São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2002

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BOXE

Rei das confusões

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mike Tyson não é mais o que costumava ser nos ringues. De tão enferrujado e fora de forma (leia-se "gordo"), estava quase irreconhecível em sua última luta (contra Brian Nielsen). Fora dos ringues, porém, sua característica mais marcante segue intacta: Tyson demonstrou uma vez mais esta semana seu talento inato para atrair a atenção, causar polêmica, ocupar as manchetes e povoar o imaginário coletivo.
A peripécia desta vez foi modesta, se comparada a outras cometidas pelo próprio ex-campeão dos pesos-pesados no passado: no lobby de um hotel em Cuba, país que estava visitando, Tyson, sem camisa, revoltou-se com o fato de ter sido reconhecido e atirou alguns enfeites de cristal de Natal na cabeça de jornalistas. Também atingiu, de leve, por duas vezes, a nuca de um cinegrafista.
Foi uma travessura modesta perto de outras já cometidas pelo mesmo Tyson, mas foi o bastante para o norte-americano chamar a atenção de jornais de todo o mundo e de agências de notícias. Qual outro pugilista teria a habilidade de criar tanta polêmica logo nos primeiros dias do ano?
Evander Holyfield? Seu único ""pecado" foi ter tido (vários) filhos fora do casamento. Mas não é polêmico, talvez chato (na convenção anual do Conselho Mundial de Boxe, em 2000, quando foi um dos homenageados, parecia não querer estar onde estava).
O britânico Lennox Lewis? Não passa de um elegante bebedor de chá. Nem sua ""briga", aparentemente coreografada, com o norte-americano Hasim Rahman em um estúdio de TV convenceu. Quem assistiu ao tal programa na ESPN International pôde conferir que, ao agarrar os ternos um do outro, Lewis e Rahman tiveram todo o cuidado para nem sequer amassar a roupa do adversário.
O mais perto que Lewis chegou de provocar uma polêmica foi ficar calado quando o comentarista da ESPN International Max Kellerman perguntou se o britânico fumava maconha (ao ser questionado se ele é gay, Lewis riu, mas respondeu que não).
O único que chegou perto de Tyson, quando se trata de criar confusão, foi o já aposentado Riddick Bowe. O grandalhão não gostava só de bater nos adversários, mas também na irmã e na mulher, além de ter sido detido por sequestrar os próprios filhos.
Os fatos de Bowe ter se alistado no exército (e desistir depois de alguns dias) e de ter se oferecido para trabalhar como inspetor de alunos em um colégio ganhando um salário ""de fome" também atraíram o interesse da imprensa. Mas não o qualifica para competir com Tyson por este último ter sido mais consistente (citações com mais regularidade).
Outro que teve chance de desafiar Tyson em termos de polêmica foi o ""Atomic Bull" (""Touro Atômico") Oliver McCall, seu ex-sparring, desqualificado contra Lewis por chorar durante a luta. De novo, o fato de contar com poucas citações o prejudica quando comparado a ""Iron" Mike.
Aliás, nem é necessário prosseguir analisando os ""currículos" de outros transgressores. É só ver a vida de Tyson para comprovar que ele é o campeão indiscutível das confusões: acusações de assédio sexual, condenação por estupro, brigas de rua, agressões, acidentes automobilísticos, mordidas nas orelhas de adversários...
Resta apenas aguardar para conferir o que mais o ex-campeão nos reserva para este ano.

Popó 1
O pôster promocional da unificação de cinturões envolvendo Popó e o cubano Joel Casamayor, no próximo dia 12, nos EUA, traz o slogan ""Os Campeões Invictos" escrito em inglês e espanhol.

Popó 2
Traz também o nome dos pugilistas, mas não menciona os apelidos dos lutadores, Popó e Cepillo (""vassoura, pincel").

Popó 3
Os preços dos ingressos variam entre US$ 30 e US$ 105, uma pechincha, se comparados aos de outras programações.

Na telinha
O campeão dos palhas da FIB, Roberto Leyva, participa na madrugada de sábado de luta não-válida pelo título contra Manny Melchor. A DirecTV exibe ao vivo, em seu canal 303, a partir das 2h.

E-mail: eohata@folhasp.com.br


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