São Paulo, quarta, 3 de junho de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Seleção viaja 11 horas de avião para chegar a Paris 1998 - 60 anos de futebol e história
do enviado a Marselha Após 60 anos da realização da primeira Copa na França, a segunda versão do Mundial no país promete ratificar a competição como o maior evento do planeta. Em 32 dias de competição, com o número recorde de 32 seleções se enfrentando em 64 jogos, a Copa da França deverá acumular uma audiência de 37 bilhões de telespectadores. Apenas para a final, marcado para o dia 12 de julho, os organizadores esperam uma audiência de 1,7 bilhão, o equivalente a 30% da população mundial. Se em 1938 apenas um locutor de rádio e três jornalistas acompanharam a seleção, desta vez serão 150 credenciados, sem falar no pessoal de apoio. Nas arquibancadas, um total de 2,5 milhões de pagantes em todos os dez estádios especialmente preparados para a competição. Apenas de brasileiros, estima-se, um número superior a 30 mil. Ainda assim, a busca pelos bilhetes gerou brigas entre os países europeus. Uma grande festa, que quer surpreender a partir da festa de abertura, antes da partida inaugural entre Brasil e Escócia, no dia 10 de junho, em Saint-Denis, quando bonecos gigantes, representando as raças do mundo, deverão confraternizar andando pelas ruas e escalando prédios de Paris. Um cenário bem diferente do conturbado e belicoso ambiente da Europa do final dos anos 30, mas não livre de preocupações. Ameaças de bombas terroristas, a presença de torcedores violentos e uma série de greves programadas pelas centrais sindicais podem infernizar a vida dos franceses e dos turistas nestes dois meses. A mobilização policial chega a ser excessiva e o hooliganismo será combatido de forma inédita: cada estádio terá uma corte de justiça, capaz de sentenciar ou mesma decretar a extradição de um torcedor violento em minutos. Em campo, juízes e bandeirinhas contarão com transmissores para auxiliar na comunicação. E até a bola terá novidade, com a instalação de um microfone embutido. E se o exagero do jogo-desempate há tempos caducou, desta vez nem mesmo a prorrogação passou incólume. Estréia nesta Copa a "morte súbita" ou "gol de ouro", que encerra a partida na prorrogação após o primeiro gol marcado. Se, em 60 anos, a estrutura de uma Copa do Mundo evoluiu tanto assim, o futebol também apresentou mudanças, boas e ruins. A ingerência de empresários e patrocinadores é cada vez maior, e a preparação de um jogador não se resume mais ao preparo físico. Atletas como Ronaldinho, a grande estrela da seleção brasileira no Mundial, eleito nos últimos dois anos como o melhor do mundo pela Fifa, trabalham sob contratos milionários. Sua exposição na mídia é estudada e devidamente quantificada, tratamento bem diferente do merecido por Leônidas da Silva, a grande figura de 1938, que batizou de cigarro a chocolate, foi comentarista de rádio, e hoje não tem condições de viajar à França para ser homenageado. Os franceses festejam Ronaldinho, mas provam não ter esquecido de Leônidas. Como em 1938, quando a imprensa local abriu mão do formalismo para decantar a "maravilha negra", o "homem-borracha", aquele que "parecia ter seis pernas". Uma época que ficou registrada apenas na memória ou nas páginas românticas dos diários. (JHM) Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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