São Paulo, domingo, 4 de outubro de 1998

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FUTEBOL
Técnico do Corinthians já deixa transparecer abatimento com maratona de jogos devido a acúmulo de cargos
Luxemburgo "envelhece' com seleção

MAÉRCIO SANTAMARINA
da Reportagem Local

Abatido, nove quilos mais magro, com ar de cansado, olheiras, rugas mais acentuadas e os primeiros cabelos brancos à mostra.
Uma figura bem diferente da que se via no início do ano, quando se transferiu do Santos para o Corinthians, ou mesmo no início do atual Campeonato Brasileiro.
A transformação de Wanderley Luxemburgo, 47, desde que foi nomeado técnico da seleção brasileira, no último dia 11 de agosto, é cada vez mais nítida, perceptível mesmo para quem convive com ele diariamente.
Embora se esforce para mostrar que é perfeitamente possível acumular o trabalho na seleção e no Corinthians, o treinador não consegue esconder seus primeiros sinais de exaustão.
Ele pesava 85 kg quando deixou o Santos e foi para o Corinthians, no início deste ano. Agora, a balança está marcando 76 kg.
"Não dá para negar que eu esteja cansado. Me sinto como um ioiô, viajando para lá e para cá, mas é um cansaço gostoso. Acho que estou me adaptando bem", afirmou Luxemburgo, que nos últimos 15 dias viveu o período mais intenso desde que assumiu a seleção.
Ele percorreu quase 11 mil quilômetros nas duas últimas semanas, período em que houve o primeiro amistoso do Brasil sob o seu comando, um jogo pela Copa Mercosul e três clássicos pelo Campeonato Brasileiro, incluindo o que seria ontem, contra o Palmeiras.
Além de sofrer três derrotas seguidas antes da partida contra o Palmeiras, foi vaiado no empate de 1 a 1 com a Iugoslávia, em sua estréia pelo Brasil, e se irritou ao ver na imprensa sua irmã Leocádia Luxemburgo da Silva, mãe-de-santo em Vitória (ES), a caráter.
Leocádia chegou a afirmar que ele teria que abandonar o Corinthians e ficar só na seleção para evitar uma crise.
Luxemburgo usou o episódio para se comparar a Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos, envolvido em escândalo sexual. "Estão usando minha vida pessoal, minha família, para me atingir."
"O problema não é só o desgaste físico, mas também a pressão emocional", disse o fisiologista do Corinthians e da seleção brasileira, Renato Lotufo, que convive diariamente com o técnico.
O médico Joaquim Grava, também do Corinthians e da seleção, tem orientado Luxemburgo a respeito de sua alimentação. "Acho que ele está ótimo de cabeça. Só é preciso se alimentar melhor com tantos jogos e viagens. Eu mesmo estou cansado", afirmou ele.
A "maratona" que abateu o técnico da seleção começou no último dia 19, em Campinas, onde o Corinthians venceu a Ponte Preta por 5 a 4. No dia 20, assistiu ao jogo entre Lusa e São Paulo. No dia 21, foi com a seleção para São Luís (MA).
Após o amistoso do dia 23, retornou a São Paulo, onde chegou na madrugada do dia 24 para acompanhar o Corinthians no jogo contra o Cruzeiro, à noite. Concentrou o time no dia 25. Dia 27, perdeu para o Santos por 2 a 1.
No dia 28 pela manhã, já estava no Rio para convocar novamente a seleção para o amistoso do próximo dia 14, nos EUA, contra o Equador. Às 21h30 do mesmo dia, foi para Buenos Aires, onde o Corinthians perderia, dia 29, para o Racing (1 a 0), pela Copa Mercosul.
No início da tarde do dia 30, desembarcou em São Paulo e foi direto para o Parque São Jorge, onde treinavam os titulares que haviam sido poupados contra o Racing.
Na manhã seguinte (última quinta-feira, às 9h), mesmo com chuva, estava em Itaquera para treinar.
O cansaço era acentuado por uma gripe, que Luxemburgo tentava ocultar usando o bom humor.
"Foi a mudança de temperatura com a viagem para Buenos Aires", disse o médico Joaquim Grava.



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