São Paulo, Quarta-feira, 05 de Janeiro de 2000


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Manchester e Real utilizam tática brasileira

TOSTÃO
Colunista da Folha

Manchester, Corinthians, Vasco e Real Madrid são os favoritos. Dos outros quatro, o Necaxa, do México, é o melhor.
Das quatro melhores equipes, o Manchester é a mais sólida, eficiente e a que mais conquistou títulos em 99. É, hoje, o clube mais poderoso do mundo. Tem o mesmo técnico há 13 anos (Alex Fergusson), uma maneira definida de atuar, além de ótimos jogadores. O time inglês seria o favorito se o campeonato não fosse no Brasil, sob calor intenso, mesmo com os jogos sendo à noite, e se não viesse obrigado pelo governo inglês, para não atrapalhar a candidatura do país à Copa de 2006.
O Real Madrid (clube de mais tradição na Europa) não está bem no Campeonato Espanhol, mas tem ótimos jogadores, como Raúl, Redondo, Hierro, Roberto Carlos e Sávio. O goleador Morientes não veio, mas estará em seu lugar o francês Anelka, que ainda não brilhou no futebol espanhol.
Como regra, Manchester e Real Madrid não utilizam o esquema tático tradicional da Europa, de jogar com três zagueiros e dois alas. Preferem o modelo brasileiro, com uma linha de quatro zagueiros, quatro armadores e dois atacantes. Os dois armadores pelas laterais -no Manchester e no Real- se transformam em pontas quando o time está no ataque.
A maior diferença em relação aos times brasileiros, principalmente do Manchester, é a do meio-campo ser formado por uma linha de quatro armadores, todos com funções defensivas e ofensivas. Não existe o tradicional cabeça-de-área somente para defender, como Amaral no Vasco.
Como não existem três zagueiros, os dois laterais das duas equipes estrangeiras, inclusive Roberto Carlos, têm funções muito mais defensivas que ofensivas, como quer Luxemburgo na seleção.
As defesas do Real e do Manchester são frágeis, principalmente a do time espanhol. Não será surpresa, por causa do calor e do respeito aos times brasileiros, que os dois times europeus reforcem seus sistemas defensivos. Na final, em Tóquio, contra o Palmeiras, o time inglês retirou um atacante e colocou um marcador no meio.
O Vasco tem grandes novidades. Além de Júnior Baiano e Jorginho, Romário joga com o entusiasmo do início de sua carreira e quer mostrar que ainda está em forma. Provavelmente, Edmundo, outra estrela, estará ao seu lado. Outra novidade é a presença de somente um volante (Amaral), com funções unicamente defensivas.
Depois de vencer o Brasileiro, com justiça, o Corinthians mantém o mesmo time, reforçado pelo zagueiro Adilson, e é um forte candidato ao título. Não se sabe qual será o comportamento físico do time, desgastado com o excessivo número de jogos de 1999.
O futebol brasileiro precisa recuperar a confiança perdida na última década, com as derrotas para os europeus em Tóquio. Esta é a grande oportunidade.

Uma das cenas mais bonitas no futebol, em 99, foi a dos campeões mundiais Parreira e Moraci Santana, comemorando o título conquistado pelo Fluminense, na Série C, com a mesma alegria da conquista da Copa-94. Se quisessem, os dois poderiam trabalhar nas melhores equipes do mundo.
Numa recente entrevista, Parreira disse que a Europa cada vez mais copia o modelo tático brasileiro de se jogar com quatro zagueiros, quatro armadores e dois atacantes. Paradoxalmente, a maioria das seleções sul-americanas joga no estilo tradicional europeu, com três zagueiros e dois alas. É a globalização do futebol.
Parreira também afirmou, no que concordo, que muito mais importante que o desenho tático é a capacidade de a equipe defender e atacar com muitos jogadores e ter a posse de bola por mais tempo. Foi a filosofia do time vitorioso na Copa-94.
Para que este padrão funcione, é necessário ter, no meio-campo, jogadores com capacidade técnica e mobilidade para recuar e avançar (principal defeito da seleção de 94) e excelentes atacantes, já que estes ficam muito isolados. Na época, o Brasil tinha o melhor atacante do mundo (Romário) e outro excepcional (Bebeto).
Penso que o esquema de 94, que diminuía os espaços em sua defesa, tomava a bola no meio-campo e contra-atacava (a seleção de 70, como afirmou Parreira, também jogou assim), ainda é uma ótima postura, mas não é a única solução para as melhores equipes.
Os times deveriam alternar essa filosofia de recuar e contra-atacar, com a de pressionar no campo adversário. Poucas equipes no país utilizam essa maneira de jogar com eficiência. Quando se toma a bola fica-se próximo ao outro gol e pode-se aproveitar da desorganização da defesa rival. Outra vantagem é dificultar a saída e toque de bola da outra equipe para o ataque. Corre-se o risco pelos espaços deixados na defesa e pelo desgaste físico, mas vale a pena.
Não concordo com algumas idéias do Parreira, mas respeito e aprendo com elas. Ele é um verdadeiro professor, como os atletas gostam de chamar seus técnicos.


Tostão escreve às quartas e aos domingos

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