São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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FUTEBOL

Medo de ser feliz

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O que aconteceu com o São Caetano?
Essa é a pergunta que os torcedores se fazem desde a fatídica noite de quarta-feira, quando o clube perdeu no Pacaembu um título que já parecia ganho, o da Taça Libertadores da América.
A equipe que caiu nos pênaltis diante do Olimpia, depois de ter permitido a virada do adversário durante a partida, nem parecia a mesma que uma semana antes conquistara uma vitória tranquila em Assunção do Paraguai.
O São Caetano, que mandou no jogo no Defensores del Chaco, foi uma equipe desordenada e nervosa no Pacaembu. Eram os mesmos jogadores contra os mesmos adversários. O que mudou entre uma quarta-feira e outra?
Mais do que uma ou outra circunstância específica -como a expulsão do técnico Jair Picerni ou a possível falha do goleiro Silvio Luiz no segundo gol dos paraguaios-, penso que a explicação é psicológica.
Em Assunção, com a torcida toda contra, os jogadores não tinham obrigação de vencer. No Pacaembu, precisando apenas do empate, a responsabilidade era muito maior.
Durante as últimas semanas, o Azulão tinha conquistado para o seu lado todas as torcidas do Brasil, e muitas delas estavam representadas quarta-feira no Pacaembu. Por saber que não podiam decepcioná-las, os atletas (e seu treinador) entraram em campo tensos. Faltava tão pouco para conseguir a taça que o time teve medo de ser feliz.
Muito pior do que a derrota -afinal, um fato perfeitamente normal no futebol- foi o anúncio, já no dia seguinte, de que o treinador Jair Picerni seria dispensado pelo clube juntamente com um punhado de jogadores.
A explicação do diretor de futebol do São Caetano para a dispensa -"Tudo bem perder uma ou duas finais; perder três não dá"- beira o ridículo.
Ora, raciocinem comigo: o Azulão só perdeu três finais seguidas porque conseguiu chegar até elas, deixando no caminho equipes muito mais poderosas e tradicionais. Nenhum outro time brasileiro conseguiu manter-se no topo durante o mesmo período.
É muito mais notável o fato de um clube jovem e modesto ter feito campanhas tão boas nos últimos dois anos do que o fato de ter perdido as três finais que disputou.
Tudo aquilo que permitiu ao São Caetano se destacar no cenário futebolístico brasileiro -a continuidade do trabalho do treinador, a política prudente de contratações- parece estar indo para o ralo de uma hora para outra só porque dois pênaltis foram chutados para fora. Se tivessem entrado o técnico merecia ficar?
Esse tipo de atitude, comum a muitos dirigentes brasileiros, comprova a impressão de que eles agem muito mais em resposta imediata aos sentimentos de frustração e raiva dos torcedores do que de uma estratégia para o bem do clube.
Além de Jair Picerni, estão deixando o time os jogadores Robert, Russo e Rubens Cardoso, que estavam emprestados. Se saírem também Aílton e Adãozinho, como está sendo cogitado, é difícil imaginar que o Azulão possa se recompor a tempo de realizar um bom Campeonato Brasileiro.
Em todo caso, já queimei a língua outras vezes ao pregar lucidez na nau dos insensatos que virou o futebol brasileiro.

Romário no Flu
E Romário, quem diria, acabou no Flu. Resta saber se conseguirá, no tricolor, identificar-se tanto com o time e sua torcida como ocorreu no Vasco e no Fla. Terá dois obstáculos: o tempo curto (fica só até o final do ano) e o mal-estar criado por sua contratação entre os jogadores do clube, que não recebem salários há meses. A situação é mais delicada no caso de Roni e Magno Alves, que carregaram pedras durante anos e agora brigarão entre si pela vaga de parceiro de Romário.

Fora da realidade
Leio na Folha que Guilherme pediu R$ 1,4 milhão para jogar no Corinthians até o final do ano, o que daria uma média de R$ 280 mil por mês. Para efeito de comparação: Romário vai ganhar cerca de R$ 180 mil mensais no Fluminense, e Arce conseguiu a duras penas manter seu salário de R$ 120 mil no Palmeiras.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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