|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Manchester e Real utilizam tática brasileira
TOSTÃO
Colunista da Folha
Manchester, Corinthians,
Vasco e Real Madrid são os favoritos. Dos outros quatro, o Necaxa, do México, é o melhor.
Das quatro melhores equipes, o
Manchester é a mais sólida, eficiente e a que mais conquistou títulos em 99. É, hoje, o clube mais
poderoso do mundo. Tem o mesmo técnico há 13 anos (Alex Fergusson), uma maneira definida
de atuar, além de ótimos jogadores. O time inglês seria o favorito
se o campeonato não fosse no Brasil, sob calor intenso, mesmo com
os jogos sendo à noite, e se não
viesse obrigado pelo governo inglês, para não atrapalhar a candidatura do país à Copa de 2006.
O Real Madrid (clube de mais
tradição na Europa) não está bem
no Campeonato Espanhol, mas
tem ótimos jogadores, como Raúl,
Redondo, Hierro, Roberto Carlos
e Sávio. O goleador Morientes não
veio, mas estará em seu lugar o
francês Anelka, que ainda não
brilhou no futebol espanhol.
Como regra, Manchester e Real
Madrid não utilizam o esquema
tático tradicional da Europa, de
jogar com três zagueiros e dois
alas. Preferem o modelo brasileiro, com uma linha de quatro zagueiros, quatro armadores e dois
atacantes. Os dois armadores pelas laterais -no Manchester e no
Real- se transformam em pontas quando o time está no ataque.
A maior diferença em relação
aos times brasileiros, principalmente do Manchester, é a do
meio-campo ser formado por
uma linha de quatro armadores,
todos com funções defensivas e
ofensivas. Não existe o tradicional
cabeça-de-área somente para defender, como Amaral no Vasco.
Como não existem três zagueiros, os dois laterais das duas equipes estrangeiras, inclusive Roberto Carlos, têm funções muito mais
defensivas que ofensivas, como
quer Luxemburgo na seleção.
As defesas do Real e do Manchester são frágeis, principalmente a do time espanhol. Não será
surpresa, por causa do calor e do
respeito aos times brasileiros, que
os dois times europeus reforcem
seus sistemas defensivos. Na final,
em Tóquio, contra o Palmeiras, o
time inglês retirou um atacante e
colocou um marcador no meio.
O Vasco tem grandes novidades.
Além de Júnior Baiano e Jorginho,
Romário joga com o entusiasmo
do início de sua carreira e quer
mostrar que ainda está em forma.
Provavelmente, Edmundo, outra
estrela, estará ao seu lado. Outra
novidade é a presença de somente
um volante (Amaral), com funções unicamente defensivas.
Depois de vencer o Brasileiro,
com justiça, o Corinthians mantém o mesmo time, reforçado pelo
zagueiro Adilson, e é um forte
candidato ao título. Não se sabe
qual será o comportamento físico
do time, desgastado com o excessivo número de jogos de 1999.
O futebol brasileiro precisa recuperar a confiança perdida na última década, com as derrotas para
os europeus em Tóquio. Esta é a
grande oportunidade.
Uma das cenas mais bonitas no
futebol, em 99, foi a dos campeões
mundiais Parreira e Moraci Santana, comemorando o título conquistado pelo Fluminense, na Série C, com a mesma alegria da
conquista da Copa-94. Se quisessem, os dois poderiam trabalhar
nas melhores equipes do mundo.
Numa recente entrevista, Parreira disse que a Europa cada vez
mais copia o modelo tático brasileiro de se jogar com quatro zagueiros, quatro armadores e dois
atacantes. Paradoxalmente, a
maioria das seleções sul-americanas joga no estilo tradicional europeu, com três zagueiros e dois
alas. É a globalização do futebol.
Parreira também afirmou, no
que concordo, que muito mais importante que o desenho tático é a
capacidade de a equipe defender e
atacar com muitos jogadores e ter
a posse de bola por mais tempo.
Foi a filosofia do time vitorioso na
Copa-94.
Para que este padrão funcione, é
necessário ter, no meio-campo, jogadores com capacidade técnica e
mobilidade para recuar e avançar
(principal defeito da seleção de
94) e excelentes atacantes, já que
estes ficam muito isolados. Na
época, o Brasil tinha o melhor
atacante do mundo (Romário) e
outro excepcional (Bebeto).
Penso que o esquema de 94, que
diminuía os espaços em sua defesa, tomava a bola no meio-campo
e contra-atacava (a seleção de 70,
como afirmou Parreira, também
jogou assim), ainda é uma ótima
postura, mas não é a única solução para as melhores equipes.
Os times deveriam alternar essa
filosofia de recuar e contra-atacar, com a de pressionar no campo adversário. Poucas equipes no
país utilizam essa maneira de jogar com eficiência. Quando se toma a bola fica-se próximo ao outro gol e pode-se aproveitar da desorganização da defesa rival. Outra vantagem é dificultar a saída e
toque de bola da outra equipe para o ataque. Corre-se o risco pelos
espaços deixados na defesa e pelo
desgaste físico, mas vale a pena.
Não concordo com algumas
idéias do Parreira, mas respeito e
aprendo com elas. Ele é um verdadeiro professor, como os atletas
gostam de chamar seus técnicos.
Tostão escreve às quartas e aos domingos
Texto Anterior: Edmundo é liberado para jogar amanhã Próximo Texto: Agenda Índice
|