São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2011

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LOS GRINGOS

JOHN CARLIN

Elogio aos jogadores


Se, aos 20, me visse ganhando € 100 mil por semana, teria me tornado um moleque mimado

MUITAS VEZES imagino que, se tivesse nascido com talento suficiente para ser um excelente jogador de futebol, em lugar de estar condenado a uma vida em que é preciso pensar e escrever mais do que agradaria a qualquer pessoa e sem grande recompensa, teria rapidamente me tornado um ser humano arrogante, insuportável e desprezível.
Esse é um dos motivos para que eu admire tanto os melhores futebolistas. Não como jogadores (embora os admire também nesse sentido, claro), mas como pessoas. A despeito de terem se tornado ricos e famosos quando ainda chocantemente jovens, a grande maioria deles parece ser, em público, pessoas perfeitamente normais e decentes.
Estou pensando no momento em Carlos Tevez, ex-jogador do Corinthians e hoje parte do elenco do Manchester City (ainda que provavelmente não por muito tempo), e em como ele representa mal a média dos jogadores de futebol. Na semana passada, ele se recusou a entrar em campo nos 20 minutos finais de uma partida contra o Bayern de Munique pela Copa dos Campeões.
É um comportamento inadmissível em qualquer categoria do esporte. Ainda mais quando o salário do jogador é de quase € 300 mil por semana. No caso de Tevez, não chega a surpreender, porque ele sempre teve a tendência de se comportar como um garoto mimado desde que acompanho sua carreira, há cinco anos.
Meu ponto, porém, é que seu comportamento deveria ser a norma entre os principais jogadores e que a grande surpresa é que a maioria deles raramente aja como Tevez. Quase todos são bons profissionais, honestos, leais a seus times e colegas ao menos enquanto seus clubes continuam a utilizá-los. O que quero dizer é que, se me visse ganhando € 100 mil por semana aos 20 anos e o triplo disso aos 26, quase certamente teria me tornado um moleque insuportavelmente mimado.
Mas veja os jogadores de Barcelona, Real Madrid, Manchester United ou Chelsea, para mencionar talvez os mais fortes candidatos ao título da Copa dos Campeões nesta temporada. Quase todos esses jogadores trabalham com afinco, fazem o serviço para o qual foram contratados, respeitam os torcedores e, ao falar em público, demonstram generosidade para com os rivais e os colegas.
Não seria nada demais esperar esse tipo de comportamento de pessoas normais, mas, no caso de jogadores, dada sua juventude, fama e riqueza, é uma surpresa agradável e motivo de admiração.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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