São Paulo, terça-feira, 03 de fevereiro de 2004

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BASQUETE

A dança dos técnicos

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Chefões da NBA, por favor relevem o topete deste colunista e tenham a boa vontade de analisar a mensagem que segue.
Na virada dos anos 60, coube a um jornalista tirar o futebol brasileiro do lodaçal, plantando as sementes que redundariam no tricampeonato mundial e na melhor seleção de todos os tempos. Não fosse o atrevimento dele, e dos que o contrataram, a história da pátria de chuteiras não teria sido escrita em português.
De jeito nenhum me comparo ao saudoso e genial escriba. Talvez a única coisa em comum entre aquele João Saldanha e este Melchiades Filho é que este foi leitor contumaz daquele.
Mas invoco a ventura do cronista pioneiro para tomar a coragem de sugerir meus préstimos como técnico de basquete. Apesar da total inexperiência, creio que possa tocar o trabalho.
Dou nó na gravata sozinho, faço uma cara de mau bastante convincente e praguejo com fluência em inglês. Não tenho problemas com calculadoras e adoro gráficos coloridos. Garanto também que consigo cruzar os braços, fingir preocupação e zanzar na beira da quadra durante 48 minutos -e ao mesmo tempo!
Sei distinguir os Shaquille O'Neal e Tim Duncan dos Olden Polynice e Greg Ostertag da vida. E sei que, nas entrevistas, devo me ater a platitudes e atribuir o resultado (vitória ou derrota) à "dominância" de Shaqs e Tims.
Por ter acompanhado muitos treinos no Brasil, percebi que orientar um time não deve ser lá tão difícil. Decorei a meia-dúzia de exercícios táticos que eles aplicam. E não vi ninguém mais talentoso que eu para recolher bolas nas sessões de arremesso.
Hão de perguntar por que não ingresso nesta nova profissão, com calma, na minha terra. Esclareço: o mercado aqui encontra-se fechadinho, restrito aos nomes que mantêm o basquete do país no presente patamar.
Ao contrário da ávida liga norte-americana, que, neste ano, como nunca, dispôs-se a empregar jovens desconhecidos.
Ademais, não anda a NBA cada vez mais interessada no mercado global, nos dólares das corporações que anunciam pelo planeta? Pois então, o nosso presidente anunciou que o espetáculo do crescimento está à espreita!
Já até me imaginei no New Jersey ou no Boston. Os atuais treinadores, como eu, nunca tinham desempenhado a função. O do Boston até ontem não havia ganho nem um joguinho sequer, façanha que eu repetiria sem suor.
Esclareço que não me importo em atuar na Conferência Leste, mesmo que quase todas as 15 equipes sejam terríveis -o brasileiro familiarizou-se com elas, em virtude do fuso horário e da grade engessada das TVs de cá.
Interesso-me inclusive pelo Atlanta, a única delas que não trocou de técnico para a temporada. Terry Stotts já está no cargo há 13 meses, atenção senhores!
Até por isso, posto que a moda na NBA é demitir sem dó, nada menos traumático que um jornalista brasileiro. As redações confirmam William Faulkner. Viver nelas é se aprontar para permanecer morto por muito tempo.

Prancheta 1
O público escalou a seleção do Oeste com Steve Francis, Kobe Bryant, Kevin Garnett, Tim Duncan e Yao Ming e a do Leste com Allen Iverson, Tracy McGrady, Vince Carter, Jermaine O'Neal e Ben Wallace. Hoje os treinadores completam os times do Jogo das Estrelas (dia 15).

Prancheta 2
Meus reservas do Oeste seriam Sam Cassell, Mike Bibby, Peja Stojakovic, Andrei Kirilenko, Dirk Nowitzki, Brad Miller e Shaquille O'Neal. Pelo Leste, levaria Baron Davis, Jason Kidd, Michael Redd, LeBron James, Ron Artest, Kenyon Martin e Zyldrunas Ilgauskas.

Prancheta 3
Na coluna passada, onde se leu Paulista, leia-se Nacional feminino.

E-mail melk@uol.com.br


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