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TÊNIS
Deitar e rolar na grama
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Há cinco anos, Pete Sampras ganhava mais um de
seus jogos na quadra central de
Wimbledon. Um jogo de quartas-de-final, como outros tantos que
ele já havia disputado (e vencido)
no Grand Slam londrino.
Assim que fechou a partida, ergueu os punhos e foi até a rede
cumprimentar o adversário.
Quando ia para sua cadeira, foi
surpreendido pelo rival, a quem
havia eliminado em quatro sets.
"Pete, este foi meu último jogo
em Wimbledon. Para mim, acabou." Sampras olhou com espanto para o rival, que a esta hora já
colocava o braço sobre seu ombro.
"Já consegui tudo o que poderia
conseguir aqui, e fico feliz que
meu último jogo tenha sido esse,
uma derrota, eu sei, mas para você e na quadra central aqui em
Wimbledon."
Sampras continuou parado, enquanto seu adversário erguia os
braços, ovacionado pela torcida
londrina. O norte-americano caminhou finalmente para sua cadeira, apenas ouvindo os aplausos, os gritos. O derrotado, enquanto isso, saudava a torcida, de
pé, reverenciando os quatro lados
de arquibancada.
"Quando Boris me disse aquelas coisas, fiquei muito surpreso.
Ele sempre foi um vencedor, principalmente na grama de Wimbledon. Não consigo imaginar um
campeão como ele desistindo assim, depois de uma derrota."
Boris Becker, seis finais, três vezes campeão em Wimbledon, ainda voltaria a jogar na grama londrina, mas só "para se divertir".
Há uma semana, foi a vez de Pete Sampras sofrer uma derrota
que, se não significa um adeus a
Wimbledon, fez muita gente
aplaudir o tenista como se fosse a
despedida. Só que uma despedida
melancólica.
Sampras não perdeu para um
campeão como Becker. Perdeu
para o inexpressivo suíço George
Bastl. Não caiu na quadra central, mas na quadra número dois,
já apelidada de "túmulo dos campeões", tamanha a incidência de
eliminações de favoritos.
Assim que o jogo terminou,
Sampras se recusou a deixar a
quadra imediatamente. Ficou
sentado, calado, cabisbaixo. Começou a mexer nas cordas da raquete, como se tivesse ainda pelo
menos dois sets para jogar. Depois, virou, revirou sua bolsa, por
fim ficou observando o fim de tarde londrino. Ao sair, acenou rapidamente ao público, como se voltasse no dia seguinte.
Diferentemente de Boris Becker,
Pete Sampras ainda acredita que
pode, sim, ganhar um Grand
Slam. É por isso que, disse logo depois da derrota, estará ainda insistindo em jogar. Nem que seja
para perder na quadra central,
para um tenista de verdade.
"Planejo não só voltar no ano
que vem, mas nos anos seguintes,
enquanto sentir que posso ganhar, e eu sei que posso."
A cada derrota, críticos e mesmo
fãs do tênis bradam pela aposentadoria de Pete Sampras, 30. Deve
ou não deve parar, admitir que
chegou ao fim de seu tempo?
Recebo e reescrevo a opinião do
jornalista Steve Wilstein, que
acompanhou Sampras nos instantes seguintes à sua derrota.
Afinal, é minha opinião também:
"Se ele continuar jogando, quem
vai sofrer por isso? A cada dificuldade que ele tem em ganhar um
jogo, mais podemos admirar seu
esforço em tentar ganhar".
Não muito comum
André Sá joga hoje por vaga nas semifinais de Wimbledon. O rival?
Um especialista em grama, ídolo local, top ten. Cenário ruim? Nem
tanto. Tim Henman vive pressão terrível em casa. Sá está sereno,
ciente de que chegou às quartas porque aproveitou suas chances.
Nada muito comum
A mesmice do circuito feminino está causando mudanças nas entrevistas das garotas. Como já não há novidades, as perguntas em
Wimbledon tem sido do tipo "O que você acha do corte de cabelo
da sua mãe?", "Você está namorando um piloto de Fórmula 1?"
Nada, nada comum
O holandês Sjeng Schalken, um dos mais veteranos do circuito, alcançou pela primeira vez a segunda semana de um Grand Slam.
Comentário: "Estou estranhando o vestiário; está vazio. Eu só frequento quando está cheio, e depois sou eliminado".
E-mail reandaku@uol.com.br
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