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FUTEBOL
Medo de ser feliz
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O que aconteceu com o São
Caetano?
Essa é a pergunta que os torcedores se fazem desde a fatídica
noite de quarta-feira, quando o
clube perdeu no Pacaembu um título que já parecia ganho, o da
Taça Libertadores da América.
A equipe que caiu nos pênaltis
diante do Olimpia, depois de ter
permitido a virada do adversário
durante a partida, nem parecia a
mesma que uma semana antes
conquistara uma vitória tranquila em Assunção do Paraguai.
O São Caetano, que mandou no
jogo no Defensores del Chaco, foi
uma equipe desordenada e nervosa no Pacaembu. Eram os mesmos jogadores contra os mesmos
adversários. O que mudou entre
uma quarta-feira e outra?
Mais do que uma ou outra circunstância específica -como a
expulsão do técnico Jair Picerni
ou a possível falha do goleiro Silvio Luiz no segundo gol dos paraguaios-, penso que a explicação
é psicológica.
Em Assunção, com a torcida toda contra, os jogadores não tinham obrigação de vencer. No
Pacaembu, precisando apenas do
empate, a responsabilidade era
muito maior.
Durante as últimas semanas, o
Azulão tinha conquistado para o
seu lado todas as torcidas do Brasil, e muitas delas estavam representadas quarta-feira no Pacaembu. Por saber que não podiam decepcioná-las, os atletas (e
seu treinador) entraram em campo tensos. Faltava tão pouco para
conseguir a taça que o time teve
medo de ser feliz.
Muito pior do que a derrota
-afinal, um fato perfeitamente
normal no futebol- foi o anúncio, já no dia seguinte, de que o
treinador Jair Picerni seria dispensado pelo clube juntamente
com um punhado de jogadores.
A explicação do diretor de futebol do São Caetano para a dispensa -"Tudo bem perder uma
ou duas finais; perder três não
dá"- beira o ridículo.
Ora, raciocinem comigo: o Azulão só perdeu três finais seguidas
porque conseguiu chegar até elas,
deixando no caminho equipes
muito mais poderosas e tradicionais. Nenhum outro time brasileiro conseguiu manter-se no topo
durante o mesmo período.
É muito mais notável o fato de
um clube jovem e modesto ter feito campanhas tão boas nos últimos dois anos do que o fato de ter
perdido as três finais que disputou.
Tudo aquilo que permitiu ao
São Caetano se destacar no cenário futebolístico brasileiro -a
continuidade do trabalho do treinador, a política prudente de contratações- parece estar indo para o ralo de uma hora para outra
só porque dois pênaltis foram
chutados para fora. Se tivessem
entrado o técnico merecia ficar?
Esse tipo de atitude, comum a
muitos dirigentes brasileiros,
comprova a impressão de que eles
agem muito mais em resposta
imediata aos sentimentos de frustração e raiva dos torcedores do
que de uma estratégia para o bem
do clube.
Além de Jair Picerni, estão deixando o time os jogadores Robert,
Russo e Rubens Cardoso, que estavam emprestados. Se saírem
também Aílton e Adãozinho, como está sendo cogitado, é difícil
imaginar que o Azulão possa se
recompor a tempo de realizar um
bom Campeonato Brasileiro.
Em todo caso, já queimei a língua outras vezes ao pregar lucidez na nau dos insensatos que virou o futebol brasileiro.
Romário no Flu
E Romário, quem diria, acabou no Flu. Resta saber se
conseguirá, no tricolor, identificar-se tanto com o time e
sua torcida como ocorreu no
Vasco e no Fla. Terá dois obstáculos: o tempo curto (fica
só até o final do ano) e o mal-estar criado por sua contratação entre os jogadores do clube, que não recebem salários
há meses. A situação é mais
delicada no caso de Roni e
Magno Alves, que carregaram pedras durante anos e
agora brigarão entre si pela
vaga de parceiro de Romário.
Fora da realidade
Leio na Folha que Guilherme
pediu R$ 1,4 milhão para jogar no Corinthians até o final
do ano, o que daria uma média de R$ 280 mil por mês.
Para efeito de comparação:
Romário vai ganhar cerca de
R$ 180 mil mensais no Fluminense, e Arce conseguiu a duras penas manter seu salário
de R$ 120 mil no Palmeiras.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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