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A Colômbia entra no mapa
Favorito ao título
logo na sua primeira
temporada na Indy,
Juan Pablo Montoya
surpreende os EUA e
faz seu país vibrar
com automobilismo
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FÁBIO SEIXAS
da Reportagem Local
Ar arrogante, 24 anos, poucas
palavras. E um sucesso meteórico.
Juan Pablo Montoya pode entrar no próximo domingo para a
história do automobilismo: tem
tudo para se tornar o primeiro colombiano campeão de uma das
categorias de elite do esporte.
Líder da Indy, mantém 13 pontos de folga sobre o segundo colocado, o escocês Dario Franchitti.
Caso vença o GP da Austrália,
no circuito de rua de Surfers" Paradise, e o rival fique abaixo do
quinto lugar, Montoya comemorará o título com uma prova de
antecipação -o campeonato, de
fato, só termina no dia 31, no superoval de Fontana (EUA).
Independentemente do título,
porém, o colombiano já marcou
seu nome como o piloto estreante
de maior sucesso na Indy.
Suas 7 vitórias nas 18 provas já
disputadas neste ano fulminaram
o recorde anterior, de 5 vitórias,
do inglês Nigel Mansell, em 1993.
De olho na F-1, onde ganhou a
admiração de Frank Williams, ele
esteve neste ano no centro dos
boatos sobre negociações de equipes e pilotos para o ano que vem.
Permaneceu nos EUA. E adotou
de vez o discurso da categoria.
Apesar da morte do uruguaio
Gonzalo Rodrigues, há três semanas, na pista de Laguna Seca, diz
que os carros da Indy são tão seguros como os da F-1 e mais evoluídos tecnologicamente. E descarta correr na F-1 antes de 2002.
Vindo de um país sem tradição
alguma no automobilismo, Montoya encontrou justamente aí sua
motivação: quer colocar a Colômbia no mapa do esporte.
"Espero tornar o caminho mais
fácil para os futuros pilotos colombianos", disse em entrevista
concedida à Folha.
Nesta semana, teve uma amostra do seu sucesso. Recebido como herói em Bogotá, foi homenageado com a Cruz de Boyaca,
mais alta condecoração do país.
"Seus bons resultados não são
uma casualidade. São produtos
de sacrifício, esforço e talento. Ele
é um exemplo para todos os colombianos", disse o presidente do
país, Andres Pastrana.
Pouco modesto, Montoya disse:
"Construí uma escada e hoje estou no topo. Que isso sirva para
mostrar a todos que, trabalhando
duro, é possível subir na vida".
Folha - Sinceramente, você esperava esse sucesso logo no seu
primeiro ano na Indy?
Juan Pablo Montoya - De jeito
nenhum. Meu objetivo antes da
temporada era tentar ganhar uma
corrida. Não imaginei que fosse
possível vencer sete provas e, possivelmente, o campeonato.
Algumas vezes acho que estou
sonhando. Toda a equipe vem
trabalhando muito duro e me deu
condições de fazer uma temporada melhor do que podíamos imaginar. Eu pensava que levaria alguns anos para começar a ganhar
corridas aqui. E, definitivamente,
não achava que esse sucesso pudesse ser tão imediato.
Folha - No ano passado, você
disputou a F-3000 e testou o F-1
da Williams. Quais foram suas
primeiras impressões de um carro da Indy? E seus primeiros
contatos com os ovais?
Montoya - Os carros não são tão
diferentes. O que mais muda é a
sensibilidade que temos no volante e a força dos freios. Antes da
temporada eu testei muito e,
quando o campeonato começou,
já estava me sentindo confortável.
Quanto aos ovais, foram um
pouco mais difíceis. Na pré-temporada, só testei em ovais uma ou
duas vezes. A primeira impressão
que se tem, pela altíssima velocidade, é de excitação e medo. Eu
nunca havia andado tão rápido,
mas acho que me adaptei bem.
