São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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VÔLEI

Principal Estadual do Brasil expõe dificuldades e abismos entre os clubes

Paulista ilumina realidade que ouro olímpico ofuscou

Fernando Donasci/Folha Imagem
Jogadoras se cumprimentam em um dos apartamentos que dividem para jogar em Suzano


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

As meninas se apertam na pequena sala de musculação. Ao lado, o time masculino faz os primeiros exercícios. Na camisa, abundam patrocinadores. Na quadra, jogadores de seleção.
Para elas, uma realidade distante. No uniforme, ostentam apenas o logo do clube, que só pode contar com ajuda da prefeitura. Época de vacas magras.
As meninas do time de Suzano, estréiam hoje no Paulista, às 15h. São, na maioria, juvenis, com a responsabilidade de defender a equipe adulta neste ano. E vivem numa realidade muito diferente da imagem que o vôlei ganhou com o sucesso da seleção.
Nos dois apartamentos em que moram 11 jogadoras do elenco, as tarefas domésticas são dividas entre todas e costumam provocar brigas. Nos quartos, enfeitados com bichos de pelúcia, as atletas dividem brincadeiras de adolescentes e aflições. Umas são mães, outras não sabem o que vão ser.
Faltam móveis (as camas deixam pés para fora), mas sobra solidariedade. Apesar de terem média de idade de 19,5 anos -a mais velha, Renata, 26, é chamada de avó-, elas já têm experiência.
"Nossa vida é assim, a gente muda de cidade, conhece um monte de meninas, faz amizades e, no fim do ano, se despede. Pode nunca mais se falar. Precisamos correr atrás do melhor lugar para jogar", explica Raquel, 19.
Este é o cotidiano da maioria das equipes que disputam o Estadual deste ano. Com a falta de patrocinadores e queda de investimentos, muitos times tiveram de apostar em jogadores juvenis. Há folhas de pagamento que ficam na casa de R$ 20 mil por mês.
Estrutura que lembre o dourado vôlei do país no torneio feminino só é mantida em Osasco, atual campeão nacional, e que abriga cinco jogadoras da seleção.
Nem o Minas, parceiro de São Bernardo e vice-brasileiro, pôde manter um elenco de ponta.
"Apesar do esforço econômico de muitos times, este Paulista deve ser mais fraco. Mesmo os atletas mais novos estão saindo do país", diz Mauro Grasso, técnico da equipe masculina do Banespa.
A concorrência estrangeira, alardeada por equipes de ponta que não conseguem segurar seus principais atletas, agora preocupa até times sem grande expressão.
Jogadores cada vez mais jovens têm sido atraídos por cifras que chegam a 600 para jogar em equipes fracas de países europeus.
"Eu já tive proposta para ir embora, mas não sei se teria coragem", afirma Anágila, 18. Ela chegou a Suzano há duas semanas e ainda tenta se acostumar com a vida fora de casa. Deixou a família e o namorado para buscar oportunidade que não encontrava no Rio de Janeiro: uma vitrine.
Quando sair da quadra hoje, Anágila deve ir para a arquibancada assistir ao jogo do outro Suzano. Verá em ação André Nascimento e Rodrigão, que estavam no alto do pódio em Atenas. O time, que conseguiu unir patrocinadores neste ano, é o favorito.
Na sua cola estarão o Banespa, de Nalbert, e o São Paulo, que repete a parceria vitoriosa em 2003 com a Ulbra. A equipe gaúcha está reformulada e contratou 11 jogadores de 11 origens diferentes.
Para os demais times, acompanhar o nível mostrado pela seleção em Atenas é utopia.
Como para as meninas de Suzano. As expectativas do clube são chegar em quinto entre as seis equipes do Paulista, lançar talentos e despertar interesse.
"Eu voltei dos EUA há seis meses, jogava e estudava lá. Às vezes, eu penso em parar, dá um desânimo, mas a satisfação de jogar é maior", diz Juliana, 22. Seu sonho? "Quem sabe chegar à seleção. Sonhar não custa."

NA TV - Ulbra-São Paulo x Araraquara, às 10h, e Mogi x Osasco, às 19h, ao vivo, na Sportv


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