São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2011

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Chá de cadeira

Campeã mundial juvenil está sem competir há um ano pela demora no julgamento de doping

MARCEL MERGUIZO
DE SÃO PAULO

Há um ano Geisa Arcanjo, 19, guarda em casa a medalha de ouro conquistada no Mundial juvenil, no Canadá. Prêmio materializado em angústia desde 3 de agosto de 2010, quando a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) foi notificada do caso de doping da brasileira pega com o diurético hidroclorotiazida, substância proibida.
A atleta do arremesso de peso diz que "vacilou" ao ingerir cápsulas de chá verde que lhe custaram R$ 18 e um "castigo" interminável.
Desde então, a paulista de São Roque, que mora e treina em Uberlândia (MG), não compete. No período, teve suspensão provisória (em agosto), foi julgada e punida com advertência (em março).
A Anad (Agência Nacional Antidoping) da CBAt, entretanto, recorreu da sentença ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). E ela aguarda julgamento do Pleno do STJD. Não há data.
"Entro no site da CBAt todo dia. Me sinto sozinha. Já pensei em parar e voltar para casa", afirma Geisa.
A atleta esperava competir no Troféu Brasil, que começa hoje em São Paulo, com a expectativa de conseguir o índice para o Pan de Guadalajara. Não deu tempo.
Passou a sonhar com o retorno antes de 28 de agosto, data-limite em que acredita poder ser a melhor do Brasil e ir para os Jogos de outubro.
Geisa perdeu o salário de R$ 500 que ganhava do clube ASA/Sertãozinho, pois ainda não competiu em 2011.
Sem remuneração, passou a depender dos pais, que moram no interior de São Paulo -a mãe é dona de casa, e o pai, metalúrgico aposentado. Deixou a faculdade de psicologia -eram R$ 530 por mês.
Restaram-lhe apartamento, alimentação e transporte bancados pela CBAt.
"Não quero me comparar. Mas fiquei pasma com a velocidade com que resolveram o caso do Cielo. Ele também foi pego com diurético. Ele é campeão olímpico, e eu, mundial juvenil. Treino tanto quanto ele. Lutamos para defender o Brasil", desabafa.
O nadador Cesar Cielo testou positivo para o diurético furosemida, em maio. Em julho, foi advertido. No mesmo mês, apesar de apelação, a pena foi mantida, e Cielo ganhou dois ouros no Mundial.
Geisa acredita que vai devolver a medalha que tem. A chance de mantê-la é ser absolvida em última instância. A advertência é suficiente para ela perder o prêmio.
"Temos insistido com o STJD para marcar a audiência. Como o tribunal é independente, dependemos deles", disse o superintendente técnico da CBAt, Martinho Nobre dos Santos, por e-mail.
"Usualmente, não se demora tanto. A Iaaf [entidade que rege o atletismo mundial] nos cobra um posicionamento", diz o presidente da Anad, Thomaz Mattos de Paiva.
O advogado de Geisa crê que a decisão virá em breve. "Esse caso tem demorado além do normal. Por questões de agenda, talvez. Tão logo a Iaaf seja comunicada, tem 45 dias para recorrer, e não costuma demorar tanto", explica Luciano Hostins.
Enquanto isso, Geisa toma o amargo chá de cadeira.


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