestrito da opinião pública nacional, este é o futebol.
Que Aldo Rebelo volte a fazer a sua parte.

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