São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2005

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FUTEBOL

O pior do Brasil é o....

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

N ão sei quantas vezes já fui abordado por pessoas que me perguntaram: "Pombas, com um jogo tão importante você escreve sobre os bastidores do futebol?".
De fato. E hoje a promessa era de fazer esta coluna sobre aquele que deveria ser o primeiro jogo que somaria mais de 100 pontos no Brasileiro, Inter (que tinha 51) x Flu (que tinha 50). Mas a partida dos 101 pontos virou dos 95, com a decisão de anular os jogos apitados pelo árbitro que é tão chegado às apostas que apostou que não seria pego com diploma falso. A única aposta que ganhou, aliás, foi a de que seus chefes permitiriam que ele continuasse a apitar mesmo assim.
Exagerado nos elogios ao colunista que ocupou, a pedido dele mesmo, seu lugar às segundas-feiras, o craque (este sim!) José Geraldo Couto deu graças por não precisar mais escrever na correria do fim da rodada dominical.
Fosse ele tão chato como eu e não teria o problema.
Que jogo, afinal, disputado ontem, foi mais importante que a anulação de 11 prélios jogados entre 8 de maio e 10 de setembro neste campeonato?
Anulados pelo nosso Rei Só, Luiz Zveiter, que a exemplo de seu xará Luís 14, o Rei Sol da França, resolveu que "o futebol sou eu", como o Estado era o outro no século 17.
"Eu determino, eu decido" e pronto: está tomada a decisão menos pior possível, com todas as injustiças nela embutida, porque onde teve Edilson Pereira de Carvalho há motivos para fazer tudo de novo.
O que o episódio ensina em torno da sociedade brasileira não é pouca coisa. Basta ver que todos os cartolas e torcedores dos clubes beneficiados pela decisão a apóiam. E que nenhum prejudicado deixa de condená-la.
O certo e o errado que se danem. É o que acham os corintianos (que também não estão nem aí para a origem do dinheiro da MSI), os mais beneficiados porque vão poder recuperar seis pontos que perderam, e os cruzeirenses (que convivem há anos com o "Armazém Perrelas"), que terão de disputar novamente duas partidas que venceram. Assim como os demais envolvidos.
Infeliz, e emblemático, o slogan, não por acaso, recentemente criado, que diz que "o melhor do Brasil é o brasileiro".
Porque nós, brasileiros, continuamos a querer levar vantagem em tudo, pouco preocupados com o justo e o injusto, o ético e o antiético, seja na política (precisa explicar?), no esporte e na vida. Furar a fila, jogar papel no chão, distorcer, mentir, misturar jornalismo com propaganda, vale tudo.
E tem mais: a decisão de fazer os jogos com portões abertos, justificadamente preocupada em preservar os direitos do torcedor, não pode esquecer que aquele que pagou ingresso para ver um jogo anulado precisa ter a garantia de seu lugar caso ainda tenha o ingresso, assim como quem pagou para ver na TV deve ter o mesmo direito.
Diante disso tudo, que importância teve a rodada de ontem?

Beira-Rio luminoso
Inter e Flu, dois dos times mais bem organizados do campeonato (faltou incluir o do São Paulo na coluna de ontem) ficaram num empate que só ajudou ainda mais o Corinthians. O Beira-Rio estava cheio e luminoso, mas o clássico foi menos bom do que se esperava.

Pacaembu chuvoso O Corinthians, que se não tinha padrão com Márcio mostrou menos que isso diante do Brasiliense, tamanha a sua desorganização, incapaz de tocar a bola, quesito no qual foi superado pelo time candango. O Pacaembu estava cheio e chuvoso, mas o jogo foi uma comédia de erros. Pode um jogo com cinco gols ser ruim? Pois foi, porque todos nasceram de falhas grotescas. Se jogar assim contra o Flu, levará uma traulitada.

blogdojuca@uol.com.br

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