|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BASQUETE
A dança dos técnicos
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Chefões da NBA, por favor
relevem o topete deste colunista e tenham a boa vontade de
analisar a mensagem que segue.
Na virada dos anos 60, coube a
um jornalista tirar o futebol brasileiro do lodaçal, plantando as
sementes que redundariam no
tricampeonato mundial e na melhor seleção de todos os tempos.
Não fosse o atrevimento dele, e
dos que o contrataram, a história
da pátria de chuteiras não teria
sido escrita em português.
De jeito nenhum me comparo
ao saudoso e genial escriba. Talvez a única coisa em comum entre aquele João Saldanha e este
Melchiades Filho é que este foi leitor contumaz daquele.
Mas invoco a ventura do cronista pioneiro para tomar a coragem
de sugerir meus préstimos como
técnico de basquete. Apesar da total inexperiência, creio que possa
tocar o trabalho.
Dou nó na gravata sozinho, faço uma cara de mau bastante
convincente e praguejo com
fluência em inglês. Não tenho
problemas com calculadoras e
adoro gráficos coloridos. Garanto
também que consigo cruzar os
braços, fingir preocupação e zanzar na beira da quadra durante
48 minutos -e ao mesmo tempo!
Sei distinguir os Shaquille
O'Neal e Tim Duncan dos Olden
Polynice e Greg Ostertag da vida.
E sei que, nas entrevistas, devo me
ater a platitudes e atribuir o resultado (vitória ou derrota) à
"dominância" de Shaqs e Tims.
Por ter acompanhado muitos
treinos no Brasil, percebi que
orientar um time não deve ser lá
tão difícil. Decorei a meia-dúzia
de exercícios táticos que eles aplicam. E não vi ninguém mais talentoso que eu para recolher bolas
nas sessões de arremesso.
Hão de perguntar por que não
ingresso nesta nova profissão,
com calma, na minha terra. Esclareço: o mercado aqui encontra-se fechadinho, restrito aos nomes que mantêm o basquete do
país no presente patamar.
Ao contrário da ávida liga norte-americana, que, neste ano, como nunca, dispôs-se a empregar
jovens desconhecidos.
Ademais, não anda a NBA cada
vez mais interessada no mercado
global, nos dólares das corporações que anunciam pelo planeta?
Pois então, o nosso presidente
anunciou que o espetáculo do
crescimento está à espreita!
Já até me imaginei no New Jersey ou no Boston. Os atuais treinadores, como eu, nunca tinham
desempenhado a função. O do
Boston até ontem não havia ganho nem um joguinho sequer, façanha que eu repetiria sem suor.
Esclareço que não me importo
em atuar na Conferência Leste,
mesmo que quase todas as 15
equipes sejam terríveis -o brasileiro familiarizou-se com elas, em
virtude do fuso horário e da grade
engessada das TVs de cá.
Interesso-me inclusive pelo
Atlanta, a única delas que não
trocou de técnico para a temporada. Terry Stotts já está no cargo
há 13 meses, atenção senhores!
Até por isso, posto que a moda
na NBA é demitir sem dó, nada
menos traumático que um jornalista brasileiro. As redações confirmam William Faulkner. Viver
nelas é se aprontar para permanecer morto por muito tempo.
Prancheta 1
O público escalou a seleção do Oeste com Steve Francis, Kobe Bryant,
Kevin Garnett, Tim Duncan e Yao Ming e a do Leste com Allen Iverson, Tracy McGrady, Vince Carter, Jermaine O'Neal e Ben Wallace.
Hoje os treinadores completam os times do Jogo das Estrelas (dia 15).
Prancheta 2
Meus reservas do Oeste seriam Sam Cassell, Mike Bibby, Peja Stojakovic, Andrei Kirilenko, Dirk Nowitzki, Brad Miller e Shaquille
O'Neal. Pelo Leste, levaria Baron Davis, Jason Kidd, Michael Redd,
LeBron James, Ron Artest, Kenyon Martin e Zyldrunas Ilgauskas.
Prancheta 3
Na coluna passada, onde se leu Paulista, leia-se Nacional feminino.
E-mail melk@uol.com.br
Texto Anterior: Futebol americano: Super Bowl é decidido com chute no fim Próximo Texto: Futebol - Marcos Augusto Gonçalves: Bola global Índice
|