DA REPORTAGEM LOCAL

O delicado momento que Gustavo Kuerten atravessa sofreu um novo choque, desta vez vindo de dentro de sua própria equipe.
O técnico Larri Passos, que o orienta desde 1989 e sempre fez questão de elogiar o empenho de Guga em treinos e torneios após a artroscopia no quadril direito, em fevereiro, criticou a postura do tenista no Masters Series de Toronto, na última terça-feira.
"A atitude dele não foi de campeão. Se estava com problemas, Guga podia me chamar e dizer que não queria jogar. Mas preferiu entrar desmotivado e fazer aquilo", afirmou Larri, em entrevista à rádio Jovem Pan.
Kuerten abandonou a partida contra o romeno Andrei Pavel após ser derrotado no primeiro set por 7/5, alegando cansaço e fraqueza na perna direita.
Foi a primeira derrota de Guga para Pavel em sete confrontos. Foi também a primeira vez, desde a cirurgia no quadril, que o brasileiro caiu na estréia de um torneio.
"Já estou com o Guga há 12 anos e não preciso mais ficar do lado da quadra gritando tudo o que ele tem que fazer. Ele já é adulto", afirmou o técnico.
Larri contou que bateu boca com Guga após a partida. "Tivemos uma discussão, e eu coloquei o dedo na cara dele. Uma discussão entre jogador e técnico, mas com verdades que tinham que ser ditas. Ele me magoou bastante."
De acordo com o técnico, Kuerten poderia ter agido como o americano Andre Agassi, carrasco do brasileiro no Torneio de Los Angeles na semana passada.
"Agassi jogou uma final, sentiu uma fisgada e se retirou do torneio na semana seguinte."
Kuerten e Larri trabalham juntos desde 1989 e exibem uma parceria rara na elite do tênis, em que há muitas mudanças de técnico.
Ser muito bem-sucedida não garante que a relação jogador-técnico se prolongue. O caso mais emblemático é o do australiano Lleyton Hewitt, que em dezembro, após terminar o ano no topo do ranking, trocou Darren Cahill por Jason Stoltenberg.
Guga e Larri, 44, sempre demonstraram que a relação de ambos era mais que profissional. "Eu o amo como se fosse meu filho", afirmou o técnico na comemoração dos 25 anos de Guga em setembro de 2001, na Bahia.
Kuerten manifesta que o sentimento é recíproco. Várias vezes após ganhar títulos mencionou o técnico e disse "eu te amo".
"Comecei com ele [Larri" muito jovem, então ele tem uma grande influência na minha vida pessoal também", declarou Guga, no ano passado, após vencer Roland Garros pela terceira vez.
Após seu último título, em Cincinnati, em 2001, o tenista, que perdeu o pai, Aldo, em 1985, declarou que considerava Larri, junto com sua mãe, Alice, e o irmão mais velho, Rafael, como um dos seus "quatro pais".
Guga chegou, inclusive, a presentear Larri com um Mercedes-Benz CLK 230, que custa cerca de US$ 40 mil na Europa, recebido pelo título conquistado no Torneio de Stuttgart, em 1998.
No final da tarde, a assessoria de Kuerten divulgou que Larri ficou surpreso com a repercussão da entrevista. "Essas conversas que nós temos são normais e várias delas acontecem durante a temporada", afirmou o técnico.
Guga teria dado risada sobre os boatos de que a parceria havia acabado. "Foi a maior piada dos últimos tempos. Minha equipe sempre foi super unida e a cada temporada a união só aumenta."



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