São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOTOR

Auto-estima

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Empresário e piloto dizem que não vai acontecer. Mas não seria surpreendente em uma temporada cheia de escândalos. Felipe Massa poderia ser obrigado a ceder seu posto na Sauber para Heinz-Harald Frentzen já em Hungaroring. De festejado estreante a refugo em seis meses.
Uma Sauber dispensar um Massa é algo bem distante de uma Minardi dispensar um piloto malaio inepto, que está no time apenas por desejo do patrocinador e que consegue não se classificar para três GPs -mesmo a bordo daquele carro preto horroroso, um feito digno de nota.
Pior, dispensar um Massa para colocar um Frentzen no lugar é mais do que escandaloso. O alemão, que foi alguma coisa quando corria de kart contra Schumacher, perdeu-se na F-1, desperdiçou grande chance na Williams e andou perambulando por equipes médias para de novo bater à porta do amigo Peter Sauber.
(Frentzen, aliás, era o seu preferido nos tempos que a Mercedes empurrava o time no Mundial de Marcas; a montadora, por seu turno, resolveu apostar no segundo piloto, um tal de Michael Schumacher; questão de foco.)
Mas o pior de tudo mesmo é constatar que Massa vem cumprindo uma temporada bastante razoável em um time apenas regular. Ou seja, não haveria motivo sensato sequer para cogitar uma troca por um companheiro mais velho, menos motivado e que já perdeu várias chances de mostrar serviço. Sauber deveria vir a público e negar tudo.
Pelo contrário, em entrevista à "Autosport", afirmou que só aceitaria Frentzen se o piloto aceitasse correr também em 2003 pela escuderia. Apenas por esse comentário inconveniente, o suíço já seria merecedor de críticas.
Resta aguardar que o chefe de equipe não cometa essa estupidez e que Massa, um garoto, não se deixe influenciar. No último domingo, fez bem ao reclamar da ordem/marmelada da equipe, que lhe privou do sexto posto e de mais um ponto no Mundial, mesmo sabendo que isso causaria uma crise no time e que os boatos sobre a saída de Frentzen da Arrows não eram apenas boatos -o alemão deixou ontem o time.

Massa, ao contrário de Barrichello, parece contar ainda com aquela blindagem invisível que certos esportistas ganham do público por algum motivo qualquer. O ferrarista, após tantos reveses, ganha a simpatia apenas quando vence, não quando perde ou pelo menos tenta, como se tivesse obrigação de vencer -a verdade é que agora ele a tem mesmo.
O garoto paulistano que trata Botucatu como sua cidade natal não é favorito, não tem o melhor carro, mas tenta fazer alguma coisa. E as pessoas, de uma maneira ou de outra, percebem isso. Barrichello, preferem dizer, é azarado, zicado. São expectativas e tratamentos diferentes.
O que une os dois é apenas o país, que ainda espera um herói das pistas, como aqueles que tínhamos anos atrás. Que, se um dia se submeteram a proferir desmentidos, o fizeram de uma posição bem diferente. E que dificilmente acatariam ordens absurdas pelo rádio -Piquet, lembre-se, ganhou um título contra o companheiro, Mansell, e contra o próprio time, a Williams.
Vivemos outros tempos, torcemos por outros pilotos, acompanhamos outra F-1. Não é fácil.

Da Matta x Toyota
A história de que o líder da Indy vai correr pela montadora japonesa no ano que vem ganhou corpo na Europa. A "Autosport" dá como certa a negociação, que seria anunciada em duas semanas. Indagado, Cristiano fez o certo, não confirmou nem negou, fez apenas os elogios de praxe para a Toyota. Segundo a revista inglesa, falta apenas Carl Haas concordar em baixar um pouco o valor da rescisão do contrato, que retém o piloto até 2003. Se está longe ainda de se transformar em um grande time, pelo menos a escuderia japonesa demonstra disposição para deixar de ser nanica.

Ford x Jaguar
Dizem que a gigante norte-americana vai abastecer a Jordan e correr contra a subsidiária Jaguar a partir da próxima temporada, em uma tentativa inusitada de imprimir sua marca nas pistas. Honestamente, não faz nenhum sentido. Essa história está mal explicada. Era muito mais fácil trocar a cor e marca do carro de Irvine, não?

E-mail mariante@uol.com.br



Texto Anterior: Seleção feminina tenta chegar ao pódio no Grand Prix após crise
Próximo Texto: Boxe: Popó faz 1ª defesa de títulos unificados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.