São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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JUCA KFOURI

Para entender (?) o Corinthians


De como o que era situação virou oposição, e vice-versa, num clube às portas de completar seu centenário

O CORINTHIANS , como o Brasil, não é para amadores.
Dividido ao meio, o clube elegeu um presidente do Conselho Deliberativo da situação com diferença de apenas dois votos, mas é a oposição que deve passar a dominar as próximas reuniões do órgão em que foi derrotada por tão pouco.
Derrotada, em termos, logo se vê, porque obteve um avanço colossal e seus membros são mais militantes que os da situação, alguns trazidos de fora do Estado de São Paulo apenas para votar na terça-feira passada, algo que não deverá se repetir nas assembléias futuras.
O líder da oposição, Andrés Sanchez, foi entusiasta da parceria com a MSI e fez cem conselheiros na última eleição.
Hoje, registre-se, não quer desfazer o contrato com Kia Joorabchian, mas queria rediscuti-lo em termos menos leoninos para o clube. Não terá como.
Já a situação elegeu também sua chapa no Cori, o Conselho de Orientação (e fiscalização), que deverá ser presidido por Roque Citadini, ferrenho opositor da parceria.
Em sua escolha está implícita a dissolução da parceria, algo que Alberto Dualib não tem coragem de fazer, pois será reconhecer o tamanho do erro que cometeu contra o Corinthians, apesar de avisado.
Quer fazê-lo, no entanto, com o chapéu de quem sempre se opôs, como Citadini, que acha a oposição pior do que a situação.
Sanchez, aliás, imagina que nem ache, apenas não goste dele.
A derrota da oposição, se teve por um lado o sentido da vitória de Pirro da situação, por outro traz um prejuízo imediato para o clube: estava em marcha a reforma do estatuto corintiano, com um avanço estupendo no sentido da democratização de seus fundamentos ao, por exemplo, proibir mais de uma reeleição e ampliar sensivelmente os direitos dos sócios.
Ocorre que Citadini, publicamente, já se comprometeu com tais princípios e será exatamente ele um dos que terão o poder de convocar assembléias para discuti-los.
Ou seja, um membro da situação (ou da terceira via, como prefere) deverá ser o responsável pela introdução de uma reforma que condenará à morte o estilo ditatorial e nepotista de Dualib.
Dualib, que tem como principal assessor hoje um empresário falido que não é corintiano, não é profissionalizado no clube, foge da verdade como o diabo da cruz e vende atletas pra lá e pra cá.
Há até quem o tenha ouvido dizer, ao telefone celular, para outro cartolinha corintiano, que a multa paga pela rescisão de contrato de Christian foi de R$ 800 mil, enquanto o Corinthians informa, em sua página na internet, que foi de R$ 500 mil. Ele dirá que não disse.
Do lado da oposição, também ocorrem coisas estranhas, como a abstenção do deputado Romeu Tuma Jr. na votação para o Conselho Deliberativo, repita-se, decidida por apenas dois votos (178 a 176).
E há, na situação, quem garanta que os surpreendentes 18 votos que a oposição recebeu entre os cem conselheiros biônicos indicados por Dualib foram em função de um acordo entre Sanchez e Nesi Curi, vice-presidente do clube.
Sanchez nega de pés juntos.
Neste quadro confuso, só uma previsão, diante das inevitáveis multas que ainda virão do Banco Central pelas transações internacionais feitas fora do figurino: daqui a três anos o Corinthians completará seu primeiro centenário na mais cava das depressões. E estamos tratando do clube mais popular do Estado mais rico da União, com potencial para ser o mais poderoso do país.
O que também explica muita coisa para quem, além de profissional, for bom entendedor.
Nem amador, nem mamador.

blogdojuca@uol.com.br


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