Morris Nunn, meu engenheiro,
Chip (Ganassi, ex-piloto, dono da
equipe) e Jimmy (Vasser, seu
companheiro no time) me deram
vários conselhos sobre como pilotar nos ovais. Hoje posso dizer
que gosto tanto dos ovais como
dos circuitos mistos.
Folha - Falando sobre tecnologia, segurança e recursos técnicos, como você compara os carros de F-1 com os da Indy?
Montoya - Eu diria que as duas
categorias têm carros muito seguros. A impressão que tenho, hoje,
é que há mais tecnologia nos carros da Indy, mas deve ser porque
estou cada vez mais envolvido no
trabalho dos engenheiros durante
os testes e as corridas.
Folha - Como vem sendo a repercussão do seu trabalho na
Colômbia?
Montoya - Fui poucas vezes para a Colômbia neste ano, mas parece que o automobilismo vem se
tornando mais popular por lá
desde que eu comecei a vencer.
Sinto um tremendo orgulho de
olhar para as arquibancadas dos
autódromos depois das corridas e
ver torcedores acenando com a
bandeira da Colômbia.
Folha - Como foi o seu início
no automobilismo?
Montoya - Quando eu tinha
cinco anos, meu pai me levou para um pista de kart em Bogotá. Ele
me colocou no colo e deixou que
eu segurasse o volante, enquanto
ele acionava os pedais.
A partir daquele dia, passei a
amar o automobilismo.
Folha - Quem é seu ídolo no
automobilismo?
Montoya - Meu pai. Ele sempre
foi meu ídolo. Outros pilotos me
trouxeram motivação para seguir
na carreira e me aperfeiçoar, mas,
ídolo de verdade, só meu pai. Ele
já foi piloto, depois se formou em
arquitetura e hoje é o responsável
pela minha carreira.
Folha - Você já experimentou
lançar algum produto com sua
marca na Colômbia?
Montoya - Ainda não, mas temos planos para isso. Meu pai já
vem estudando algumas possibilidades. Por enquanto, só venho
fazendo alguns comerciais de TV
no meu país.
Folha - Qual é a sua opinião
sobre a questão do tráfico de
drogas na Colômbia?
Montoya - É claro que é um
problema bastante grave, mas
que vem melhorando.
Folha - Qual é a duração do
seu contrato com a Ganassi? Você ainda tem algum compromisso com a Williams?
Montoya - Eu tenho um contrato de três anos com a Ganassi. E
não tenho absolutamente nada
assinado com a Williams.
Folha - Como você vê suas
possibilidades de levar o título
da Indy neste ano?
Montoya - Normalmente, tento
não pensar muito para a frente.
Mas agora não tem mais jeito. Sei
que dá para conquistar o campeonato na Austrália. Tenho que me
concentrar em ganhar o máximo
de pontos possível e é isso. Não
posso controlar o que o Dario
(Franchitti) vai fazer, então tenho
que partir para tentar vencer.
Folha - O Alessandro Zanardi,
bicampeão da Indy (97-98), vem
tendo um ano difícil na F-1 e só
agora parece estar se adaptando melhor à categoria. Na sua
opinião, porque ele teve tantos
problemas?
Montoya -Eu acho que mudar
da Indy para a F-1 é mais difícil do
que o movimento inverso. O Alessandro é um grande piloto e logo
vai vencer corridas na F-1.
Folha - Seu país não tem tradição alguma no automobilismo.
Isso foi uma dificuldade a mais
no início da sua carreira?
Montoya - Às vezes complicava,
porque pouquíssimos pilotos
saem da Colômbia para tentar a
sorte em outros países. Vindo de
um país sem tradição, você precisa, a partir do zero, conquistar o
respeito dos donos de equipes e
dos outros pilotos.
Espero estar tornando esse caminho mais fácil para os futuros
pilotos colombianos.
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