São Paulo, quinta-feira, 04 de junho de 2009

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JUCA KFOURI

A grande farra do futebol


Não é só no Brasil que o futebol abriga todo tipo de desatino. Veja o que está acontecendo na Espanha

QUE O ESPORTE é uma das áreas mais propensas à lavagem de dinheiro é sabido. Que nele enriquecem até os gestores menos aptos também não é novidade.
Basta dizer que a Fifa tem até uma comissão que investiga lavagem de dinheiro, embora haja quem jure que é jogo de cena.
Seja ou não, fato é que anda para cima e para baixo, com um celular que pertence à CBF, o mesmo delegado Protógenes Queiroz que admira Ricardo Teixeira, mas briga com o Gilmar Mendes, que faz parcerias com a CBF de Ricardo Teixeira tanto no STF quanto no CNJ. E olhe que não são poucos os processos que tramitam na mais alta corte do país, tanto da CBF quanto de Teixeira.
Mas o esporte é mesmo uma bênção, haja vista a grande festa de aniversário do ministro que cuida da área na segunda-feira passada, em São Paulo, felizmente paga com o ótimo salário que ganham nossos ministros, entre uma e outra tapioquinha que ninguém é de ferro.
Nessas festinhas, por sinal, sempre frequentada por gente importante e influente, além dos bajuladores de plantão, fica-se sabendo, por exemplo, que Rodrigo Paiva, o homem de comunicação da CBF e do comitê organizador da Copa de 2014, é favorável ao Morumbi como sede da abertura, ao contrário de seu companheiro de comitê, Mário Rosa, o que viajou para Miami com passagens gentilmente cedidas pelo deputado Ciro Nogueira (PP-PI) e pagas com o nosso suado dinheirinho.
Mas se aqui é como é, no vitorioso futebol da magnífica Espanha não é muito diferente.
Recente reportagem do jornal "El País", provavelmente o melhor jornal do mundo hoje em dia, descreve o estado de ruína do futebol local, afundado em dívidas que chegam à casa dos 3,450 bilhões, quase um quinto só de impostos. E os argumentos são idênticos aos que se ouvem por aqui: "Se faço as coisas certas administrativamente, descemos de divisão e me matam. Não tenho outra saída a não ser me endividar", diz um cartola.
E não se vê nenhuma solução a curto prazo, como nos anos 90, quando a criação das Sociedades Anônimas Desportivas (SAD) zerou o endividamento dos clubes.
A diferença notória é que, como quem deve por lá é rebaixado, os que se empanturram sem poder acabam sendo obrigados a recorrer à chamada "Ley Concursal", com o que negociam suas dívidas, mas são obrigados a deixar a gestão nas mãos da Justiça, em bom espanhol, sob intervenção.
O que é objeto de protesto da parte do presidente do sindicato dos futebolistas, Gerardo Movilla: "A lei provoca uma injustiça. Ajuda os clubes mal administrados a se impor esportivamente sobre os bem geridos e assim que não conseguem pagar suas dívidas, são acolhidos por essa legislação para não descer. Ao final, a lei penaliza duplamente os clubes bem administrados".
Qualquer semelhança com a nossa Timemania será mera coincidência, até porque é mais ou menos consensual na Espanha a necessidade de um órgão regulador no futebol, já que os mecanismos de fiscalização fecham seus olhos diante da importância dos clubes de futebol em suas comunidades.

blogdojuca@uol.com.br


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