São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Reformulação na entidade faz amigos do dirigente pedirem demissão

Teixeira perde dois de seus maiores aliados na CBF

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Descontentes com a reformulação da diretoria promovida pela Fundação Getúlio Vargas, dois dos mais antigos dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol estão deixando a entidade.
O primeiro a pedir demissão foi o diretor de patrimônio, Melchiades Mariano, que estava na CBF desde os anos 80, antes de Ricardo Teixeira assumir a presidência.
Em setembro, ele deixou o cargo, sem alarde, por não concordar com a reorganização interna. Pelo novo organograma, sua diretoria perderia poder na estrutura da CBF. A decisão do dirigente só foi comunicada oficialmente no dia 30 de setembro, quando ele enviou sua carta de demissão a todas as federações filiadas.
""A minha decisão está na carta. Não falo mais sobre o assunto", disse Mariano à Folha.
Apesar de se manter praticamente no anonimato, o dirigente era um dos maiores aliados de Teixeira, tendo sido um dos articuladores da campanha que começou no México, em 1986.
No ano passado, ele cedeu sua casa para uma das mais polêmicas reuniões da CBF. Na ocasião, o presidente da entidade reuniu todos os presidentes de federações para dar início a uma ofensiva contra a CPI do Senado, que devassou sua administração.
Teixeira pediu, sem sucesso, aos presidentes das federações que o ajudassem a evitar a aprovação do relatório da CPI. Os senadores sugeriram ao Ministério Público, no relatório final da CPI, o indiciamento de Teixeira pela prática de crimes fiscais, lavagem de dinheiro e apropriação indébita.
A conversa foi captada pela Rádio Gaúcha. A fita foi gravada a partir do telefone celular do presidente da Federação de Futebol do Rio Grande do Sul, Emídio Perondi. O repórter da emissora havia ligado para o dirigente, que não atendeu o telefonema, mas deixou o celular ligado.
Mariano era o dirigente mais reservado da CBF. Ao ser indagado pela Folha sobre a decisão, ele se limitou a dizer que era ""pessoal".
O outro dirigente que está deixando a CBF é o ex-diretor de futebol feminino da CBF Luiz Miguel Estevão de Oliveira, irmão do senador cassado Luiz Estevão.
Ele disse que vai falar com Teixeira antes de oficializar a saída. Segundo Luiz Miguel, seu departamento foi englobado no ""novo departamento de seleções".
""Estou aguardando o Ricardo para decidir sobre isso", disse o dirigente, que foi vice-presidente da CBF no primeiro mandato de Teixeira. Luiz Miguel é um dos homens fortes da administração. Ele já ocupou várias vezes a presidência da entidade. ""A decisão depende das condições que vão ser dadas para mim. Tenho que aceitar muita coisa."
Desde o mês passado ele está tentando falar com Teixeira, mas não consegue localizá-lo. "As mudanças me foram comunicadas pelo secretário-geral [Marco Antônio Teixeira". Vou tentar encontrá-lo na Suíça para falar sobre o assunto", disse o dirigente, na segunda-feira, antes de embarcar para a sede da Fifa, onde ele participaria na sexta-feira de uma reunião sobre futebol feminino.
Para Luiz Miguel, a saída de Melchiades Mariano vai ser uma grande perda para a CBF. ""Ele é uma bandeira na CBF. O Mariano esteve com o Ricardo em todos os momentos", disse.
As mudanças que agora estão sendo colocadas em prática foram fruto de trabalho da FGV, contratada pela CBF há cerca de dois anos. Além de enxugar as diretorias da CBF, a fundação foi a responsável pela transferência da entidade da tradicional sede no centro do Rio para um "bunker" na Barra da Tijuca, na zona oeste. A mudança ocorreu logo depois da Copa do Mundo.



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