São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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Ganso avisa que não sai de campo e é elogiado

Mesmo "arrebentado", meia ajuda time a segurar a bola

DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Henrique Ganso é discreto, fala baixo, joga com a camisa para dentro do calção, ao contrário da maioria. Mas suas atuações pedem aos gritos uma vaga na seleção brasileira.
Ontem, além dos passes precisos e da capacidade para segurar a bola, deu grande demonstração de personalidade.
O Santos perdia por 3 a 2, Roberto Brum acabara de ser expulso e deixar o time com dois jogadores a menos. Desesperado para recompor a defesa, o técnico Dorival Jr. decidiu tirar Paulo Henrique Ganso para colocar o zagueiro Bruno Aguiar.
O garoto de 20 anos se aproximou da linha lateral e avisou que não sairia. Dorival então sacou o atacante André, que havia entrado minutos antes.
Fosse outro jogador e a recusa em ser substituído poderia ser considerada um ato de indisciplina. Fosse outro técnico, poderia ter reclamado.
Dorival Jr. se derreteu em elogios. "Foi uma atitude de homem", declarou o treinador. "Ele era o único que botava o pé em cima da bola, que fazia o time segurar o jogo."
O técnico contou o diálogo que teve com o jogador na beira do gramado. "Estou arrebentado, mas deixa que eu seguro", disse Ganso a Dorival. "Essa é a postura de alguém que foi importantíssimo para o título", encerrou o treinador.
O meia explicou porque pediu para ficar em campo. "Eu falei que poderia segurar a bola ali na frente, e acho que eu consegui", declarou Ganso.
Daquele momento até o final do jogo, a bola procurou Ganso como nunca. Quando isso não acontecia, era ele quem voltava até a defesa para buscá-la.
Com a bola, o camisa 17 (deixou a 10 para o ídolo e mentor Giovanni) corria para as laterais, onde cavava faltas, gastava tempo e dava algum respiro para seus companheiros.
Quando o Santos teve um escanteio a seu favor, nos instantes finais, só Ganso estava no campo de ataque.
Como nenhum outro santista se atreveu a deixar a defesa, o meia deu apenas um leve toque na bola e a colocou em jogo. Levou quase um minuto para que alguém do Santo André se desse conta da jogada inteligente que Ganso acabara de cometer.
Segundo o Datafolha, ele foi o jogador mais acionado pelo Santos. Recebeu 53 bolas, contra 33 de Neymar e 29 de Robinho, por exemplo.
Ganso foi mais caçado do que todos os seus companheiros de time somados. O Santos sofreu 19 faltas do Santo André, dez delas foram cometidas em cima do meia.
Foi disparado também quem mais deu (e acertou) passes. Foram 53 toques, dos quais 47 certos, uma eficiência de 84,2% -impressionante para um jogador de sua posição e nas condições em que atuou durante boa parte do segundo tempo.
De um desses passes, de calcanhar, saiu o segundo gol do Santos. Ao receber de Robinho, Ganso passou com classe para Neymar anotar.
O atacante André afirmou que "Paulo Henrique foi o melhor de todos", graças à luta nos minutos finais da partida.
Alvo de tantos elogios, Ganso preferiu exaltar o time. "O símbolo é o grupo, é todo mundo, não sou eu, não", disse. "Estou muito emocionado, esse título foi muito justo, porque lutamos o campeonato inteiro, fomos o time mais regular, hoje jogamos com dois a menos."
Antes de deixar o Pacaembu, o jogador teve que responder mais uma vez se merecia uma chance de disputar a Copa do Mundo da África do Sul pela seleção brasileira. "Esperança a gente sempre tem, mas o professor Dunga saberá escolher os melhores. De qualquer maneira, se eu não for, vou torcer para a seleção."
(LUCAS REIS, MARTÍN FERNANDEZ E RODRIGO MATTOS)


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