São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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JOSÉ GERALDO COUTO

A "corrente pra frente" e o pensamento único

Agora que já rimos e choramos bastante e que a poeira das comemorações começa a baixar, é hora de refletir um pouco sobre certas confusões em curso.
A mais grave delas é permitir a capitalização da conquista da Copa pelos oportunistas de sempre: os políticos, os cartolas e, claro, os comentaristas que "sabiam tudo desde o começo".
Ricardo Teixeira tenta transformar o penta em uma "resposta" às CPIs que o investigaram. Como se o Brasil tivesse vencido graças à bela organização de seu futebol e como se o êxito em campo apagasse as falcatruas fora dele. FHC, por sua vez, se abraça aos campeões e reabilita Teixeira para tirar sua casquinha em ano eleitoral. Tudo isso era esperado.
Mas o mais irritante é ouvir a frase idiota e autoritária: "Onde é que estão os que falaram mal da seleção e do técnico?". Respondo por mim: estou aqui mesmo, tentando cumprir meu papel, que é o de analisar, apontar problemas, sugerir soluções e emitir uma opinião, falível e limitada.
É muito perigosa a inversão de valores segundo a qual os patriotas são os que "sempre acreditaram" -da Coca-Cola a Paulo Coelho, passando por Pedro Bial e as Casas Bahia-, enquanto os críticos são "antibrasileiros". A vitória não redime todos os erros. A "corrente pra frente" não pode ser um disfarce para o pensamento único. Uma sociedade democrática deve saber valorizar suas vozes dissonantes.

jgcouto@uol.com.br



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