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BASQUETE
Seis degraus de separação
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
O Vasco não é um bicho-papão na marcação, como pintam os rivais e como confortavelmente endossa a comissão técnica
do time. Alguns vascaínos, como
Byrd e Varejão, titubeiam no mano-a-mano, não conseguem
acompanhar nem a sombra. Os
playoffs deixaram isso claro.
Com infiltrações, o Franca quase aplicou uma surpresa histórica
nas semifinais. E, na decisão, Oscar & Cia. rubro-negra não encontraram problemas para manter pontuações altas (36 e 103).
Mas, para controlar o oponente,
desacelerar o ritmo do jogo, a defesa vascaína é decente. Sobretudo no Brasil, em que os atacantes
não têm coragem e/ou competência para agredir a cesta.
O ataque cruz-maltino também
não faz babar. Os corta-luzes,
símbolos das jogadas ensaiadas,
são raros e sem sofisticação. A bola parece girar esterilmente e quase sempre vai para perto da tabela
("low post"). Mas essa massagem
da bola, tão incompatível com o
corrido basquete moderno, aparece, no Vasco, como virtude.
O ataque pouco se desespera,
não se assusta com marcações dobradas. Servindo esse feijão-com-arroz pouco temperado, obteve
por jogo 25 assistências, 75% a
mais do que o flamenguista. E,
principalmente, repartiu o ônus
da cesta entre os jogadores. Todos
os titulares registraram mais de
dez pontos por partida nas finais.
Não que o Vasco prescinda de
cestinhas. Os veteranos Vargas,
37, e Charles Byrd, 34, cumprem
esse papel. Aos desavisados, pode
parecer um erro, pois ambos passaram do auge físico. Mas Vargas
e Byrd ainda sabem sacar uma
cesta da cartola, outra raridade
nas quadras nacionais (tanto que
os dois são estrangeiros...).
Na hora do aperto, é a eles que a
bola é confiada. O primeiro escoa,
como um pedágio, quase todos os
ataques de meia-quadra. E o segundo se encarrega de "desentupi-los" nas situações críticas. Vargas anotou 26,5 pontos por jogo
na decisão; Byrd, 20,7. Esse esquema, maçante e repetitivo, hipnotiza o adversário e permite que
coadjuvantes dêem o bote.
No caso do Vasco, Rogério é o
mais beneficiado. Incapaz de
criar o próprio arremesso, ele é
um estilingue mortal quando ignorado pela marcação. Na segunda vitória sobre o Fla, explodiu silenciosamente com 33 pontos.
Quem também engana à primeira vista é o banco de Hélio
Rubens. Dos sete reservas, só três
costumam jogar. Mas Demétrius,
Aylton Tesch e Mingão fornecem
o combustível de que os titulares
precisam -o primeiro nas infiltrações, os outros nos rebotes.
Toda essa estrutura, tanto o esquema tático como os próprios
atletas, foi transplantada de
Franca para o Rio. E, se o público
carioca ainda não teve tempo para se converter, os dirigentes vascaínos cuidaram para assegurar
uma arquibancada entusiasmada -distribuiu ingressos para organizadas do futebol (mais de
60% do público das finais).
Uma marcação pé-no-chão,
que garanta muitas posses de bola, canalizadas para cestinhas
confiáveis, mas rendidos ocasionalmente por coadjuvantes, numa dinâmica de jogo extenuante
que requer o oxigênio de bons reservas e o apoio de uma torcida
engajada. Grave bem a fórmula.
Vai dar mais pódios.
Escada 1
Hélio Rubens festeja, logo no
primeiro semestre no Vasco,
seu sétimo título nacional (o
quarto consecutivo) e consolida o currículo mais expressivo do basquete brasileiro.
Escada 2
Cada partida teve um coadjuvante-herói (Varejão, Rogério, Ratto...). Mas achei decisiva a participação de Helinho e Demétrius, que responderam com 57 assistências e 11 "turnovers". A relação, superior a 5 para 1, é excelente. E impressiona ainda
mais ao se constatar que os
dois somaram apenas 190 minutos nos 170 de jogo. Ou seja, registraram a produção de
uma dupla, mas gastaram o
tempo de quadra de um só.
Escada 3
Oscar, 42, mostrou que ainda
tem pontaria e fôlego (só não
jogou 4 dos 170 minutos!) para virar o milênio em quadra.
E-mail melk@uol.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata
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