UOL


São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

É chegar e le(a)var!

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Roman Abramovich, incrível, não é um fenômeno isolado no futebol mundial. O magnata russo que balançou as estruturas da bola ao adquirir o Chelsea e inchá-lo de craques sem se preocupar com gastos é o reflexo da realidade atual do esporte.
Os clubes estão desesperados atrás de dinheiro, e alguns turbinados empresários usam o futebol para livrar a cara. Depois de Roman, a Inglaterra especula que Vladimir Potanin, outro russo bilionário à custa do petróleo, tome, pelo menos em parte, conta do forte Arsenal, rival do Chelsea.
O que será dito se dois tradicionais times londrinos ficarem nas mãos de dois ""jovens" executivos da Rússia (Roman, 36 anos, e Potanin, 42)? Lavagem de dinheiro.
Mikhail Khodorkovsky, o maior dos reis do petróleo russo, teve suas ações bloqueadas pela Justiça de seu país nos últimos dias. Especula-se que outros magnatas russos do setor, grandes beneficiários da onda de privatizações pós-União Soviética, também são alvos do presidente Vladimir Putin.
O rico futebol inglês, vendo as ações de seus clubes em baixa, é presa fácil para investidores estrangeiros, especialmente os que querem loucamente tirar dinheiro de seu país. O Leeds acaba de anunciar a quebra de um recorde: foi o time que teve o maior prejuízo da história da Premier League em um ano ( 72 milhões).
O recorde anterior pertencia ao Fulham ( 58 milhões). O Leeds, time de expressão, ocupa também a terceira posição na lista de prejuízos em um ano ( 49 milhões na temporada passada). Sem exageros, é chegar e levar o Leeds.
A sede de Roman de trocar toda a sua fortuna da Rússia para o Reino Unido foi destacada pela Fifa. A entidade comemorou a ""ajuda" do Chelsea (após o russo, chamado de Chelsky) ao Notts County, time profissional em atividade mais antigo do planeta. O simpático clube de 1862, um dos fundadores da liga inglesa, pena na segunda divisão (a 3ª) com uma dívida de ""míseros" 9,5 milhões. Acontece que no dia 9 de dezembro o Notts County pode mesmo fechar as portas se não abater esse débito. Em jogo contra o Chelsea, o Notts County ficou com camisas autografadas das estrelas de Roman para pegar algum troco em rifas e leilões.
Convenhamos, Roman não é o santo que sugere a Fifa. Nem um grande conhecedor de futebol e de seu mercado. O jogador que custou mais para ele não foi Verón, Crespo ou Makelele. Foi o irlandês Duff. Bom jogador, mas não mais que isso. A defesa do Chelsea continua vulnerável, falta um goleiro mais seguro. Mas a questão aqui não é futebol. Será que o interesse dele é mesmo formar o melhor time do mundo ou só desovar parte de seus US$ 5,7 bilhões?
Não é só Roman e não é só na Rússia. O magnata mexicano Jorge Vergara, que já estendeu tentáculos para fora de seu país há tempos, emplacou o Chivas na MLS, a liga americana que também sente a falta de dólares. Um time mexicano nos EUA meio como um time russo na Inglaterra. Da África já havia saído Al Saadi Gaddafi, filho do ditador líbio que brinca com ações de times, até da Juve. Vai algum clube aí?

Barcelona
Ferran Soriano, um dos vices do clube catalão, anunciou plano para pagar em dez anos a dívida de 219 milhões do time.

Roma
Entre julho e setembro, o clube perdeu 25 milhões. Ótimo, pois no mesmo período no ano passado perdeu 40,6 milhões.

Lazio
Não houve outra saída senão pagar atletas com ações do clube.

Mundo
International Football Finance Group surge nos EUA como o primeiro fundo de investimento 100% futebol. Já há contatos no Brasil.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br


Texto Anterior: Após tropeço contra pior rival, Brasil pega 1ª incógnita na Copa
Próximo Texto: Doping: Pivô de escândalo começou tocando baixo
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.