São Paulo, quinta-feira, 03 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUCA KFOURI

Freud explica


Só o medo que os argentinos têm de perder para os rivais brasileiros justifica tantas provocações dos hermanos


Q UANDO AS duas melhores escolas de futebol do mundo se encontram não há espaço 000000para provocações baratas, até em nome da liturgia do clássico.
Ou não deveria haver, porque está havendo. Bastante.
E, como sempre, partindo deles, os argentinos, numa tentativa boba de ganhar por antecedência, no grito, como se as provocações fossem capazes de intimidar uma seleção com a experiência, a bagagem que tem a brasileira.
Numa busca de memória e, depois, numa pesquisa razoavelmente aprofundada, tentei recuperar momentos em que jogadores ou técnicos brasileiros tenham provocado seus adversários.
Não achei e peço ao raro leitor que escreva se lembrar algum caso.
O que mais se vê, ao contrário, são até declarações exageradas de respeito ao adversário, seja ele a Argentina ou a Venezuela. Trata-se de um jogo sem favorito, já devidamente esmiuçado em seus detalhes pela sempre brilhante coluna do vizinho Tostão.
Com o ingrediente do medo, do medo do lado de Maradona, porque uma derrota será catastrófica para ele, bem diferente do que ocorre do lado de Dunga.
Que certamente saberá aproveitar as bobagens ditas por Diego e por Carlitos Tevez, este último que deveria estar vacinado depois que quis brincar com o time B do Brasil numa Copa América e viu Adriano empatar no último segundo para levar a decisão aos pênaltis, com vitória verde e amarela no final.
Desnecessário reiterar aqui o respeito e a admiração do colunista pelo futebol argentino e como é bom ir a Buenos Aires. Este escrevinhador não está entre os que amam odiar a Argentina, ao contrário, está entre os que amam amá-la.
Assim como torce por Diego Armando Maradona em suas novas funções, por tudo que ele representa no futebol, por mais ciclotímico que seja, mas, principalmente, torce para que seu sucesso como técnico seja suficiente para alimentar a necessária força de vontade na luta contra a terrível doença que o ataca.
Mas também ele, com bem mais bagagem que Tevez, deveria estar vacinado e não provocar.
Ao contrário do que muita gente imagina, Maradona perdeu mais do que ganhou quando enfrentou a seleção brasileira.
Foram seis jogos entre 1979 e 1993. Apenas um jogo amistoso, outro pelo Mundialito do Uruguai, dois por Copas América e dois por Copas do Mundo, como mostra o excelente livro de Newton César de Oliveira Santos, "Brasil x Argentina - Histórias do Maior Clássico do Futebol Mundial (1908-2008)".
Ele só saiu vencedor em um e amargou três derrotas. Gols, marcou também apenas um.
Já Pelé, com quem sempre gosta de se comparar neuroticamente, porque em desvantagem sob quaisquer critérios, marcou oito gols nos hermanos e venceu quatro das dez partidas que disputou entre 1957 e 1970, com quatro derrotas.
Enfim, vamos ao jogo deste animado sábado à noite, com a expectativa de ver um senhor espetáculo, bola no chão, de pé em pé, sem truculência, sem violência e sem aquela valentia, dos dois lados, que só revela medo diante de um rival maior.

blogdojuca@uol.com.br


Texto Anterior: Futebol: A decadência do Milan
Próximo Texto: Clássico vira festa à moda corintiana
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.