São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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JUCA KFOURI

O que é ético no futebol?


Segundo Eurico Miranda, ética é uma coisa de filósofo. E o futebol prova cada vez mais que ele tem razão


O INTER deve poupar jogadores na partida de hoje contra o São Paulo. Porque o Inter tem um jogo na quinta-feira, na Bombonera, contra o Boca Juniors. E o Inter não tem mais chances de ganhar uma vaga na Libertadores neste Campeonato Brasileiro. Só lhe resta, portanto, tentar ainda vencer a Copa Sul-Americana.
Tudo isso estaria muito bem se quem estivesse disputando cabeça a cabeça com o São Paulo no Brasileirão não fosse o Grêmio, o rival dos colorados. Em sendo, o Inter desperta toda sorte de suspeitas. Não que vá entregar o jogo porque, tenha certeza, quem entrar em campo mostrará a mesma disposição demonstrada no ano passado contra o Goiás, quando o time gaúcho poderia ter salvado o Corinthians e não conseguiu, sem que se pudesse dizer que houve qualquer retaliação em relação ao chorado título perdido de 2005.
O futebol evoluiu o suficiente para que essas armações só existam nas cabeças sujas de quem é chegado às teorias da conspiração. Verdade que, como ensina o ex-presidente, ex-deputado e permanente boquirroto Eurico Miranda, esse negócio de ética no futebol é coisa de filósofo. Ora, o Inter, dizem os pragmáticos, tem de pensar em seus problemas e não pode se preocupar com os dos outros nem, muito menos, no que vão dizer ou vão pensar. O Grêmio faria igual ou até já fez, sempre haverá quem lembre.
E o São Paulo que arque com a baboseira de ser acusado de sempre ser favorecido, muito embora, de fato, aquele gol do Botafogo não devesse mesmo ser anulado. Verdade que, do mesmo modo, houve um outro gol, exatamente do Grêmio, contra o São Paulo que não deveria ter sido validado e foi. O Grêmio vinha tendo erros de árbitros a seu favor e se dizia que havia um esquema para favorecê-lo. Antes era o Flamengo, este sempre auxiliado, ainda mais depois que transferiram um jogo que era para ser no Engenhão para o Maracanã.
Bastou o Palmeiras subir e pronto: o esquema Traffic estava em ação agora, como já esteve em outras ocasiões, como o MSI etc. e tal. Não tem jeito. Nunca jamais o torcedor admitirá como limpo um título do adversário, pois nem mesmo os do Santos de Pelé eram acima de quaisquer suspeitas e escândalos como os do caso Edílson só jogam água nesse eterno moinho.
Com este caldo de cultura e neste cenário, atitudes pouco esportivas como a do Inter acabam se perdendo na multidão, ou porque é apenas mais uma, ou porque vão falar mesmo de qualquer outra coisa se perder o jogo com os titulares, ou porque só não vale dançar homem com homem ou mulher com mulher.
Aliás, também vale, e não tem importância que valha. Porque, no vale tudo do futebol e da vida, feio é apenas perder. A menos, é claro, que a sua derrota signifique um prejuízo ainda maior ao seu rival, que antes era adversário e hoje é inimigo.

Black is beautiful
Agora, a coluna torce por dois negros: Hamilton e Obama; um nasceu no berço do Corinthians e o outro disputa a eleição nos EUA.

blogdojuca@uol.com.br


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