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Campeão acelerou carro pela 1ª vez aos três anos
Lewis Hamilton sentou-se em um kart em 1988, em período de férias da família
Pai do piloto, separado da mãe desde que ele tinha um ano, teve de arranjar mais dois empregos para manter vivo sonho de chegar à F-1
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira segunda-feira de
1985 foi de festa para os Hamilton. Na pequena Stevenage, 47
km ao norte de Londres, naquele dia 7 de janeiro, Anthony
e Carmen comemoraram o
nascimento de seu primeiro filho. Lewis Carl Davidson.
Apesar de desde cedo notarem o amor do garoto pela velocidade, não imaginavam que
ontem, exatos 8.701 dias depois, ele se tornaria o mais jovem campeão da história da F-1. E mudaria a cara da categoria.
"Foram 16 anos de espera.
Nunca pensei que este dia fosse
chegar", disse Anthony, ontem,
com lágrimas nos olhos.
O começo foi realmente difícil. Antes de o filho completar
dois anos, o casal se separou.
O garoto ficou então sob os
cuidados da mãe e de seu namorado, Raymond. Aos finais
de semana, ia para a casa do pai.
Foi nesse período que ele começou a mostrar seus dotes
"automobilísticos". Em agosto
de 1988, quando tinha três
anos, teve seu primeiro contato
com um kart. Foi durante as férias da família, em Ibiza.
Dois anos mais tarde, ganhou
do pai um carrinho movido a
controle remoto. Sua habilidade com o brinquedo era tamanha que foi convidado a participar do programa infantil "Blue
Peter", na rede de TV BBC.
Mas os finais de semana na
casa do pai não eram gastos
apenas no controle remoto do
carrinho. Lewis gastava horas
na frente da TV ao lado de Anthony. As corridas de F-1 eram
programa obrigatório aos domingos na hora do almoço. Era
época dos famosos duelos entre
Ayrton Senna e Alain Prost.
Aos oito anos, ganhou de presente de Natal um kart. E, dois
dias depois de completar oito
anos, fez sua estréia no kartódromo de Rye House, perto de
sua casa. Foi quando assumiu
de vez os volantes e deixou de
lado os controles remotos.
As provas de kart começaram
a ficar mais e mais freqüentes e,
para diferenciar o filho dos outros garotos, Anthony teve a
idéia de trocar o capacete vermelho por um amarelo, que se
assemelhava ao de Senna.
Bastaram dois anos para que
viesse o primeiro título. E, desde aquela época, veio acompanhado por um recorde. Em
1995, tornou-se o mais jovem
piloto a conquistar o Inglês de
kart na categoria cadete.
Além do título, Lewis ainda
ganhou um prêmio. Foi eleito o
piloto de kart do ano pela revista "Autosport". Na cerimônia
de premiação, usando um terno
emprestado do garoto que ganhara no ano anterior, tomou
uma atitude que mudaria o rumo de sua carreira depois.
Com seu caderninho de autógrafos nas mãos, saiu à caça de
seus ídolos. Damon Hill, Colin
McRae, Richard Burns, John
Surtees. Quando chegou perto
de Ron Dennis, encontrou o dirigente da McLaren tão à vontade que se empolgou.
Engatou uma conversa de
quase 15 minutos com o inglês e
disse que gostaria muito de correr por sua equipe um dia.
A carreira de Lewis parecia
estar tomando rumo, mas seu
pai não conseguia mais bancar
suas despesas. Nascido em Granada, Anthony chegou à Inglaterra aos três anos e desde cedo
seguiu a mesma carreira do pai,
Davidson, na rede ferroviária
inglesa, o que não lhe rendia
muito dinheiro. Para manter
vivo o sonho do filho, teve de
arrumar mais dois empregos
-Davidson, que voltou ao Caribe após a morte da mulher, até
hoje dirige um ônibus.
A situação só melhorou em
1998, quando Lewis assinou
contrato com a McLaren para
participar de seu programa de
desenvolvimento de talentos.
Em 2001, ele deu o salto que
faltava. Passou a correr na F-Renault inglesa. No ano seguinte, foi o terceiro colocado, com
uma vitória, e chegou a pensar
em desistir da carreira. Mas
Anthony não deixou. Em 2003,
sagrou-se campeão.
Na temporada seguinte, novo
passo. Disputou o Europeu de
F-3. Conquistou apenas uma
vitória e terminou o ano em
quinto. Ainda assim, ganhou
um presente e andou pela primeira vez num carro de F-1.
Em 2005, sobrou na F-3 européia. Ganhou 15 das 20 corridas, foi campeão, testou pela
McLaren e foi convidado a correr na GP2, a categoria-escola
da F-1, na temporada seguinte.
Não demorou para que começasse a conseguir resultados
melhores que seu companheiro
de equipe, o francês Alexandre
Premat, que já tinha corrido de
GP2 no ano anterior. As vitórias em Mônaco e nas duas etapas em Silverstone fizeram a F-1 acordar para o jovem Lewis.
Em setembro e outubro, participou pela primeira vez de
testes com um McLaren, com
um macacão emprestado que
cheirava a suor. Em 30 de outubro, na casa de Dennis, recebeu
a notícia que tanto esperava:
seria parceiro do bicampeão
Fernando Alonso em 2007.
"Devo tudo a meu pai. Ele me
deu a oportunidade, e agarrei
com as duas mãos. Agora estou
pagando de volta", falou o campeão de 2008.
(TATIANA CUNHA)
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