São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Deuses do futebol: Mercúrio Cromo

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Espartano leitor, helênica leitora, talvez vocês já tenham ouvido falar de Mercúrio, o mais veloz dos deuses. Às vezes, ele aparece com asas no chapéu, às vezes, com asas nos pés. E, por conta de sua velocidade, Mercúrio era o responsável por levar e trazer mensagens, conduzir as almas para o inferno e trazê-las de volta quando fosse o caso.
Essas coisas não são segredo para ninguém e podem ser encontradas em qualquer livro de mitologia. Porém o que poucas páginas têm a coragem de contar é que Mercúrio tinha um irmão gêmeo: Mercúrio Cromo ("cromo", em grego cirílico, significa "aquele que veio depois").
Os dois brigavam já desde os tempos em que estavam na barriga da mãe. E houve um duelo entre os irmãos durante o parto, pois ambos queriam ser o primeiro a sair (Mercúrio foi o primeiro, e Cromo, o segundo, de onde veio sua alcunha).
As disputas entre os dois entraram pela infância. Eles competiam em tudo: bolinhas de gude, pipas, pião etc. E o primogênito sempre vencia.
Certa vez, quando já eram adultos, Cromo desafiou Mercúrio para uma corrida ao redor da Terra. Foi a mais bela prova de todos os tempos. Eles saltaram montanhas, pularam desfiladeiros e seus pés se moviam tão velozmente que eles podiam correr sobre as águas dos mares.
Quando faltava pouco para a chegada, o caçula estava na frente. Então olhou para trás e deu uma sonora gargalhada de desprezo. Porém, ao olhar para trás, Cromo acabou tropeçando. E, como estava muito rápido, rolou vários quilômetros pelo chão, arranhando-se em pedras, rasgando-se em espinhos, quebrando-se em galhos.
O resultado desse tombo foi que Mercúrio acabou ganhando a prova, e Cromo ficou cheio de feridas. E, desde aquele dia, ele se dedica a fazer com que as pessoas tropiquem, caiam de mau jeito, se esfolem e se machuquem.
Com o tempo, para desgraça dos ludopedistas, Mercúrio Cromo interessou-se por futebol. Passou a provocar lesões, distensões musculares, rupturas de ligamentos e fraturas. É ele quem cria buracos no gramado, é ele quem molha o chão dos vestiários.
É bom que se diga que não é um deus piedoso. Até Pelé, na Copa-62, foi vítima de seu ódio. Não foi o único. Ele já deixou vários craques muito tempo longe dos gramados, como Pagão, Coutinho, Zé Sérgio, Joãozinho (ex-Cruzeiro), Tostão, Zico e Reinaldo.
Às vezes, ele se interessa especialmente por um jogador ou um país. Pedrinho, por exemplo, é um antigo escolhido. Ronaldo Nazário também recebeu sua atenção várias vezes. Mas, antes que o colérico leitor e a iracunda leitora gritem a plenos pulmões "Maldito Mercúrio Cromo!", é bom lembrar que, antes da Copa, o deus das contusões ocupou-se dos jogadores alemães, tanto que a seleção teutônica não pôde contar com cinco de seus titulares.
É para ele que devem orar os maldosos torcedores que desejam que os craques dos times adversários fiquem fora de combate. E é para ele que devem rezar os torcedores quando vêm um de seus jogadores caídos, pedindo que Mercúrio Cromo poupe o atleta.
Nesse caso, o mais apropriado é recitar uma velha oração greco-céltica que diz:
"Oh, Cromo, deus implacável,
Pai da fratura e da contusão,
com os meus, seja amável,
os outros, deixai-os no chão".

Robinceu
A campanha eleitoral deste ano tem possibilitado o surgimento de criaturas espantosas, que são fruto da combinação de espécimes da política e do futebol. Um desses homóides poderia ser o Robinceu, uma mistura de Robinho com José Dirceu, isto porque o presidente do PT, fominha como o atacante santista, aparece sozinho no horário eleitoral de seu partido e acaba não passando a bola para o resto da equipe.

Valdorestes
Outro cruzamento possível seria o Valdorestes, mistura de Valdo com Quércia, pois, graças à saúde ou ao botox, os dois parecem que pararam no tempo.

Mamário
E Maluf e Romário podem formar um ser que começa arrebentando, mas, depois, começa a cair de rendimento e dá prejuízo ao clube.

E-mail torero@uol.com.br



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