São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
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FUTEBOL
Rival da seleção supervaloriza amistosos, que são vistos como "mais dois" pelos jogadores brasileiros
Argentina joga por "vida ou morte"

Evelson de Freitas/Folha Imagem
Élber, Ronaldo e Émerson (da esq. para a dir.) brincam durante treino da seleção na Argentina


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
enviado especial a Buenos Aires

Brasileiros e argentinos encaram de forma radicalmente oposta os amistosos em que as duas seleções se enfrentam -o primeiro marcado para hoje, às 16h10, em Buenos Aires, o segundo para a próxima terça, em Porto Alegre.
Para a equipe de Wanderley Luxemburgo, os jogos são vistos como "dois mais", conforme definição do próprio treinador, dentro do planejamento para as eliminatórias sul-americanas da Copa de 2002, que começam em março.
Já para os comandados de Marcelo Bielsa, os amistosos têm caráter "de vida ou morte", como disse o atacante Crespo, não só pelo fato de o adversário ser o Brasil, mas também pela rara oportunidade que os argentinos têm de reunir seus principais astros.
Desde o final do Mundial da França, em julho do ano passado, a seleção brasileira atuou 20 vezes, exatamente o dobro do número de jogos feito pela Argentina.
"É uma partida importante, como foram as duas que fizemos contra a Holanda, contra a própria Argentina, na Copa América, contra a Alemanha e o México (na Copa das Confederações)... Estou satisfeito em enfrentar ótimas seleções, que tudo indica estarão na Copa do Mundo."
Luxemburgo, inclusive, tem elogiado o contrato da Nike com o Brasil, que, diferentemente do acordo da Reebok com a Argentina, obriga a seleção a disputar pelo menos cinco amistosos por ano com sua equipe titular.
"Teve gente que criticou os jogos contra a Holanda, mas eles foram muito proveitosos, como com certeza será o do próximo dia 9 (de outubro, em Amsterdã, contra os holandeses, também patrocinados pela Nike)."
Bielsa, porém, vive situação diferente. Ele tem enfrentado resistência de seus próprios atletas, alguns dos quais, por atuar fora do país, preferem não ser chamados.
""Aproveitamos os jogos das eliminatórias da Eurocopa neste fim-de-semana para reunir o grupo", afirmou o técnico argentino, lembrando que 17 dos atletas por ele convocados atuam na Europa.
"Serão nossos dois grandes testes antes das eliminatórias", comentou, desconsiderando a derrota para o Brasil em julho, no Paraguai, já que não pôde contar com seus principais jogadores.
E, se depender dos atletas argentinos, serão, de fato, os testes finais para as eliminatórias.
""A cada partida pela Argentina perco três na Itália", disse Crespo, atacante do Parma, com passe avaliado em US$ 25 milhões.
"É uma situação complicada, porque é o clube que paga seu salário", opinou o volante Simeone. "Quando não há jogos na Europa, tudo bem. Do contrário, não dá para vir disputar amistosos."
O zagueiro Ayala, do Milan, capitão argentino na Copa América, vai ainda mais longe.
"Nós, jogadores de futebol, somos cifras, nada mais do que isso. Se a seleção pagasse nossos salários quando jogamos por ela, tudo bem, mas não é isso o que ocorre", disse, defendendo proposta dos principais times europeus, que querem dividir com as seleções o ônus da folha salarial.
Mas os brasileiros discordam dos argentinos. Para eles, Luxemburgo dificilmente passará problema igual ao de Bielsa, porque "é um orgulho estar na seleção".
"É o que eu sempre quis. Se não fosse pela camisa amarela, eu não seria reconhecido no mundo todo", comentou Ronaldinho, do Grêmio, que forma dupla de ataque hoje com Ronaldo.
O meia-atacante Rivaldo, apontado pelos argentinos como principal destaque do Brasil, concorda com Ronaldinho. "Vestir a camisa do Brasil me arrepia. Além disso, não existe melhor vitrine do que a seleção brasileira."


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