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JOSÉ GERALDO COUTO
A "corrente pra frente" e o pensamento único
Agora que já rimos e choramos bastante e que a
poeira das comemorações começa a baixar, é hora de
refletir um pouco sobre certas
confusões em curso.
A mais grave delas é permitir
a capitalização da conquista da
Copa pelos oportunistas de
sempre: os políticos, os cartolas
e, claro, os comentaristas que
"sabiam tudo desde o começo".
Ricardo Teixeira tenta transformar o penta em uma "resposta" às CPIs que o investigaram. Como se o Brasil tivesse
vencido graças à bela organização de seu futebol e como se o
êxito em campo apagasse as falcatruas fora dele. FHC, por sua
vez, se abraça aos campeões e
reabilita Teixeira para tirar sua
casquinha em ano eleitoral. Tudo isso era esperado.
Mas o mais irritante é ouvir a
frase idiota e autoritária: "Onde é que estão os que falaram
mal da seleção e do técnico?".
Respondo por mim: estou aqui
mesmo, tentando cumprir meu
papel, que é o de analisar, apontar problemas, sugerir soluções
e emitir uma opinião, falível e
limitada.
É muito perigosa a inversão
de valores segundo a qual os patriotas são os que "sempre acreditaram" -da Coca-Cola a
Paulo Coelho, passando por Pedro Bial e as Casas Bahia-, enquanto os críticos são "antibrasileiros". A vitória não redime
todos os erros. A "corrente pra
frente" não pode ser um disfarce para o pensamento único.
Uma sociedade democrática
deve saber valorizar suas vozes
dissonantes.
jgcouto@uol.com.br
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