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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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BOXE

Ralph, o espectador especial

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O velho Ralph Zumbano assistiu o neto o superpesado Raphael Zumbano, 22, tornar-se o 28º pugilista da dinastia Jofre-Zumbano ao estrear na terça, revivendo tradição que por quatro décadas fez com que o clã fosse sinônimo de pugilismo no Brasil.
Ralph, ex-campeão brasileiro dos leves e tio do bicampeão Eder Jofre, no entanto, era mais lembrado no passado recente por ter revelado o peso-pesado Adilson "Maguila" Rodrigues. Ele morreu há dois anos, aos 76 anos.
É que, na cabeça de Raphael, o avô acompanha todos os seus combates -antes de estrear, disputou algumas lutas-treino.
Assim como aconteceu antes daquelas lutas, o pugilista acomodou cuidadosamente em sua bolsa na última terça-feira uma foto do avô, na qual este assistia TV, só que tirado do ângulo do aparelho de TV. Para Raphael, isso dá a impressão de que Ralph assiste seus combates. "Foi nele [Ralph] em que primeiro pensei [após vencer]. Tenho certeza de que ele estava assistindo."
Logo após bater Fernando Gustavo por abandono no segundo assalto, no tradicionalíssimo torneio Forja de Campeões, Rapahel criticou sua performance, reclamou que poderia ter lutado melhor. Segundo ele, o nervosismo o teria prejudicado. "Da próxima vez, vou estar melhor", afirmou.
É mesmo curioso ele ter feito tal observação. Em minha opinião, sua principal qualidade durante a luta foi justamente a calma, a impressão de que sabia exatamente o que fazia no ringue.
Foi uma performance calma, admirável -para um estreante... (não vamos nos precipitar e já dizer que é um novo Eder Jofre).
Outro detalhe interessante foi o fato de Raphael não dar descanso ao adversário ao ver que este estava mal. Seu primo famoso, Eder, que curiosamente não assistiu sua estréia, havia dito em dezembro, em matéria publicada por esta Folha, que Raphael parecia condescendente com os rivais durante as lutas-treino. Não foi o que me pareceu na terça-feira.
"Ouvi o conselho de Eder. Era a mesma coisa que meu avô dizia, que você é que tem de mandar no ringue", explicou Raphael, que, no entanto, iniciou o combate abusando dos contra-ataques.
Quanto ao desejo de Raphael de liderar o renascimento de uma nova dinastia de boxeadores na família Zumbano-Jofre, este enfrenta alguns obstáculos.
Seu primo, Felipe Zumbano, fez alguns treinamentos, mas "só de leve". Não tem condições, por causa do trabalho, no momento, de se dedicar ao pugilismo.
Quanto a seu próximo combate, contra Ricardo Sousa, pelas quartas-de-final da Forja (no ginásio do Baby Barione, na rua Germaine Burchard, 451, em São Paulo, na terça-feira, com entrada franca), Raphael está muito otimista.
"O primeiro adversário era mais alto do que eu e atirava os golpes de qualquer maneira. Estou mais acostumado com golpes retos. O próximo oponente é mais baixo do que eu, então será mais fácil para eu impor o meu jogo."
E, caso vença essa sua próxima luta, estará, como de hábito, dedicando a vitória a seu mais especial torcedor: o avô Ralph.

Brasil 1
O armênio que busca naturalização brasileira José Archak, apelidado nos EUA de "Shark Attack", enfrenta hoje à noite o norte-americano Patrick Thompson, de Denver, que tem 2 vitórias, 1 por nocaute, segundo informa a empresa de promoção de lutas Main Events.

Brasil 2
Uma figura folclórica prestigiava uma das últimas edições da Forja. Tratava-se do meio-médio-ligeiro Ariosvaldo Urbano, conhecido desde o saudoso CMTC Clube, nas décadas de 80 e 90, como "Camacho", por tentar imitar o visual do porto-riquenho Hector Camacho. Meu colega Rodrigo Bertolotto, porém, o chama de "O Homem da Cabeça de Plástico", por causa da época em que usou o cabelo loiro platinado e lambido. Inativo, Urbano jura que volta a lutar em breve.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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