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Ganso avisa que não sai de campo e é elogiado
Mesmo "arrebentado", meia ajuda time a segurar a bola
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Henrique Ganso é discreto, fala baixo, joga com a camisa para dentro do calção, ao
contrário da maioria. Mas suas
atuações pedem aos gritos uma
vaga na seleção brasileira.
Ontem, além dos passes precisos e da capacidade para segurar a bola, deu grande demonstração de personalidade.
O Santos perdia por 3 a 2, Roberto Brum acabara de ser expulso e deixar o time com dois
jogadores a menos. Desesperado para recompor a defesa, o
técnico Dorival Jr. decidiu tirar
Paulo Henrique Ganso para colocar o zagueiro Bruno Aguiar.
O garoto de 20 anos se aproximou da linha lateral e avisou
que não sairia. Dorival então
sacou o atacante André, que havia entrado minutos antes.
Fosse outro jogador e a recusa em ser substituído poderia
ser considerada um ato de indisciplina. Fosse outro técnico,
poderia ter reclamado.
Dorival Jr. se derreteu em
elogios. "Foi uma atitude de homem", declarou o treinador.
"Ele era o único que botava o pé
em cima da bola, que fazia o time segurar o jogo."
O técnico contou o diálogo
que teve com o jogador na beira
do gramado. "Estou arrebentado, mas deixa que eu seguro",
disse Ganso a Dorival. "Essa é a
postura de alguém que foi importantíssimo para o título",
encerrou o treinador.
O meia explicou porque pediu para ficar em campo. "Eu
falei que poderia segurar a bola
ali na frente, e acho que eu consegui", declarou Ganso.
Daquele momento até o final
do jogo, a bola procurou Ganso
como nunca. Quando isso não
acontecia, era ele quem voltava
até a defesa para buscá-la.
Com a bola, o camisa 17 (deixou a 10 para o ídolo e mentor
Giovanni) corria para as laterais, onde cavava faltas, gastava
tempo e dava algum respiro para seus companheiros.
Quando o Santos teve um escanteio a seu favor, nos instantes finais, só Ganso estava no
campo de ataque.
Como nenhum outro santista se atreveu a deixar a defesa, o
meia deu apenas um leve toque
na bola e a colocou em jogo. Levou quase um minuto para que
alguém do Santo André se desse conta da jogada inteligente
que Ganso acabara de cometer.
Segundo o Datafolha, ele foi o
jogador mais acionado pelo
Santos. Recebeu 53 bolas, contra 33 de Neymar e 29 de Robinho, por exemplo.
Ganso foi mais caçado do que
todos os seus companheiros de
time somados. O Santos sofreu
19 faltas do Santo André, dez
delas foram cometidas em cima
do meia.
Foi disparado também quem
mais deu (e acertou) passes.
Foram 53 toques, dos quais 47
certos, uma eficiência de 84,2%
-impressionante para um jogador de sua posição e nas condições em que atuou durante
boa parte do segundo tempo.
De um desses passes, de calcanhar, saiu o segundo gol do
Santos. Ao receber de Robinho,
Ganso passou com classe para
Neymar anotar.
O atacante André afirmou
que "Paulo Henrique foi o melhor de todos", graças à luta nos
minutos finais da partida.
Alvo de tantos elogios, Ganso
preferiu exaltar o time. "O símbolo é o grupo, é todo mundo,
não sou eu, não", disse. "Estou
muito emocionado, esse título
foi muito justo, porque lutamos
o campeonato inteiro, fomos o
time mais regular, hoje jogamos com dois a menos."
Antes de deixar o Pacaembu,
o jogador teve que responder
mais uma vez se merecia uma
chance de disputar a Copa do
Mundo da África do Sul pela seleção brasileira. "Esperança a
gente sempre tem, mas o professor Dunga saberá escolher
os melhores. De qualquer maneira, se eu não for, vou torcer
para a seleção."
(LUCAS REIS, MARTÍN FERNANDEZ E RODRIGO MATTOS)
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