São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TÊNIS

Deitar e rolar na grama

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Há cinco anos, Pete Sampras ganhava mais um de seus jogos na quadra central de Wimbledon. Um jogo de quartas-de-final, como outros tantos que ele já havia disputado (e vencido) no Grand Slam londrino.
Assim que fechou a partida, ergueu os punhos e foi até a rede cumprimentar o adversário. Quando ia para sua cadeira, foi surpreendido pelo rival, a quem havia eliminado em quatro sets.
"Pete, este foi meu último jogo em Wimbledon. Para mim, acabou." Sampras olhou com espanto para o rival, que a esta hora já colocava o braço sobre seu ombro.
"Já consegui tudo o que poderia conseguir aqui, e fico feliz que meu último jogo tenha sido esse, uma derrota, eu sei, mas para você e na quadra central aqui em Wimbledon."
Sampras continuou parado, enquanto seu adversário erguia os braços, ovacionado pela torcida londrina. O norte-americano caminhou finalmente para sua cadeira, apenas ouvindo os aplausos, os gritos. O derrotado, enquanto isso, saudava a torcida, de pé, reverenciando os quatro lados de arquibancada.
"Quando Boris me disse aquelas coisas, fiquei muito surpreso. Ele sempre foi um vencedor, principalmente na grama de Wimbledon. Não consigo imaginar um campeão como ele desistindo assim, depois de uma derrota."
Boris Becker, seis finais, três vezes campeão em Wimbledon, ainda voltaria a jogar na grama londrina, mas só "para se divertir".

Há uma semana, foi a vez de Pete Sampras sofrer uma derrota que, se não significa um adeus a Wimbledon, fez muita gente aplaudir o tenista como se fosse a despedida. Só que uma despedida melancólica.
Sampras não perdeu para um campeão como Becker. Perdeu para o inexpressivo suíço George Bastl. Não caiu na quadra central, mas na quadra número dois, já apelidada de "túmulo dos campeões", tamanha a incidência de eliminações de favoritos.
Assim que o jogo terminou, Sampras se recusou a deixar a quadra imediatamente. Ficou sentado, calado, cabisbaixo. Começou a mexer nas cordas da raquete, como se tivesse ainda pelo menos dois sets para jogar. Depois, virou, revirou sua bolsa, por fim ficou observando o fim de tarde londrino. Ao sair, acenou rapidamente ao público, como se voltasse no dia seguinte.
Diferentemente de Boris Becker, Pete Sampras ainda acredita que pode, sim, ganhar um Grand Slam. É por isso que, disse logo depois da derrota, estará ainda insistindo em jogar. Nem que seja para perder na quadra central, para um tenista de verdade.
"Planejo não só voltar no ano que vem, mas nos anos seguintes, enquanto sentir que posso ganhar, e eu sei que posso."

A cada derrota, críticos e mesmo fãs do tênis bradam pela aposentadoria de Pete Sampras, 30. Deve ou não deve parar, admitir que chegou ao fim de seu tempo?
Recebo e reescrevo a opinião do jornalista Steve Wilstein, que acompanhou Sampras nos instantes seguintes à sua derrota. Afinal, é minha opinião também: "Se ele continuar jogando, quem vai sofrer por isso? A cada dificuldade que ele tem em ganhar um jogo, mais podemos admirar seu esforço em tentar ganhar".

Não muito comum
André Sá joga hoje por vaga nas semifinais de Wimbledon. O rival? Um especialista em grama, ídolo local, top ten. Cenário ruim? Nem tanto. Tim Henman vive pressão terrível em casa. Sá está sereno, ciente de que chegou às quartas porque aproveitou suas chances.

Nada muito comum
A mesmice do circuito feminino está causando mudanças nas entrevistas das garotas. Como já não há novidades, as perguntas em Wimbledon tem sido do tipo "O que você acha do corte de cabelo da sua mãe?", "Você está namorando um piloto de Fórmula 1?"

Nada, nada comum
O holandês Sjeng Schalken, um dos mais veteranos do circuito, alcançou pela primeira vez a segunda semana de um Grand Slam. Comentário: "Estou estranhando o vestiário; está vazio. Eu só frequento quando está cheio, e depois sou eliminado".

E-mail reandaku@uol.com.br



Texto Anterior: Classificado, Corinthians disputa R$ 2,1 mi sem reforços e estrelas
Próximo Texto: Tênis: Sá tenta semifinal inédita de Wimbledon
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.