São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

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JUCA KFOURI

Crônica de uma queda anunciada


Quem tinha olhos, via. Os cegos não viam o que os bandidos faziam na equipe mais popular de São Paulo


N ADA MAIS a fazer. O Corinthians chegou ao fundo do poço. O Inter perdeu do Goiás e matou a esperança alvinegra. Pobre torcida corintiana.
A segunda maior paixão coletiva do país pode até renascer, revigorar-se com o calvário que passará a viver no ano que vem.
Mas jamais poderá esquecer quem a trouxe a tal humilhação.
Cartolas carcomidos e corruptos, associados a aventureiros sem escrúpulos, incentivados por uma mídia podre e cúmplice, e com o apoio de conselheiros mais preocupados com os fins do que com os meios, além da cegueira geral.
Sim, porque isso tudo com o respaldo dos que, nas numeradas, aplaudiam a quadrilha enquanto um time pouco mais que medíocre ganhava o título de 2005.
E ai de quem os denunciava.
Se o fundo do poço, no entanto, significasse a certeza do renascimento, talvez até valesse a pena.
Mas, nada garante, ao contrário.
Andrés Sanches, cujo passado no Corinthians/MSI é condenável, não aprendeu a lição.
Gandulas que atrapalham o jogo como no Pacaembu, ou 20 minutos de atraso no Olímpico (o time demorou tudo isso para entrar em campo, mas nem 1/20 disso para tomar o gol gremista), não só não ornam com profissionalismo e ética, como menos ainda combinam as contratações que ele anuncia.
O que fará Antônio Carlos como diretor corintiano, ele que se despediu ontem do Santos?
Não recomendará a contratação de jogadores negros, para fazer jus ao seu currículo de único jogador brasileiro punido por racismo?
Mas o Bóvio pode?
Ou será ele apenas mais um representante de Vanderlei Luxemburgo, que, não satisfeito em assumir também o Joinville, parece estar virando uma holding neste obscuro mundo do futebol?
A verdade é que não é hoje, é anterior mesmo aos mafiosos da MSI, que o Corinthians está sem rumo, e nada indica uma correção de rota.
Acredite se quiser, mas a nova direção corintiana passou esses dias garantindo, com ar misterioso, que o time não cairia, espertos que são.
Pois neste aspecto o domingo foi glorioso, porque não só a arbitragem mandou voltar duas vezes a cobranças de pênalti em Goiânia, a dano do Corinthians, como o Galo ainda classificou o Cruzeiro para a Libertadores, em mais uma histórica tropeçada do Palmeiras em casa.
É mesmo, o Santos também perdeu em casa, para o Flu, e o São Paulo foi mais uma vez derrotado na Arena da Baixada.
Derrotas que, é claro, nada significam, exceção feita à do Palmeiras, um prejuízo enorme.
Nada, no entanto, que se aproxime da derrocada corintiana.
Corintianos da velha-guarda, que jejuaram 22 anos, vão precisar ensinar às novas gerações alguma coisa que eles nem sequer suspeitam.
Que o que fez o Corinthians foi o sentimento de que não há derrotas definitivas para o povo, razão pela qual é possível recomeçar.
Mas é preciso identificar dentro de casa quem são os inimigos, os que só querem explorar o Corinthians, porque também é inegável que, neste dezembro de 2007, o povo está, sim, sendo derrotado.

blogdojuca@uol.com.br


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