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FUTEBOL
Últimas palavras
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
"A última impressão é a
que fica."
A frase acima poderia ser o slogan de uma casa funerária. Mas é
mais que isso. É uma verdade incontestável.
Deixar uma boa impressão final é uma arte, um privilégio de
grandes homens. Ela pode vir de
vários jeitos. Por exemplo, com
uma bela frase à beira da morte.
Goethe ficou célebre por pedir
"Mais luz!" antes de fechar os
olhos para sempre, e Jesus fez um
sábio resumo da humanidade
quando disse "Perdoai-os, senhor,
eles não sabem o que fazem".
Mas isso é coisa para grandes
homens. Nós, da ralé, geralmente
nos despedimos da vida dizendo
coisas como "Atira se for homem!", "Que caminhão?", "Tem
certeza que seu marido não vai
chegar?", "Fica tranqüila, hic, eu
dirijo melhor quando bebo", "Estou com uma dorzinha do lado
esquerdo do pei.." ou, então, apenas com um prosaico "Uh...".
Mas, no futebol, não há últimas
frases. Há jogos de despedida.
O maior exemplo desse adeus
foi Pelé. Aliás, ele despediu-se
quatro vezes. Duas pela seleção,
uma pelo Santos (a única vez que
o vi em campo, chuif...) e uma última pelo Cosmos.
Por outro lado, Garrincha e
Ademir da Guia, mesmo sendo
craques maravilhosos, tiveram
despedidas modestas, para não
dizer melancólicas.
De qualquer forma, não deve
ser fácil decidir parar de jogar bola. Desde pequeno o jogador faz
do futebol a sua principal diversão, e deixar os campos é mais ou
menos como enterrar de vez a infância. Isso sem dizer que a maioria dos jogadores não sabe fazer
outra coisa na vida. Poucos poderiam imitar Tostão e Afonsinho,
que se tornaram médicos.
Mas há que saber pôr o ponto final. Dondinho aconselhou Pelé a
parar antes que lhe pedissem para fazer isso. Ele obedeceu ao pai e
saiu deixando uma imagem vitoriosa (ainda por cima venceu seu
último torneio pelo Cosmos).
Já Garrincha não fez o mesmo, e
o resultado é que Romário já se
diz o segundo melhor jogador da
história do futebol brasileiro.
Falando em Romário, como será sua festa de despedida? Pelo
Vasco (time que o lançou), pelo
Flamengo (clube do seu coração)
ou pelo Fluminense (provável
equipe dos seus últimos dias)?
Eis aí um problema. Como hoje
em dia ninguém mais fica muito
tempo num só time, fica difícil fazer uma festa derradeira. Afinal,
só vai embora deixando saudades
aquele que um dia esteve presente, e presente de uma maneira tão
constante, fiel e regular que parecia que jamais iria partir.
Talvez os goleiros Rogério e
Marcos ainda consigam fazer belos jogos finais. Mas e grandes
atletas como Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Marcelinho e Edmundo, que vestiram várias camisas? Como diria minha avó,
"em velório que tem muita viúva,
nenhuma chora".
De minha parte, ando pensando seriamente no assunto e tento
achar quais seriam minhas palavras finais. Estou em dúvida entre
"Perdoai-me, senhor, eu não sei o
que fiz" e "Mais Fanta Uva!".
Botões
Falando em despedidas, acho
que foi no começo da década de
70 que os times de botão deixaram de vir com a carinha dos
jogadores e passaram a estampar os escudos dos times. Os fabricantes perceberam que não
poderiam competir com a velocidade do mercado futebolístico. Acho que a solução para os
tempos de hoje seria fazer rostos reaproveitáveis, assim como se faz com pulseiras de relógio e capas de celular. Desse
modo os garotos fariam as mudanças nos times de acordo
com o vai-e-vem dos atletas. Só
que os fabricantes teriam que
pagar direito de imagem aos jogadores. É, pensando bem,
acho que é o fim dos botões
com carinhas...
Contagem regressiva
Um... (é na próxima!)
E-mail torero@uol.com.br
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