São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Bola redesenha mapa do Amazonas

Clubes de Manaus formam parcerias com prefeituras de cidades do interior para sobreviverem nos campos do Estado

Municípios chegam a arcar com até 80% das folhas de pagamento; dirigente vê acordos como reflexo dos "dois Brasis" do futebol

JULYANA TRAVAGLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A sede é no número 20 da rua do Areal, no bairro do Aleixo, em Manaus. Mas essa nem parece ser mais a casa do Holanda, clube que venceu a segunda divisão do Campeonato Amazonense do ano passado.
Sem recursos financeiros para poder se manter no futebol profissional do Estado, o clube acrescentou um outro nome ao original. Virou, desde o início de 2007, Holanda do Rio Preto da Eva, adotando o nome do município que fica a 80 km da capital amazonense.
Mas o Holanda não é a única agremiação pequena de Manaus nessa situação.
Cepe e Fast também usaram as prefeituras do interior do Estado como tábua de salvação para o futebol. São agora Cepe/Iranduba e Fast/Itacoatiara (nome que usa há dois anos). Rio Negro e Libermorro ensaiaram acordo com a prefeitura de Careiro Castanho (102 km de Manaus), sem evolução.
"Só arrumam patrocínio os clubes grandes, como o Nacional e o São Raimundo", disse Leão Braúna, vice-presidente do Holanda, que comemora os frutos da parceria com a cidade de Rio Preto da Eva. Na estréia como time profissional, venceu a Série B e conseguiu, com esse feito, subir no Estadual.
"Quando pensamos nisso, falei para o presidente [Paulo Radín] que poderíamos procurar as prefeituras de Altazes ou Rio Preto da Eva. Sem o apoio da prefeitura não teríamos conseguido", completou Braúna.
No esquema de parcerias, os municípios chegam a bancar até 80% da folha de pagamento das agremiações, além de terem os jogos em seus estádios. Em troca, podem estampar seus nomes nos uniformes, divulgando as cidades.
"Nosso objetivo é trazer jogadores do interior do Estado para o clube também e divulgar mais o nosso nome. Fazer futebol custa muito caro, aí lembramos do prefeito de Iranduba [Nonato Lopes]", comentou Bionar das Graças, diretor de futebol do Cepe/Iranduba, que também conseguiu acesso à Série A do Amazonense em 2007.
Para jogar em Iranduba, o Cepe precisa atravessar o rio Negro em barcos, pois a cidade fica na outra margem, a 22 km da capital amazonense e verdadeira casa do clube.
Para Thales Verçosa, vice-presidente da Federação Amazonense de Futebol, a mudança dos clubes da capital para o interior é reflexo da falta de interesse de indústrias da região em patrocinar as agremiações.
"Apesar de termos um parque industrial muito grande, as empresas não fazem parcerias com os nossos clubes por uma série de motivos. O principal deles é o fato de os produtos que fabricam não terem mercado aqui", explicou o cartola, usando como exemplo a LG, multinacional de eletroeletrônicos que tem fábrica na capital amazonense e que no Brasil patrocina o São Paulo.
O contrato do time paulista com a LG gira em torno de R$ 17,5 milhões anuais. A prefeitura de Iranduba, por exemplo, banca uma folha de pagamentos de R$ 35 mil do Cepe.
"Essas empresas preferem os clubes do sul do Brasil. Os nossos clubes precisam de patrocinadores, as prefeituras precisam de visibilidade, e o campeonato veicula a marca das cidades", acrescentou Verçosa.
Apesar de não contar com o apoio da industria local, Verçosa prefere não lamentar a situação pela qual os clubes manauenses passam. "São dois "Brasis" distintos, um do Norte e outro do Sul. Não acho lamentável, mas sim uma opção."


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