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São Caetano alega que não foi alertado sobre Serginho
Médico do clube quebra silêncio, diz que mantinha relação de pai e filho com o zagueiro, afirma que desconhecia perigo da doença e nega alerta do Incor
KLEBER TOMAZ
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de quatro dias de silêncio, o médico do São Caetano,
Paulo Forte, reapareceu para dizer que o zagueiro Serginho estava bem de saúde. Ele também negou que tenha recebido do Incor
(Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas da USP) qualquer tipo de conselho para afastar o atleta dos gramados.
Abatido e com os olhos marejados, ele fez ontem um rápido pronunciamento (sem direito de perguntas dos jornalistas) no estádio
Anacleto Campanella sobre a
morte do zagueiro de 30 anos,
com quem tinha, segundo ele,
uma "relação de pai e filho".
"Fizemos uma avaliação de praxe em fevereiro. O teste ergométrico do Serginho apresentou
uma arritmia leve, discreta. Então
o Incor pediu para fazer novos
exames em junho [uma ressonância e um cateterismo], mas não
houve conclusão que o Sérgio devesse parar de jogar futebol", disse Forte, também negando qualquer aviso dos médicos do Incor
no sentido de que a continuação
da carreira do jogador representaria um risco para a sua vida.
"O São Caetano não recebeu do
Incor nenhum documento que
impedia Serginho de jogar. Não
havia laudo nenhum sobre isso",
disse o médico do time do ABC,
que antes de fazer seu pronunciamento ficou reunido por quase
uma hora com cartolas e jogadores do clube.
Primeiro, em uma nota, o Incor
manteve a postura de não comentar o caso em público.
O hospital diz que não pode,
sem autorização dos envolvidos
ou de autoridades, "divulgar
quaisquer informações ou documentos de pacientes, inclusive
laudos médicos". Mas, no final da
tarde, convocou uma entrevista
coletiva para dizer que passou sim
a Serginho e Forte os resultados
dos exames.
A Folha apurou que tanto Serginho quanto Forte foram notificados sobre a gravidade do caso.
Mas o jogador disse aos médicos
do Incor que nem o risco de morte o faria encerrar a carreira.
"Fatalidade"
O médico do São Caetano apontou outros motivos para Serginho
estar jogando normalmente.
"O Serginho estava bem, não se
queixava de nada. Foi uma fatalidade o que aconteceu."
Para Forte, o tamanho do coração do jogador, muito maior do o
normal, era comum. "Todo atleta,
por sua atividade física, tem um
coração maior".
Forte, que diz ter recebido elogios por sua conduta no caso dos
familiares de Serginho, falou que
seria incapaz de colocar em risco a
vida de um jogador.
"Eu entro no clube às 7h da manhã e só o deixo às 7h da noite.
Penso na saúde dos jogadores em
primeiro lugar", afirmo Forte,
que prometeu voltar a falar com a
imprensa brevemente.
Enquanto isso, a Polícia Civil
-que investiga se houve negligência no atendimento ou imprudência na escalação do zagueiro- afirmou ontem que não irá
mais se pronunciar sobre o caso
até o fim do inquérito.
"Já falei para todos os órgãos de
imprensa e vou falar para vocês
[da Folha] também: não dou entrevistas até o final do inquérito,
daqui a 30 dias", disse o delegado
Guaracy Moreira Filho, titular do
34º Distrito Policial, responsável
pelas investigações.
"Semana que vem, possivelmente, começarei a ouvir os depoimentos", concluiu Moreira Filho, que expediu mais de 20 intimações. Dentre os convocados,
estão o presidente do São Caetano, Nairo de Souza, e Forte. Vários jogadores, como o goleiro Silvio Luiz, também irão prestar depoimento nos próximos dias.
Além da polícia, também o
Conselho Regional de Medicina
investiga o caso envolvendo o
atleta do time do ABC.
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