São Paulo, domingo, 4 de outubro de 1998

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FUTEBOL
Equipe da Mooca fará parceria com empresa para tentar sair da crise
Rebaixado 2 vezes em 98, Juventus terceiriza o time


FERNANDO MELLO
da Reportagem Local

Rebaixado duas vezes este ano, no Estadual e na Série B do Brasileiro, o Juventus irá terceirizar seu departamento de futebol profissional para tentar sair da crise.
Em parceria com a EuroSport, empresa que compra e vende jogadores de futebol, a equipe da Mooca será o primeiro clube-empresa da capital paulista.
A EuroSport utilizaria a camisa do Juventus, que serviria como vitrine para seus atletas. Em troca, o clube ganharia os reforços.
A empresa já tem um acordo firmado com o clube nas categorias infantil, juvenil e júnior.
Pelo contrato, a EuroSport é dona do passe dos jogadores. Em caso de negociação, o clube paulista recebe uma porcentagem, geralmente 50% do valor.
"Precisamos buscar parcerias para conseguir montar times competitivos. Nossa intenção é fazer tudo de acordo com a Lei Pelé, transformando o Juventus em clube-empresa", afirmou o presidente do clube, Milton Urcioli.
No contrato com o futebol profissional, que deve ser assinado nos próximos dias, os procedimentos serão os mesmos: a empresa entra com atletas para reforçar a equipe e, em troca, tem direito a uma porcentagem dos passes dos jogadores do Juventus.
"Todos os atletas do clube devem entrar no negócio. Se vendermos alguém, cada parte receberá metade do valor", disse Urcioli.
Segundo o presidente, o Juventus não deve salários ou prêmios a nenhum jogador. "A gente trabalha com honestidade. Outras equipes, como o Fluminense, contratam atletas de peso, mas não conseguem cumprir suas obrigações."
A folha de pagamento do time grená gira em torno de R$ 150 mil. "Nosso problema é que não pudemos investir. Não adiantaria contratar jogadores que custassem R$ 25 mil se não podemos pagar."
Não é a primeira vez que a EuroSport entra no futebol paulista. Em 96, fez uma parceria com o Corinthians, quando era "dona" do time que disputou a Copa São Paulo de futebol júnior daquele ano.
Possíveis nomes de reforços ainda não foram divulgados. Representantes da EuroSport foram procurados nos últimos três dias pela reportagem da Folha, mas não responderam às ligações.
² Decadência
A decadência do Juventus, um dos fundadores da Federação Paulista de Futebol, começou no início do ano, na disputa do Paulista-98. Jogando no "quadrangular da morte", ao lado de Inter de Limeira, Araçatuba e Portuguesa Santista, o time da Mooca terminou em último lugar e foi rebaixado para a Série B do campeonato estadual.
"Infelizmente não fomos bem na competição, mas ainda existe a possibilidade de permanecermos na divisão de elite do Paulista no ano que vem, já que o Araçatuba ainda deve dinheiro de reclamações trabalhistas", disse Urcioli.
Conhecido popularmente como "moleque travesso", por derrotar equipes consideradas grandes no futebol paulista, o Juventus conquistou, em 83, a Taça de Prata do Brasileiro, equivalente ao torneio no qual foi rebaixado este ano.
O time da rua Javari era comandado pelo técnico Candinho, atualmente na Lusa, e tinha como capitão o ex-técnico do São Paulo Nelsinho Batista.
Na Série B deste ano a equipe conseguiu apenas uma vitória -contra o Fluminense, em Osasco- e ficou em último lugar no seu grupo, com apenas seis pontos em nove jogos. Na última segunda-feira, o Juventus foi derrotado pelo próprio Fluminense, no Rio, e foi rebaixado para a Série C.
"O time foi rebaixado, mas não morreu. O Napoli, na Itália, também foi para a segunda divisão e voltou. Estaremos novamente na Série B no próximo ano, vencendo no campo. O futebol no Clube Atlético Juventus jamais acabará", afirmou o supervisor de futebol do clube, Roberto Archiná.
O presidente da Ju-Jovem, única torcida organizada do time, Sérgio Mangiulo, atribuiu o rebaixamento à falta de profissionalismo dos jogadores da equipe.
"São todos mercenários, pois não honraram a camisa. Estamos revoltados com a situação."
Mangiulo afirmou que faltou competência à diretoria do clube. "Propus a eles a contratação do Edu Marangon, do Neto e do Branco. Faltou, além de raça, experiência ao nosso time. Os dirigentes não quiseram me ouvir e deu no que deu. Não quiseram gastar, agora vão ter prejuízo."
Archiná, o supervisor de futebol, discorda.
"Não tínhamos dinheiro para investir. A nossa torcida também tinha que ter feito sua parte. Com apenas 200 pagantes em média na rua Javari não dá para arrecadar, e, em consequência, para investir."



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