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BASQUETE
Despertador
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Como todo mundo, nós,
basqueteiros, gostamos de
dormir em paz com nossas opiniões, nossa realidade. Talvez por
conta disso, porque isso nos reconforta, satélites cansados da órbita inercial, rezamos para o
avanço global do esporte nos últimos anos. "Caiu o Muro de Berlim das quadras!" "Não há mais
bobo no basquete!" "O império
americano ruiu!" "Estamos aí!"
Não pretendo aqui arruinar o
sono de ninguém. De fato, a periferia aprendeu um bocado desde
que David Stern e seus marqueteiros ligaram a máquina NBA de
espremer suco de bolas laranjas.
Prova disso foi o desempenho dos
EUA no Mundial de Indianápolis-02, quando os anfitriões, constrangidos, viram sérvios, argentinos e alemães no pódio.
Mas não custa ficar acordado
um pouco mais e, antes de abraçar o travesseiro, lembrar que,
ávida por novos mercados e ciosa
de sua matéria-prima (o basquete), a liga profissional norte-americana não só não se preocupa como é a primeira a divulgar/comemorar que o planeta todo "aprendeu a jogar". Hummm...
O "Dream Team" nasceu de um
plano comercial, e não, como a
maioria ainda crê, do diagnóstico
dos EUA de que urgia retomar a
hegemonia técnica após os reveses na Olimpíada-88 e no Pan-87.
A verdadeira revolução nesses
15, 20 anos ocorreu dentro da
NBA, e não fora dela. A receita
operacional do campeonato foi
de US$ 118 milhões a US$ 3 bilhões por ano. O faturamento
bruto com o licenciamento de
produtos saltou de US$ 10 milhões para outros US$ 3 bilhões
anuais. O valor médio de uma
equipe pulou de US$ 15 milhões
para US$ 300 milhões. Em 2004,
os direitos de TV renderão US$
733 milhões, 13.000% a mais do
que em 1984 -isso sem considerar os contratos internacionais.
É nesse ambiente zilionário que
os astros de basquete se reproduzem. Empanturrados, eles não se
importam mais com Jogos Olímpicos, Mundiais etc. Não à toa, ao
menos 14 rejeitaram a convocação (ou melhor, convite) para
Atenas. Fica estranho, portanto,
falar em paridade quando os craques nem se dignam a competir.
O senso comum é de que a potência foi forçada a recorrer aos
veteranos profissionais para evitar vexames internacionais. Mas
basta conferir o grupo que buscará o ouro na Grécia. Ele tem 23,6
anos de idade em média, quase
seis anos a menos do que seus adversários diretos.
Entre os olímpicos, figuram novatos como Dwayne Wade, LeBron James, Carmelo Anthony,
Amaré Stoudemire e Emeka Okafor. Todos estariam hoje na faculdade não tivessem sido fisgados
cedo pelos contratos da NBA.
Ou seja, passados 16 anos do
bronze em Seul-88, os EUA mantêm uma seleção "universitária"
capaz de lidar com o mundo.
Interessante: no comando dela,
estará o treinador mais "didático" da NBA, Larry Brown.
Interessante, também: os garotos entrarão em ação justamente
no 20º aniversário da Olimpíada
de Los Angeles, o evento que despertou o mundo para Michael
Jordan (e para a Nike), um alarme que não parou de tocar.
Sonho 1
Faltam um chutador de três pontos e um armador menos apoplético
que Stephon Marbury. Tim Duncan, único pivô legítimo, está sobrecarregado. A seleção reuniu-se há oito dias. Ainda assim, é favorita.
Sonho 2
A Argentina treinou pouco e não mostra o apetite do Mundial. Embora conte com um grupo coeso e bem treinado, a Sérvia não terá sua
estrela (Peja Stojakovic). A Espanha ascendeu, mas não assusta. É da
Lituânia, de Jasikevicius e Macijauskas, que parte a maior ameaça à
invencibilidade de 50 partidas olímpicas/pré-olímpicas dos EUA.
Sonho 3
A CBB encaixou Lula na Vila Olímpica para fazer intercâmbio. Afe.
E-mail melk@uol.com.br
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