São Paulo, domingo, 04 de junho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Ministro dos Esportes, ex-jogador peruano acha que "nacionalismo exacerbado" favorece seleção da casa hoje
Cubillas aposta em fator extracampo para vencer o Brasil

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC

Melhor jogador da história do futebol peruano e hoje com status de ministro dos Esportes do governo Fujimori, Teófilo Cubillas, 51, acha que a seleção brasileira terá sérias dificuldades para sair de Lima com uma vitória.
E não só porque a equipe da casa evoluiu -""é a melhor seleção que temos desde 1982"-, mas especialmente pela pressão extracampo, fruto, em grande parte, do momento político que vive o país.
Há exatamente uma semana Alberto Fujimori foi eleito para cumprir seu terceiro mandato como presidente, numa eleição muito questionada pela comunidade internacional e que teve a ausência de Alejandro Toledo, o candidato da oposição.
Em entrevista à Folha, por telefone, Cubillas afirmou que ""o nacionalismo peruano está exacerbado" e que, ""em momentos assim, a tendência é de (a população) extravasar, ainda mais sendo um jogo contra o Brasil, dono do melhor futebol do mundo".
Ele lembrou que, na estréia do time peruano nas eliminatórias -2 a 0 contra o Paraguai, em Lima-, os adversários sentiram a pressão. ""A torcida não pára de gritar e intimida até os jogadores mais experientes."
Segundo o ex-jogador, que ocupa há quase nove meses a presidência do Instituto Peruano de Esportes, no Peru só se fala de duas coisas: da nova reeleição de Fujimori e da partida de hoje à tarde contra o Brasil.
""As críticas (ao processo eleitoral, feitas pela comunidade internacional) serviram para unir o povo peruano. O ufanismo vai ser sentido domingo (hoje)."
Sobre o governo Fujimori, Cubillas não poupa elogios. E cita até a seleção peruana como prova de seus feitos. ""É um sinal do que estamos fazendo pelo esporte do país. O Peru tinha saído do cenário esportivo. Pouco a pouco, estamos retornando."
No futebol, diz que estão no ""caminho certo". ""Ficamos fora das últimas quatro Copas, mas temos todas as condições de disputar a de 2002. Nosso time hoje é mais experiente e vai ser melhor ainda daqui a alguns anos. Estamos construindo campos na periferia, massificando o esporte, e isto tudo, mais cedo ou mais tarde, vai acabar rendendo frutos."
Além do futebol, Cubillas acha que o Peru pode obter bons resultados no boxe e no vôlei feminino. ""Nos anos 80, tínhamos grandes jogadoras de vôlei. Depois, a falta de investimentos afetou (essas modalidades), e só agora sinto uma reação."
Em relação à equipe de Wanderley Luxemburgo, a opinião do peruano é que ""será um oponente difícil". ""Estou acompanhando pelos jornais e sei que vocês (brasileiros) estão com problemas. A pressão sempre é muito grande, e o time não pode perder."
Um empate, para Cubillas, seria um bom resultado para os dois times. ""Em casa, temos de vencer todos, menos Brasil e Argentina."
Participante da seleção peruana que perdeu por 6 a 0 para a Argentina na Copa-78, resultado que tirou o Brasil da final -podia perder por até três gols-, ele sabe que o assunto não está esquecido, ""nem nunca será". ""Sempre que jogarmos contra o Brasil, aquela partida será discutida. Foi assim em 1993, quando eu era comentarista de TV (durante a Copa América). Era só um brasileiro me encontrar para perguntar se vendemos o jogo (para os argentinos). Sei que agora a situação não será diferente."
E, de fato, não é. Venderam? ""Posso falar por mim, mas acho que também posso falar pelos outros. Não entregamos o jogo. No futebol, todos têm de estar preparados para vencer e para perder. Como o Brasil sempre entra para vencer, quando tem um revés, todos vão atrás das explicações mais absurdas possíveis."
Para Cubillas, foi o que aconteceu também na Copa-98, quando o Brasil perdeu a final para a França, após Ronaldo ter sofrido uma crise nervosa.
""É um assunto desagradável (o da Copa-78). Não iria prejudicar o Brasil, até porque admiro muito os brasileiros. Aprendi muito com Didi e Aymoré Moreira (que treinaram o peruano) e prefiro me lembrar de momentos melhores, como a Copa de 1970."


Texto Anterior: Partida em Lima tromba com política
Próximo Texto: Paulista define último finalista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.