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FUTEBOL
Deuses do futebol: Mercúrio Cromo
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Espartano leitor, helênica
leitora, talvez vocês já tenham ouvido falar de Mercúrio, o
mais veloz dos deuses. Às vezes,
ele aparece com asas no chapéu,
às vezes, com asas nos pés. E, por
conta de sua velocidade, Mercúrio era o responsável por levar e
trazer mensagens, conduzir as almas para o inferno e trazê-las de
volta quando fosse o caso.
Essas coisas não são segredo para ninguém e podem ser encontradas em qualquer livro de mitologia. Porém o que poucas páginas têm a coragem de contar é
que Mercúrio tinha um irmão gêmeo: Mercúrio Cromo ("cromo",
em grego cirílico, significa "aquele que veio depois").
Os dois brigavam já desde os
tempos em que estavam na barriga da mãe. E houve um duelo entre os irmãos durante o parto,
pois ambos queriam ser o primeiro a sair (Mercúrio foi o primeiro,
e Cromo, o segundo, de onde veio
sua alcunha).
As disputas entre os dois entraram pela infância. Eles competiam em tudo: bolinhas de gude,
pipas, pião etc. E o primogênito
sempre vencia.
Certa vez, quando já eram
adultos, Cromo desafiou Mercúrio para uma corrida ao redor da
Terra. Foi a mais bela prova de
todos os tempos. Eles saltaram
montanhas, pularam desfiladeiros e seus pés se moviam tão velozmente que eles podiam correr
sobre as águas dos mares.
Quando faltava pouco para a
chegada, o caçula estava na frente. Então olhou para trás e deu
uma sonora gargalhada de desprezo. Porém, ao olhar para trás,
Cromo acabou tropeçando. E, como estava muito rápido, rolou
vários quilômetros pelo chão, arranhando-se em pedras, rasgando-se em espinhos, quebrando-se
em galhos.
O resultado desse tombo foi que
Mercúrio acabou ganhando a
prova, e Cromo ficou cheio de feridas. E, desde aquele dia, ele se
dedica a fazer com que as pessoas
tropiquem, caiam de mau jeito, se
esfolem e se machuquem.
Com o tempo, para desgraça
dos ludopedistas, Mercúrio Cromo interessou-se por futebol. Passou a provocar lesões, distensões
musculares, rupturas de ligamentos e fraturas. É ele quem cria buracos no gramado, é ele quem
molha o chão dos vestiários.
É bom que se diga que não é um
deus piedoso. Até Pelé, na Copa-62, foi vítima de seu ódio. Não foi
o único. Ele já deixou vários craques muito tempo longe dos gramados, como Pagão, Coutinho,
Zé Sérgio, Joãozinho (ex-Cruzeiro), Tostão, Zico e Reinaldo.
Às vezes, ele se interessa especialmente por um jogador ou um
país. Pedrinho, por exemplo, é um
antigo escolhido. Ronaldo Nazário também recebeu sua atenção
várias vezes. Mas, antes que o colérico leitor e a iracunda leitora
gritem a plenos pulmões "Maldito
Mercúrio Cromo!", é bom lembrar que, antes da Copa, o deus
das contusões ocupou-se dos jogadores alemães, tanto que a seleção teutônica não pôde contar
com cinco de seus titulares.
É para ele que devem orar os
maldosos torcedores que desejam
que os craques dos times adversários fiquem fora de combate. E é
para ele que devem rezar os torcedores quando vêm um de seus jogadores caídos, pedindo que Mercúrio Cromo poupe o atleta.
Nesse caso, o mais apropriado é
recitar uma velha oração greco-céltica que diz:
"Oh, Cromo, deus implacável,
Pai da fratura e da contusão,
com os meus, seja amável,
os outros, deixai-os no chão".
Robinceu
A campanha eleitoral deste
ano tem possibilitado o surgimento de criaturas espantosas, que são fruto da combinação de espécimes da política e do futebol. Um desses
homóides poderia ser o Robinceu, uma mistura de Robinho com José Dirceu, isto
porque o presidente do PT,
fominha como o atacante
santista, aparece sozinho no
horário eleitoral de seu partido e acaba não passando a
bola para o resto da equipe.
Valdorestes
Outro cruzamento possível
seria o Valdorestes, mistura
de Valdo com Quércia, pois,
graças à saúde ou ao botox, os
dois parecem que pararam
no tempo.
Mamário
E Maluf e Romário podem
formar um ser que começa
arrebentando, mas, depois,
começa a cair de rendimento
e dá prejuízo ao clube.
E-mail torero@uol.com.br
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