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Recorde de alemã reforça "era da desconfiança"
Britta Steffen brilha nos 100 m e aquece debate sobre generalização da trapaça
Nadadora, que pensou em largar as piscinas, melhorou seu tempo em mais de um segundo no último mês, feito espantoso para a prova
DA REPORTAGEM LOCAL
Britta Steffen é uma estudante de engenharia de 22 anos que
cogitou abandonar a natação
dois anos atrás por causa de
suas marcas inexpressivas.
Ontem, em Budapeste, a alemã cravou o recorde mundial
em uma das provas mais badaladas do esporte: os 100 m livre.
Com 53s30, baixou em 12 centésimos a marca da australiana
Lisbeth Lenton. Coroou, assim,
uma evolução pessoal que impressiona. Em junho, havia obtido o melhor tempo de sua vida nos 100 m -54s29. Ou seja:
melhorou, no último mês, quase um segundo. É uma eternidade para a distância.
Por enquanto, trata-se de
uma bela história de superação,
mas o desfecho de casos recentes mostra que performances
brilhantes de quem saiu praticamente do anonimato nem
sempre chamam a atenção só
por méritos dos protagonistas.
Floyd Landis deixou a Volta
da França, principal evento do
ciclismo, consagrado por sua
galhardia. Depois, acabou flagrado em exame de doping.
Justin Gatlin virou co-detentor do recorde dos 100 m rasos
e nova menina-dos-olhos do
atletismo dos EUA. Na semana
passada, testes dele também
apontaram o emprego de substâncias proibidas.
"O esporte chegou à era de
desconfiança. Ninguém consegue olhar um resultado expressivo e atribuí-lo ao heroísmo de
um atleta. Pensamos sempre
na trapaça", afirma John Hoberman, pesquisador de doping
da Universidade do Texas.
Sua tese é polêmica, mas encontra guarida no discurso de
outros especialistas. "O doping
virou oportunidade de ascensão econômica. Para alguns
atletas que nada conseguiram
na vida, brilhar em provas nobres, como os 100 m, rende
contratos publicitários, rende
prêmios. Como nunca foram
estrelas, não têm nada a perder", diz Lamartine Pereira da
Costa, pesquisador membro da
comissão de ética e educação da
Agência Mundial Antidoping.
Ele não fala especificamente
de Britta, Landis ou Gatlin. Explica apenas que a imagem do
esporte e a de seus verdadeiros
heróis vão ficar arranhadas até
que o combate às trapaças se
torne abrangente no mundo.
"Não se pode vigiar somente
os atletas. É preciso interferir
no processo para evitar que o
doping caia nas mãos de quem
o utiliza", declara Costa.
Com agências internacionais
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