São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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XICO SÁ

Onde queres Tóquio sou Goiânia


Boa sorte, Renato Gaúcho, contra o Goiás; na lanterna no Brasileiro, que o centro do país seja tão leve feito o Japão

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, aqui, neste botequim ludopédico, a dor da gente sai no jornal, ao contrário do que diz a bela música do xará Buarque.
Foi triste, velho Francisco, apesar do corvo Edgar, minha agourenta ave de estimação, em aliança espúria com o urubu da gávea primo de sangue, ter secado o teu glorioso Fluminense. Foi doloroso, meu caro Edmundo Barreiros, mas bem que disseste que não estava nada ganho.
Ao contrário do Renato Gaúcho, que confundiu preleção com arrogância pública e desfraldou a imperdoável bandeira da soberba, pecado capital do já ganhou de véspera. Soberba que o técnico, como todo machão dos tristes trópicos, tirou do próprio pênis, com todo o perdão do religioso clichê freudiano. Não à toa cantou vitória e, a Sérgio Rangel, desta Folha, disse que transou com mil mulheres antes dos 20.
Tudo bem, os Casanovas nasceram para isso, são vocacionados, todavia há uma dúvida pendurada aqui no trapézio do cocoruto qual a obsessão de Brás Cubas em inventar o emplasto que curaria todos os males. À dúvida, pois: para ter tal marca, ou pulou mais cercas do que todos os grandes líderes do MST juntos ou levava 20 galegas para o quarto a cada concentração.
Longe deste cronista fazer o cricri do bel-prazer de outrem, nem pensar em uma espécie de datagozo da humanidade. As 1.001 transas do Gaúcho só me caíram bem a essa altura para fazer meu samba-exaltação à sabedoria de Sigmund. O mesmo pecado que cometera o Mengo antes de enfrentar o América do México, embora Joel Santana tenha sido mais guardado e modesto em matéria de obras completas na alcova, digo, na cama.
O corvo Edgar voltou do Rio e aterrissou aqui em Paraty, meio do caminho, onde me encontro a trabalho, só para dizer: "Tá vendo como cantei a bola da desgraça no buraco certo, amado mestre?".
Sim, velho Francisco, ele sempre usa metáforas do golfe, adora o Tiger, é do ramo, como o Wander Wildner, amigo punk de todos os desabafos e guerras farroupilhas.
No mesmo Maraca de 1950, eis a agourenta ave falando, não confunda, aspas, o ano que não acaba nem com decreto-lei do Zuenir Ventura, o ano que não acaba nem mesmo com as cinzas finais do Apocalipse de São João Baptista.
Foi cruel, titio Nelson, ai, doeu, como canta o grande Wando, embora o corvo tenha feito questão de pousar justamente no ombro de todos os gravatinhas e do nobilíssimo Sobrenatural de Almeida.
Que mundo este, Francisco, que a gente não manda nem mesmo nos nossos bichos de estimação, coitados dos humanos e de todos os que reencarnam, coitados dos Sobrenaturais de Almeidas nesse materialismo absoluto e concreto.
Que filme triste, velho Chico, a culpa não é do cimento do Maraca, não é do urubu da aliança espúria do meu corvo, muito menos da urucubaca perto de ti, morro Dois Irmãos, que fizeram anteontem.
Não há culpados, titio Nelson, e nada a dizer nas cinzas das horas. Boa sorte, Renato Gaúcho, contra o Goiás. Mesmo com a lanterna no Brasileiro, qual o meu amigo Diógenes, que o centro do Brasil seja tão leve e importante feito Tóquio.

xico.folha@uol.com.br


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