São Paulo, quinta-feira, 03 de dezembro de 2009

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JUCA KFOURI

Pela honra do futebol


Não existe rivalidade que justifique um time fazer corpo mole para não favorecer o rival. Em nome do jogo


A POIADA PELA maioria dos torcedores, segundo apontam as pesquisas científicas e as sondagens não científicas, além da presença do torcedor nos estádios como não acontecia desde 1987, eis que a fórmula dos pontos corridos está na berlinda por supostamente favorecer a malandragem nas derradeiras rodadas, quando rivais tradicionais não se interessam pelas vitórias para não ajudar o outro.
O comportamento, de fato, é lamentável sob todos os aspectos.
E difícil de ser evitado num país de pouca cultura futebolística, de nenhum respeito pela liturgia do jogo e no qual a única regra que parece existir é a de levar vantagem em tudo, haja vista que temos mensalões democraticamente distribuídos por todos, repita-se, todos, os maiores partidos políticos do país.
Dá-se o nome de pragmatismo à recepção de fanático que nega o Holocausto -e gente de respeito se perde ao botar lenha na fogueira da violência ou ao denunciar brincadeira de péssimo gosto de candidato que virou presidente como se fosse coisa séria. Para não falar de candidatos potenciais que agridem mulheres e fica tudo por isso mesmo. Isto é o Brasil. E por que seria diferente no futebol? Claro que o argumento dos que imaginam que só os pontos corridos favorecem malas brancas e corpos moles não se sustenta.
Porque a mala branca aparece também quando um clube precisa do resultado de um terceiro para ficar entre os classificados para os mata-matas. E, do mesmo modo, nada impede que um Grêmio, se não tiver mais chance de ficar entre os finalistas, faça corpo mole diante de um Vasco, caso uma vitória sobre o adversário classifique o Inter.
O Grêmio entra aqui só como exemplo, mas não exatamente como Pilatos no Credo, porque o Grêmio é o objeto de desconfiança na próxima rodada, como foi o Corinthians na anterior, embora o Santos também seja. (O professor de ética do complicado IWL deitou falação de vendedor de carro usado ao dizer que "cada clube tem de se preocupar com o que é melhor para o próprio clube e não para os outros clubes").
Mas Mano Menezes não parece ser muito diferente, ao fazer o teatro e o discurso que fez na derrota contra o Flamengo, em Campinas. Revelou-se, aliás, mau ator, canastrão mesmo, como este presidente do Sport que promete processar quem chamar o Flamengo de hexacampeão, coisa que esta Folha não considera, o colunista considera e assim fará, como já o chama de pentacampeão desde 1992, legítimo dono da desmoralizada, pela CBF e pelo então parceiro São Paulo FC, taça das bolinhas.
Porque é isso: falta respeito ao jogo de futebol no Brasil, algo que sobra no país de seus inventores, a Inglaterra, mas não só lá.
Inimaginável também na Espanha que um Barcelona amoleça para o Sevilla com a intenção de prejudicar o Real Madrid, coisa que faria a orgulhosa Catalunha corar. Por aqui, enquanto não nos educamos, enquanto não possuirmos instrumentos realmente eficazes para combater a corrupção e a falta de compostura, quem sabe a marcação dos clássicos estaduais para as últimas rodadas do Brasileirão atenue a malandragem.

blogdojuca@uol.com.br

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