São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011

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RITA SIZA

O senhor da limpeza


Novo comitê da Fifa me recorda personagem que limpa a sujeira antes que alguém se dê conta


PODIA COMENTAR os confrontos de gigantes nas semifinais do torneio de ténis de Roland Garros, na França: Rafael Nadal contra Andy Murray (torcia pelo escocês) e o superrecordista Roger Federer contra Novak Djokovic, o homem do momento. Os "quatro mosqueteiros" da raquete não deixaram que nenhum outro se intrometesse na sua festa: em Paris, espera-se nada menos que o melhor ténis do mundo. Ou então podia falar da despedida anunciada por Shaquille O'Neal, o "Grande Aristóteles", o bom gigante do basquetebol dos EUA que dizia ser uma "aberração da natureza", que não sabia de que planeta viera e que agora se retira do esporte, após 19 anos de carreira.
Mas foge-me o pé para a (baixa) política, e decidi comentar a reeleição de Joseph Blatter para a presidência da Fifa. Será o quarto mandato do suíço de 75 anos, que voltou a concorrer sem oposição e a obter um resultado venezuelano de 91%, apesar da sequência de escândalos a afetar a imagem e a credibilidade da instituição que lidera desde 1998.
As acusações de corrupção e nepotismo que pendem contra a liderança de Blatter pelos vistos não importunam os membros das federações nacionais que compõem a Fifa, à excepção dos britânicos, que tentaram impugnar as eleições, e do presidente da Associação Europeia de Clubes (e do Bayern de Munique), Karl-Heinz Rummenigge, que em estilo directo alemão exigiu "mudanças drásticas" no governo da Fifa, nomeadamente "que introduza procedimentos e estruturas democráticas e transparentes".
Blatter prometeu introduzir alterações ao modo de funcionamento da Fifa, no sentido de promover a "transparência" após "semanas muito, muito duras" (de campanha eleitoral, presume-se): vai deixar de ser apenas o Comité-Executivo a decidir quais serão os organizadores dos Mundiais de Futebol e vai passar a haver um Comité de Ética e ainda um tal de "Comité de Solução" para vigiar as questões bicudas e dirimir os eventuais problemas de conflito de interesse no funcionamento da Fifa.
Blatter, que já se garantiu até 2015, fez aprovar isso tudo no mesmo dia da reeleição. Além desse resultado, ficamos pois a saber que a partir de agora qualquer país candidato a ter uma Copa vai precisar de distribuir bastante mais benesses para obter muito mais votos, mas será que isso muda realmente o "sistema"? E quanto ao "Comité de Soluções", temo apenas o pior: só de ouvir o nome, lembrei-me logo do Harvey Keitel no filme Pulp Fiction, "The Wolf", o senhor da limpeza que aparece e desaparece misteriosamente para limpar o sangue e a sujeira antes que alguém se dê conta.


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