TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Escrevi na quarta-feira que o Felipão não segue apenas a razão, mas também a emoção e a intuição -é talvez a maior de suas qualidades.
O jornal "The New York Times" disse, sobre o técnico, "Grande menino do Brasil energiza Portugal". O jornal afirmou ainda que o técnico faz gestos incompreensíveis à beira do gramado. É verdade. Felipão não tem a pose e a formalidade dos adultos e da maioria dos treinadores. Os gestos também fazem parte do seu show. A intuição é a percepção imediata das coisas. Há pessoas mais intuitivas, que enxergam mais do que as outras. A intuição não é uma premonição. É um saber que antecede ao raciocínio lógico. Freud dizia que tudo o que as pessoas descobriam após longos anos de análise, elas já sabiam. Só não sabiam que sabiam.
Em qualquer atividade, não se pode também confundir os excelentes profissionais que utilizam bastante a intuição com os despreparados e desinformados, que não sabem nem enxergam nada. Fingem que são práticos e intuitivos. Para surpreender, ir além e ter uma boa intuição, é necessário ter ótimos conhecimentos sobre o assunto.
Além de ser um ótimo motivador dos atletas, Felipão tem bons conhecimentos técnicos e táticos, estuda o adversário, treina as alternativas, mas, no instante de decidir, confia muito na sua observação e intuição. Cada jogo tem uma história. "O essencial é saber ver, quando se vê, sem estar a pensar." (Fernando Pessoa)

Portugal x Grécia
Portugal não é uma surpresa na Eurocopa, já que tem um bom time, atua em casa e é pequena a diferença entre as seleções. A única e grande surpresa é a Grécia. Isso é freqüente nos torneios com mata-mata.
Mas a Grécia tem os seus méritos. Marca bem e é eficiente nas jogadas ofensivas pelo alto. Uma seleção que empatou com a Espanha e venceu Portugal, França e República Tcheca pode vencer novamente e ser campeã.
Portugal possui uma referência tática, porém os jogadores não se limitam a segui-la. O volante Maniche, os pontas Figo e Cristiano Ronaldo e o meia Deco trocam de posições, marcam e se movimentam por todo o ataque.
Uma das deficiências da maioria das equipes da Europa é a pouca troca de posições. Isso facilita a marcação. Durante anos, assisti ao Beckham jogar no Manchester United e na seleção inglesa e nunca o vi passar para o lado esquerdo, a não ser para cobrar faltas e escanteios.
Um treinador não pode ser analisado somente pelos títulos conquistados, já que há dezenas de fatores envolvidos no resultado. Felipão, contudo, já está na história do futebol. Se Portugal ganhar, ele, merecidamente, será mais reconhecido como um dos grandes técnicos do mundo.

Grande Santo André
O Santo André mostrou que tem um conjunto muito melhor que o do Flamengo. Antes da partida, raríssimas pessoas acreditavam numa vitória do time paulista. Eu não apostava no Santo André. A maioria dos que opinaram que o Santo André tinha as mesmas ou mais chances que o Flamengo não dizia isso por convicção, e sim porque era politicamente incorreto apontar o Mengo como campeão.
Acabou a pose e a prepotência de muitos flamenguistas. Eles diziam que o time era bom e só estava nos últimos lugares no Brasileiro porque somente pensava na Copa do Brasil. Não há mais dúvidas de que a equipe é ruim. Um time sem atacantes, com quatro marcadores no meio-campo, Felipe na ponta direita e Jean na esquerda, tem tudo para não fazer gols e perder.
Se o Flamengo não melhorar, poderá cair para a segunda divisão do Brasileiro junto com a sua imensa e apaixonada torcida. Seria péssimo para o futebol brasileiro. Mas as regras precisam ser preservadas, para a sobrevivência do futebol.

Engano
Parreira disse à Folha: "Ricardo Oliveira pode fazer o que o Ronaldinho Gaúcho faz. Ele é um atacante que joga mais recuado, sabe lançar, abre espaço na defesa adversária, além de finalizar muito bem".
Segundo a matéria, Ricardo Oliveira estaria sendo preparado para ajudar o Alex na armação das jogadas. Será que o Parreira não se enganou de jogador? Ricardo Oliveira é um excelente finalizador. Nada mais do que isso.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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