São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2006

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CIDA SANTOS

Revolução e lenda em quadra


Nunca uma equipe jogou tão rápido como o Brasil, um time que supera desavenças e aprendeu a não se acomodar


A FRASE foi do técnico da Polônia, Raul Lozano. Ele disse que o Brasil jogaria a final do Mundial para virar lenda. E virou. Com a vitória, a seleção completou quatro anos de domínio absoluto no vôlei com dois títulos mundiais e um olímpico. Façanha só conseguida pela então URSS e pelos EUA. Quem acompanhou os jogos do Brasil no Mundial viu uma revolução em quadra feita pelo levantador Ricardinho. Nunca um time jogou tão rápido quanto o brasileiro. Ricardinho chegou ao requinte de nem precisar de um bom passe para acelerar, e muito, uma bola.
O penúltimo ponto da vitória sobre Sérvia e Montenegro é o melhor exemplo. O passe não é bom: Ricardinho corre e levanta de fora da quadra, da antiga zona de saque, e de costas. A bola vai acelerada para a saída de rede, certinha na mão de André Nascimento. Um espetáculo.
Na grande final, a surpreendente Polônia, formada pelas gerações campeãs mundiais juvenis em 97 e 2003, não conseguiu jogar. O saque não funcionou. O bloqueio também não. O time polonês, até então o único invicto e só com três sets perdidos, não viu a cor da bola.
O que impressiona também no Brasil é a facilidade em superar situações adversas. Logo na terceira partida, perdeu para a França. Passou as outras seis rodadas jogando com pressão total: mais uma derrota e poderia nem chegar às semifinais. Venceu os seis jogos seguintes e só perdeu um set.
Outra grande qualidade é a rapidez como o time consegue superar os problemas, as brigas internas. As gerações anteriores perderam títulos por causa das desavenças. Foi assim na Olimpíada de 84, foi assim entre 94 a 96 com a geração que havia sido campeã olímpica em 92.
No jogo contra a Bulgária, o último da fase de classificação, Ricardinho, Gustavo e Escadinha discutiram. E a discussão não foi fraquinha. Ricardinho deixou a quadra falando que estava magoado. Três dias depois, na semifinal, já estava todo mundo se abraçando e jogando muito. O central Gustavo resumiu bem isso: "Uma das nossas virtudes é saber conversar e resolver problemas." É um time de amigos, comandado por Bernardinho, um técnico que cultiva a importância do grupo e a eterna insatisfação. A ordem é não se acomodar com as conquistas.
A alegria, como dizia o velho escritor Oswald de Andrade, é a prova dos nove. E nenhum outro time faz tanta festa em quadra para comemorar os pontos e a vitória como o Brasil. Não por acaso, foi batizado, no site da Federação Internacional de Vôlei, de "gangue dos loucos".
Difícil apontar um destaque: Giba, Dante, André Nascimento, Ricardinho, Gustavo, André Heller e Escadinha foram perfeitos.
O genial maluco Ricardinho fez história, mas também só pode colocar em prática suas ousadias por causa da grande qualidade dos seus companheiros.

PECADO
Na premiação dos melhores do Mundial, faltou o título de melhor levantador para Ricardinho. Seria o reconhecimento oficial da revolução que ele fez no vôlei neste torneio. A organização optou pelo convencional e premiou o polonês Pawel Zagumny. Uma pena.

O RECONHECIMENTO
Giba, melhor jogador do Mundial, protagonizou uma das cenas mais bonitas. Depois de receber a placa, disse a Ricardinho: "Sem você, não teríamos conseguido nada disso. Você é o melhor do mundo."

AS DECEPÇÕES
O Mundial mostrou a evolução de dois países do leste europeu: Polônia, vice-campeã, e Bulgária, bronze. Itália acabou em quinto lugar; a França, em sexto; e a Rússia, a maior decepção, em sétimo.

cidasan@uol.com.br


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