São Paulo, sábado, 05 de fevereiro de 2005

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BOXE

Alemão Max Schmeling, 1º europeu campeão dos pesados, tinha 99 anos

Morre o maior símbolo do nazismo nos esportes

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O alemão Max Schmeling, 99, ex-campeão mundial dos pesos-pesados e o atleta cuja imagem mais ficou identificada com o regime nazista, foi enterrado ontem em Hollenstedt, na Alemanha.
Ele havia ficado gripado durante os festejos de Natal, não se recuperou e entrou em coma.
Apesar de ter combatido durante a Segunda Guerra Mundial com o exército de seu país e de fotos suas tomando chá com Adolf Hitler terem sido divulgadas, posteriormente em todas oportunidades que teve Schmeling fez questão de afirmar e repetir que nunca fora adepto do nazismo.
Schmeling foi o primeiro europeu -e único alemão- a conquistar o mundial dos pesados ao derrotar Jack Sharkey em Nova York em 12 de junho de 1930. Fez uma defesa bem-sucedida do título e o perdeu para Sharkey.
Em junho 1936, Schmeling, azarão, surpreendeu ao tirar a invencibilidade de um jovem Joe Louis, que alguns acreditam ser o maior campeão dos pesados da história.
Mas foi a promoção em torno da revanche entre Schmeling e Louis, em 22 de junho, que ligou permanentemente a imagem do pugilista ao regime nazista.
Embora Schmeling fosse inicialmente popular nos EUA, isso não impediu que o alemão fosse descrito pela imprensa dos EUA e da Alemanha como um nazista.
Antes do combate, o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt convocou Louis à Casa Branca para discutir a importância de sua vitória para o país.
A vitória de Louis foi festejada de forma exultante nas ruas dos EUA, particularmente no bairro do Harlem, em Nova York. Os alemães entraram em choque.
A empregada de Schmeling recusou-se a informar imediatamente a mulher do lutador, a atriz Anny Ondra, do resultado da luta.
E Hitler fez uma ligação para Schmeling para tranquilizá-lo. ""Não se preocupe com nada."
Porém o ditador não cumpriu o prometido. Depois da eclosão da guerra, enviou o pugilista para servir com uma equipe de pára-quedistas em uma região com índice de mortalidade muito alto.
Os defensores de Schmeling apresentam diversos argumentos para demonstrar que o ex-campeão jamais fora adepto do nazismo, apesar de ter tido longas reuniões com Joseph Goebbels, ideólogo da propaganda nazista.
O primeiro é o fato de seu manager nos EUA, Joe Jacobs, ser judeu, e também sua recusa em se filiar ao partido nazista em 1935.
Schmeling também teria obtido de Hitler promessa durante os Jogos Olímpicos da Alemanha-36 de que nenhum atleta norte-americano correria risco de morte.
""Olhando para trás, fico quase feliz por ter perdido aquela luta", Schmeling afirmou em 1975. ""Imagine o que teria acontecido se tivesse retornado à Alemanha com uma vitória. Eu não tinha nada a ver com os nazistas, mas eles teriam me condecorado e depois da guerra poderia ser caçado como um criminoso de guerra."
Ironicamente, depois da guerra, Schmeling ficou milionário ao se tornar representante na Alemanha de um produtos mais representativos da cultura norte-americana, a Coca-Cola.


Com agências internacionais

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