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Após ultimato ao evento, governo freia multas e deixa prova paulistana livre de lei antitabagista
Por omissão, GP vai ter cigarro
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Na falta de quem aplique a multa, a F-1 correrá em Interlagos vestida com suas marcas de cigarro.
Após reuniões com o Ministério
da Saúde, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desistiu ontem de multar em R$ 2
milhões a Prefeitura de São Paulo,
a Rede Globo, equipes e fabricantes de cigarro. Ao todo, as punições alcançariam R$ 20 milhões.
"A nossa posição é a mesma do
Ministério da Saúde", informou a
assessoria da agência, à tarde.
A declaração indica um forte recuo da Anvisa em relação à sua
postura original.
A agência se alinhou aos esforços do governo federal para realizar o GP deste fim de semana sem
sobressaltos.
Sem a ameaça de multas, são reduzidas as possibilidades de o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva editar uma medida provisória
entre hoje e amanhã liberando as
marcas de cigarro. Mas pode
acontecer no futuro, para assegurar as próximas edições da prova.
A operação nasceu na Prefeitura
de São Paulo, que acionou Brasília
assim que o atual governo tomou
posse. O principal interlocutor da
prefeitura é o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, companheiro
da secretária municipal de Esporte, Nádia Campeão, no PC do B.
A Folha publicou ontem trechos de uma entrevista em que
Ricardo Oliva, diretor da Anvisa,
ameaçava quem descumprisse a
lei 10.167, que trata das restrições
à publicidade de cigarro no país.
"Quem descumprir a lei será autuado. A responsabilidade será de
todos, prefeitura, Globo, equipes
e fabricantes. Farei questão de
aplicar a multa máxima", disse.
Ontem, porém, o dia foi de silêncio. Além da posição oficial,
ninguém falava nada sobre o assunto. Apesar de ser uma agência
reguladora, com independência
administrativa, a Anvisa encaminhava todos os pedidos de entrevistas para o Ministério da Saúde.
Lá, o ministro Humberto Costa
garantiu o GP, mas não explicou
como. "A posição do governo
brasileiro é em busca de uma solução que garanta a F-1 no Brasil,
sem enfraquecer a legislação antitabagista, reconhecida internacionalmente pelo rigor", afirmou.
Campeão, explicou a tese de defesa do GP. "Nosso contrato com
os organizadores da F-1 é de 99,
antes da lei [promulgada em
2000, mas com moratória de dois
anos para a categoria]."
Marco Polo Del Nero, especialista em direito esportivo, afirma
que a lei é omissa, mas não concorda com a secretária: "Usar a
data do contrato como desculpa
para não fazer valer uma lei nacional não pode. Há um prazo de
adaptação e isso não pode ser ignorado nunca".
Coincidentemente, a FIA (entidade máxima do automobilismo)
divulgou ontem um documento
reafirmando que não vai tolerar
GPs sem publicidade tabagista.
Há apenas duas exceções, França e Inglaterra, países com importância estratégica para o setor.
Das cinco equipes patrocinadas
por cigarros, apenas a Ferrari
oculta sua marca em Interlagos.
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