São Paulo, Domingo, 03 de Outubro de 1999
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A Colômbia entra no mapa



Favorito ao título logo na sua primeira temporada na Indy, Juan Pablo Montoya surpreende os EUA e faz seu país vibrar com automobilismo
FÁBIO SEIXAS
da Reportagem Local

Ar arrogante, 24 anos, poucas palavras. E um sucesso meteórico.
Juan Pablo Montoya pode entrar no próximo domingo para a história do automobilismo: tem tudo para se tornar o primeiro colombiano campeão de uma das categorias de elite do esporte.
Líder da Indy, mantém 13 pontos de folga sobre o segundo colocado, o escocês Dario Franchitti.
Caso vença o GP da Austrália, no circuito de rua de Surfers" Paradise, e o rival fique abaixo do quinto lugar, Montoya comemorará o título com uma prova de antecipação -o campeonato, de fato, só termina no dia 31, no superoval de Fontana (EUA).
Independentemente do título, porém, o colombiano já marcou seu nome como o piloto estreante de maior sucesso na Indy.
Suas 7 vitórias nas 18 provas já disputadas neste ano fulminaram o recorde anterior, de 5 vitórias, do inglês Nigel Mansell, em 1993.
De olho na F-1, onde ganhou a admiração de Frank Williams, ele esteve neste ano no centro dos boatos sobre negociações de equipes e pilotos para o ano que vem.
Permaneceu nos EUA. E adotou de vez o discurso da categoria.
Apesar da morte do uruguaio Gonzalo Rodrigues, há três semanas, na pista de Laguna Seca, diz que os carros da Indy são tão seguros como os da F-1 e mais evoluídos tecnologicamente. E descarta correr na F-1 antes de 2002.
Vindo de um país sem tradição alguma no automobilismo, Montoya encontrou justamente aí sua motivação: quer colocar a Colômbia no mapa do esporte.
"Espero tornar o caminho mais fácil para os futuros pilotos colombianos", disse em entrevista concedida à Folha.
Nesta semana, teve uma amostra do seu sucesso. Recebido como herói em Bogotá, foi homenageado com a Cruz de Boyaca, mais alta condecoração do país.
"Seus bons resultados não são uma casualidade. São produtos de sacrifício, esforço e talento. Ele é um exemplo para todos os colombianos", disse o presidente do país, Andres Pastrana.
Pouco modesto, Montoya disse: "Construí uma escada e hoje estou no topo. Que isso sirva para mostrar a todos que, trabalhando duro, é possível subir na vida".

Folha - Sinceramente, você esperava esse sucesso logo no seu primeiro ano na Indy?
Juan Pablo Montoya -
De jeito nenhum. Meu objetivo antes da temporada era tentar ganhar uma corrida. Não imaginei que fosse possível vencer sete provas e, possivelmente, o campeonato.
Algumas vezes acho que estou sonhando. Toda a equipe vem trabalhando muito duro e me deu condições de fazer uma temporada melhor do que podíamos imaginar. Eu pensava que levaria alguns anos para começar a ganhar corridas aqui. E, definitivamente, não achava que esse sucesso pudesse ser tão imediato.

Folha - No ano passado, você disputou a F-3000 e testou o F-1 da Williams. Quais foram suas primeiras impressões de um carro da Indy? E seus primeiros contatos com os ovais?
Montoya -
Os carros não são tão diferentes. O que mais muda é a sensibilidade que temos no volante e a força dos freios. Antes da temporada eu testei muito e, quando o campeonato começou, já estava me sentindo confortável.
Quanto aos ovais, foram um pouco mais difíceis. Na pré-temporada, só testei em ovais uma ou duas vezes. A primeira impressão que se tem, pela altíssima velocidade, é de excitação e medo. Eu nunca havia andado tão rápido, mas acho que me adaptei bem.
Morris Nunn, meu engenheiro, Chip (Ganassi, ex-piloto, dono da equipe) e Jimmy (Vasser, seu companheiro no time) me deram vários conselhos sobre como pilotar nos ovais. Hoje posso dizer que gosto tanto dos ovais como dos circuitos mistos.

Folha - Falando sobre tecnologia, segurança e recursos técnicos, como você compara os carros de F-1 com os da Indy?
Montoya -
Eu diria que as duas categorias têm carros muito seguros. A impressão que tenho, hoje, é que há mais tecnologia nos carros da Indy, mas deve ser porque estou cada vez mais envolvido no trabalho dos engenheiros durante os testes e as corridas.

Folha - Como vem sendo a repercussão do seu trabalho na Colômbia?
Montoya -
Fui poucas vezes para a Colômbia neste ano, mas parece que o automobilismo vem se tornando mais popular por lá desde que eu comecei a vencer. Sinto um tremendo orgulho de olhar para as arquibancadas dos autódromos depois das corridas e ver torcedores acenando com a bandeira da Colômbia.

Folha - Como foi o seu início no automobilismo?
Montoya -
Quando eu tinha cinco anos, meu pai me levou para um pista de kart em Bogotá. Ele me colocou no colo e deixou que eu segurasse o volante, enquanto ele acionava os pedais.
A partir daquele dia, passei a amar o automobilismo.

Folha - Quem é seu ídolo no automobilismo?
Montoya -
Meu pai. Ele sempre foi meu ídolo. Outros pilotos me trouxeram motivação para seguir na carreira e me aperfeiçoar, mas, ídolo de verdade, só meu pai. Ele já foi piloto, depois se formou em arquitetura e hoje é o responsável pela minha carreira.

Folha - Você já experimentou lançar algum produto com sua marca na Colômbia?
Montoya -
Ainda não, mas temos planos para isso. Meu pai já vem estudando algumas possibilidades. Por enquanto, só venho fazendo alguns comerciais de TV no meu país.

Folha - Qual é a sua opinião sobre a questão do tráfico de drogas na Colômbia?
Montoya -
É claro que é um problema bastante grave, mas que vem melhorando.

Folha - Qual é a duração do seu contrato com a Ganassi? Você ainda tem algum compromisso com a Williams?
Montoya -
Eu tenho um contrato de três anos com a Ganassi. E não tenho absolutamente nada assinado com a Williams.

Folha - Como você vê suas possibilidades de levar o título da Indy neste ano?
Montoya -
Normalmente, tento não pensar muito para a frente. Mas agora não tem mais jeito. Sei que dá para conquistar o campeonato na Austrália. Tenho que me concentrar em ganhar o máximo de pontos possível e é isso. Não posso controlar o que o Dario (Franchitti) vai fazer, então tenho que partir para tentar vencer.

Folha - O Alessandro Zanardi, bicampeão da Indy (97-98), vem tendo um ano difícil na F-1 e só agora parece estar se adaptando melhor à categoria. Na sua opinião, porque ele teve tantos problemas?
Montoya -
Eu acho que mudar da Indy para a F-1 é mais difícil do que o movimento inverso. O Alessandro é um grande piloto e logo vai vencer corridas na F-1.

Folha - Seu país não tem tradição alguma no automobilismo. Isso foi uma dificuldade a mais no início da sua carreira?
Montoya -
Às vezes complicava, porque pouquíssimos pilotos saem da Colômbia para tentar a sorte em outros países. Vindo de um país sem tradição, você precisa, a partir do zero, conquistar o respeito dos donos de equipes e dos outros pilotos.
Espero estar tornando esse caminho mais fácil para os futuros pilotos colombianos.



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