São Paulo, sábado, 04 de abril de 2009

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JOSÉ GERALDO COUTO

Dia da dúvida


Os torneios anteriores a 71 equivalem ao Brasileirão? A seleção é amada? Ronaldinho já pendurou as chuteiras?


O DOMINGO terá Fla-Flu, Gre- -Nal e a definição do último classificado para as semifinais do Paulistão, mas não vou emitir palpite nenhum sobre esses importantes eventos. Hoje não é dia de vaticínios, mas de dúvidas. Tudo começou quando um de meus leitores mais queridos e fiéis, Conrado Giacomini, perguntou-me, "na lata": "O que você acha dessa polêmica sobre a "unificação" dos títulos brasileiros a partir da Taça Brasil e do Robertão?". Como o autor da pergunta é um são-paulino militante, autor de um belo livro sobre a história do time tricolor, imagino que ele seja contra a tal unificação, para preservar intacta a supremacia do São Paulo em termos de títulos. Outros já se manifestaram a favor, com o argumento de que nosso futebol não começou em 1971, com o primeiro Brasileiro, e que antes houve outros torneios de dimensão (ou pelo menos importância) nacional. Quanto a mim, pensei, pensei e fiquei rigorosamente em cima do muro. Não tenho opinião formada e explico por quê. Se, por um lado, não é possível desprezar sumariamente as conquistas "nacionais" de times como o Santos, o Cruzeiro e o Botafogo anteriores a 71, não há como equipará-las aos títulos dos Brasileiros, porque se tratam de competições de estrutura e natureza distintas. Se forem levados em conta os títulos de torneios como a Taça Brasil, o Roberto Gomes Pedrosa e até o Rio- -São Paulo, como querem os revisionistas mais radicais, deverão ser computados também os da Copa do Brasil, criada quando já existia o Brasileirão, mas que também tem caráter nacional e qualifica para a Taça Libertadores da América. Mexe-se portanto num vespeiro de proporções imprevisíveis. O debate é inflamado porque envolve as paixões clubísticas, frequentemente tão irracionais quanto as religiosas. Temo que uma solução satisfatória para a questão esteja tão distante quanto a convivência pacífica entre palestinos e judeus no Oriente Médio. Outra dúvida que me assaltou nos últimos dias foi provocada pelo locutor da Rede Globo, que durante a transmissão de Brasil 3 x 0 Peru declarou que a população brasileira ama incondicionalmente a sua seleção. Será mesmo? Por que então tantos ingressos para a partida encalharam na bilheteria, deixando constrangedores brancos na arquibancada? Por que se ouviram tantas vaias e refrões críticos? A terceira questão que não quer calar: por que, contra todas as expectativas, os jogos do Paulistão marcados para a tarde de uma quinta-feira normal tiveram um ótimo público, ou seja, uma Vila Belmiro lotada e um Morumbi com plateia acima da média do São Paulo em casa? Há duas hipóteses, não necessariamente excludentes. A primeira é a de que compareceram em massa estudantes (muitos cabulando aula) e famílias que normalmente não têm condução para voltar de partidas noturnas. A outra explicação, mais pessimista, é a de que já não faz diferença um jogo à tarde ou à noite, uma vez que os trabalhadores deixaram de ir ao estádio, que virou prioritariamente território de gangues de desocupados. Uma última dúvida: Ronaldinho já se aposentou ou ainda vai voltar a jogar?
jgcouto@uol.com.br


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