São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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XICO SÁ

Rio Babilônia 2016


Até o corvo Edgar, muitas vezes agourento, cricri e antipatriótico, sucumbiu ao apelo pelos Jogos no Rio

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, até o corvo Edgar, agourento, cricri e antipatriótico na maioria das vezes, sucumbiu ao apelo carioca e brasileiro, com direito a um particularíssimo lobby de uma Tereza da praia, claro, pois nunca caiu em papo de autoridade.
O maldito leu o Cony logo cedo e grasnou: "É Rio-2016 na cabeça".
Para completar a aposta, arriscou a milhar no jogo do bicho, dezena no grupo da borboleta, alvíssaras, é um inseto que traz sorte e bonança.
Tudo bem, seu amo preferia que a Olimpíada fosse no Crato, Juazeiro e Barbalha, com esportes mais radicais em Nova Olinda e Santana, no vale do Cariri, a maior reserva de fósseis de pteroussauros gigantes do mundo. Que seja feita a vontade de São Sebastião do Rio de Janeiro, uma chance, quem sabe, para torná- -la mais pacífica, digna etc.
Mal o cronista ensaia bondosa sociologia de quinta e o corvo, que não suporta a crença banal na existência, acunha: ""Fala sério, se der para melhorar essas coisas, tudo bem, aceito, mas sou Rio por tudo que já tem de bom por lá hoje, inclusive a sacanagem; sem piedade, Senhor, sou Rio pela festa, pelo Rio Babilônia, como no filme de Neville D'Almeida".
Tento outros argumentos, leio o Kfouri em voz alta, com quem ele sempre fecha quando o tema é cartolagem e CBF, mas não tem acordo. ""Ah, se for para fazer no Brasil quando deixarem de roubar por completo, jamais veremos a pira olímpica acesa, meu rapaz", diz. ""Vai dizer que na terra do Al Capone roubam menos?!", indaga a ave de rapina.
O lobby da moça, bem-aventuradas sejam as moças, amigo Antônio Joaquim Maria Ferreira dos Santos, foi poderoso. Insisto, digo que Tereza é da praia, não é de ninguém, ainda mais de bicho tão feio. Não cola, Edgar caiu no feitiço da nega, derretido qual manteiga, que benfazejo.
Aliás, foi visto ontem no Leblon, disfarçado de ganso em uma pintura do Nilton Bravo, aquela do bar Jobi, velho Paiva, manja? Quem te viu, quem te vê, agourento, tu que não saías do Sabor da Morena, ali escondidinho em Botafogo, teu beco de fomes e manguaças.
Sim, em alguns pontos não discordamos, corvo, sei que também preferes o Sérgio Sant'Anna, pena afiada da prosa universal do Rio. Acontece, amigo, que lobby é lobby, em Copenhague não bastaria o nosso maior escritor no momento, teria que ser um mago, um místico, uma entidade, o homem que obrou o milagre de ser lido no mundo inteiro, fenômeno muito maior, em certo sentido, do que o Ronaldo, afinal de contas não é mistério um brasileiro triunfar jogando bola. Além disso, o Sant'Anna não poderia sair das Laranjeiras. A gravidade da hora tricolor -é mais Fluminense que o Gravatinha e todos os frequentadores do Serafim- o impede. Antes a permanência heroica na Série A do que todas as piras greco-cariocas.
Só um detalhe intrigou o Edgar. A rápida cena do filme oficial da candidatura aos Jogos. Que passa, miserável? O corvo faz um suspense digno do filme ""Os Pássaros", de Hitchcock, e responde: ""Ao apresentar o Maraca, a fita exibe as bandeiras do Botafogo". Ué, qual problema?, rebato. ""Prefiro não responder agora, tomara que não signifique nada", o bicho diz ao telefone e permanece no Rio para a possível festa.

xico.folha@uol.com.br


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