São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2001

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Argentina rouba do Brasil hegemonia no sub-20 e cria celeiro de craques

A virtude mora ao lado


Tratada como prioridade, categoria de base domina Mundiais juniores e fornece atletas para a seleção principal, que lidera com folga as eliminatórias da Copa-2002


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

É com garotos de 13 anos que o Brasil começa a perder no século 21 a batalha eterna que trava com o futebol argentino pela supremacia sul-americana e mundial.
Com um projeto ambicioso confeccionado ainda na primeira metade da década passada, os argentinos investiram na base, conquistaram a hegemonia dos Mundiais juniores que pertencia ao Brasil e, o mais importante, formaram jogadores para a seleção adulta que lidera atualmente, com muita folga, as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002.
Hoje, o país enfrenta o Paraguai por uma vaga na final do Mundial sub-20 que hospeda. Se ficar com o título, será o terceiro nas últimas quatro edições da competição.
Além de mais uma conquista, o time júnior atual tem uma safra, puxada pelo astro Savíola, que logo deve garantir mais "munição" para o treinador Marcelo Bielsa na equipe principal.
Desde que José Pekerman assumiu o comando das categorias de base da Argentina, em 1994, os times de garotos do país forneceram vários jogadores para a seleção principal. Dos titulares de Bielsa nas eliminatórias, dois atletas -o lateral Sorín e o zagueiro Samuel- são oriundos de gerações formadas por Pekerman.
Outro, o meia Aimar, também atua no time principal no qualificatório. Por opção do técnico, gente do nível do meia Riquelme, outro ex-jogador da seleção júnior e principal destaque do recente título do Boca Juniors na Libertadores da América, não joga na seleção adulta.
Os jogadores recém-saídos das categorias de base argentinas têm alta cotação na Europa. O Barcelona, por exemplo, está disposto a gastar mais de US$ 40 milhões para contratar Riquelme e Savíola.
Enquanto isso, no Brasil, o futebol júnior é tratado com descaso. Nos últimos quatro Mundiais, quando perdeu a hegemonia da categoria para seu maior rival, nunca repetiu um treinador.
As equipes que disputam os torneios, competitivas ainda pelo talento dos jogadores, são montadas em cima da hora e ainda não recebem prioridade -Ewerthon e Fábio Rochemback, que deveriam estar no time que foi eliminado da atual edição do Mundial por Gana no último domingo, foram cortados para ficarem na reserva da seleção principal.
Dessa forma, cada vez menos o time júnior do Brasil, que ainda tem pelo menos o domínio entre os juvenis, serve como trampolim para a formação adulta.
A equipe que Luiz Felipe Scolari começou usando no jogo do último domingo contra o Uruguai, pelas eliminatórias, não tinha nenhum jogador que disputou uma das últimas quatro edições do mais importante torneio sub-20.
Dessa forma, renovação é uma palavra cada vez mais fora de moda no Brasil. A equipe que iniciou a partida em Montevidéu tinha três jogadores com mais de 31 anos e uma média de idade de 28,3 anos. Já a Argentina, na partida contra a Colômbia, a última que disputou, apesar de desfalques jovens como o próprio Samuel, alinhou uma equipe sem nenhum atleta com mais de 31 anos e média de 27,1.
Dois pontos básicos diferem Brasil e Argentina no trabalho de revelar novos jogadores. O primeiro acontece nos clubes, que dispõe de mais oportunidades para desenvolver seus atletas.
Mas é no trabalho com as seleções que está a grande diferença.
Com muitos jogos entre clubes locais, a tarefa de garimpagem de atletas é facilitada. No Mundial que está sendo disputado atualmente no país, a Argentina tem um jogador que atua em um clube da terceira divisão.
Já que, como aqui, os argentinos se transferem cada vez mais cedo para a Europa, Pekerman já planeja começar a preparar atletas com 13 anos, que teriam um trabalho especial de alimentação e acompanhamento psicológico.
Um sucesso dentro de campo, o futebol dos garotos recebe atenção de público e mídia na Argentina -o país tem até revistas especializadas no assunto. O Brasil nunca abrigou um Mundial juvenil ou júnior.
A média de público do Mundial, que cobra ingressos de até US$ 10, já supera os 9.000 pagantes por jogo, mesmo ainda sem a realização das semifinais e da final.
Nas partidas do time da casa em Buenos Aires, a média de público já ultrapassa os 28 mil, mais do que o dobro do registrado no último Campeonato Brasileiro.



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