São Paulo, terça, 4 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TÊNIS
Kuerten e Meligeni ameaçam não jogar torneio e entidade nomeia Ricardo Acioly para o lugar de Paulo Cleto
Pressão tira técnico do Brasil na Davis

FERNANDA PAPA
da Reportagem Local

A queda-de-braço entre Gustavo Kuerten, 21, e Fernando Meligeni, 27, principais tenistas do país, e Paulo Cleto, 50, que esteve à frente da equipe brasileira da Copa Davis, por 17 anos, terminou ontem com a queda de Cleto.
Nelson Nastás, 47, presidente da Confederação Brasileira de Tênis, anunciou, em São Paulo, a substituição de Cleto por Ricardo Acioly, 34, aliado dos tenistas. Ele é técnico de Fernando Meligeni.
Embora Nastás tenha afirmado que o projeto de renovar a comissão técnica da Copa Davis já estivesse em andamento, o dirigente admitiu que Meligeni e Gustavo Kuerten movimentaram-se para que Cleto deixasse o cargo.
Contradizendo afirmações das últimas semanas, quando negou a pressão dos jogadores, o dirigente admitiu ontem ter recebido, no mês de maio, uma carta assinada por Kuerten e Meligeni, que exigiam a saída de Cleto.
Se não fossem atendidos, os tenistas não jogariam a repescagem para o Grupo Mundial da Davis, no mês que vem, em Florianópolis, contra a Romênia.
"Não tenho posição quanto à carta. Houve uma série de acontecimentos depois do confronto com a Espanha, em abril, alguns anteriores até, que nos levaram a essa situação. Já existiam certos posicionamentos e divergências", contou Cleto, que continuará ligado à CBT, em cargo administrativo voltado para o desenvolvimento do esporte no país.
Acioly confirmou a situação ruim, mas sem muita explicação: "A carta é secundária, quando apareceu, as coisas já tinham acontecido e sido contornadas".
Na semana passada, ele afirmara não ter conhecimento da manifestação de Kuerten e de Meligeni, os dois brasileiros mais bem colocados no ranking mundial, em que ocupam as 24ª e 43ª colocações, respectivamente.
Ontem, Acioly preferiu não fazer comentários sobre sua participação no envio da carta. "Não vamos remoer as coisas, é melhor pensar em como vai ser daqui para a frente", disse.
Mas ele acabou justificando o meio escolhido pelos jogadores para fazer a exigência: "Com tantas viagens, ficava difícil para eles falar sobre isso de outra forma. Eu já vinha conversando com o Nelson (Nastás) há três anos", afirmou o novo capitão à Folha.

Larri Passos
Embora não tenha sido cogitado para o cargo de capitão da Copa Davis, Larri Passos, técnico de Kuerten, participará da comissão técnica liderada por Acioly.
Na semana passada, Passos não quis comentar a substituição de Cleto, na qual teria participação, ainda que indireta. Ele não gosta, por exemplo, que Kuerten converse com o ex-capitão da Davis.
Os dois técnicos não têm boas relações e a situação teria se agravado depois do confronto em que o Brasil perdeu para a Espanha, em Porto Alegre, em abril.
Na ocasião, Passos e Acioly chegaram a entrar em quadra para orientar os jogadores durante os treinos, embora não fizessem parte da comissão técnica. "Mas não deu certo, era muito pajé para pouco índio, ficou difícil administrar os egos", diz Cleto.
Ele faz questão de dizer que seu problema não é o com o tenista, mas com uma das pessoas que os acompanham.
Passos afirmou, em maio, que Kuerten nunca saiu tão "estourado" de uma competição como daquela Copa Davis. Ele levantava ali uma dúvida sobre o trabalho de orientação da equipe brasileira.
"Se o Larri tem um certa carência no tratamento com a imprensa, prefiro olhar o lado positivo. Ele acompanha o circuito, conhece os jogadores top e é um dos que mais trabalham em quadra. Vai ajudar demais", diz Acioly.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.