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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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FUTEBOL

Tico, Teco e o Limbo F.C.

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Às vezes o leitor deve se perguntar: de onde vêm esses regulamentos absurdos dos Campeonatos Brasileiros? Pois bem, curioso leitor, eu acabarei com essa dúvida.
São eles Tico e Teco. Mais precisamente, Tico de Souza (diretor de Regulamentos para Certames Ludopédicos) e Teco da Silva (diretor-assistente-adjunto para Tabelas de Jogos). Ambos trabalham na CBF, mas prestam consultoria para diversas federações, entre elas, é claro, a gloriosa Federação Paulista.
Há dois meses, eles tiveram uma conversa mais ou menos assim:
- O que vamos aprontar desta vez, Tico?
- Que tal trazermos o Guarani de volta para a primeira divisão, Teco?
- Mas isso não é injusto e imoral, Tico?
- É claro que é, Teco.
- Então está bem.
- Mas ainda é pouco...
- É verdade, Tico, com desonestidade as pessoas já se acostumaram. Aposto que essa história do Guarani nem vai sair muito no jornal.
- Então vamos inventar uma coisa bem esquisita, Teco...
- Tipo o quê, Tico?
- Quem sabe se um dos times tivesse que parar no meio do campeonato?
- Seria maravilhoso, Tico! Mas acho que isso é impossível.
- Não, não é não. Primeiro a gente faz três grupos de sete, o que já é ótimo porque desse jeito um clube sempre vai ter que ficar de fora da rodada.
- Os dirigentes não vão aceitar, Tico.
- Eles são tão burros que nem vão perceber, Teco. Mas olha só: depois dessa fase, só se classificam oito clubes...
- Por que não nove, três de cada grupo, Tico?
- Porque aí não tem graça.
- Você é um gênio, Tico. Aí então os outros treze times vão lutar contra o rebaixamento, não é?
- Não, Teco, aí é que fica mais divertido. Só 12 disputam o rebaixamento. O time que chegar em nono sai do campeonato.
- Sai? Assim no meio?
- É. Não fica nem nos classificados nem nos desclassificados. Fica no limbo. É o Limbo F.C.
- Tico, não sei como você consegue imaginar essas coisas!
- Eu sou pago para isso, Teco.
 
Se a fase classificatória terminasse hoje, o Rio Branco seria o terceiro entre os terceiros.
 
E, falando em Rio Branco, nesse domingo, tivemos: Rio Branco 3 x 2 Ponte Preta. Tive que me segurar para não usar frases como "Rio Branco submerge Ponte Preta", "Rio Branco passa por cima de Ponte Preta", "Rio Branco provoca enchente de gols, e Ponte desaba na tabela" etc... Felizmente resisti à tentação de fazer humor fácil e não escrevi nada disso.
 
Foi inacreditável a bagunça encontrada por quem foi ao Pacaembu assistir a Juventus x Santos. Enfrentei filas enormes, bilheterias fechadas, falta de sinalização e, quando cheguei ao guichê, o bilheteiro disse que os ingressos de R$ 10 haviam acabado e que só havia os de R$ 5, mas que eu poderia pagar R$ 10 que não haveria problema. Ora, se paguei R$ 10 por um ingresso de R$ 5, alguém ficou com a diferença. E, é claro, a renda não foi divulgada, o que facilita o roubo.

C
Corisco era o ponta-direita mais veloz de Cromínia. Tanto que se dizia que nem uma bala poderia alcançá-lo. Com isso ganhou muito dinheiro e muitíssimas mulheres. Uma delas, no entanto, era casada com um homem de boa pontaria. E foi assim que se soube que o finado Corisco não era mais rápido que uma bala.

D
Dorim era um beque central do Capão dos Ossos F.C. Era do tipo que gosta de ouvir ossos quebrando. Mas, um dia, Dorim enfrentou Apolônio, o mais belo centroavante de todo o Espinhaço. Naquele jogo, Dorim perseguiu Apolônio por todo o campo, mas não lhe deu um pontapé sequer. A conta disso foi que Apolônio fez quatro gols. Na segunda Dorim foi encontrado morto. Matou-se com arsênico. Estava quase nu. Apenas a bandeira do clube cobria seu corpo de mulher.

E-mail torero@uol.com.br


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